Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nos EUA, educador é "domesticado"
DA EQUIPE DE TRAINEES
Dificilmente se encontrará no
Brasil um entusiasta do método
Paulo Freire como o pesquisador
norte-americano Peter McLaren,
52. Ele é professor da Faculdade
de Estudos da Educação e Informação da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e autor de
"Multiculturalismo Revolucionário - Pedagogia do Dissenso para
o Novo Milênio" (Ed. ArtMed).
No livro, ele discorre sobre a pedagogia como agente de transformação social e conta seus encontros com Freire no Brasil, onde esteve mais de 12 vezes.
Para McLaren, escolas norte-americanas estão aplicando Paulo
Freire, mas de maneira "domesticada", desfazendo o potencial político do método.
O professor acaba de lançar nos
EUA o livro "Guevara, Freire e a
Pedagogia da Revolução" (Ed.
Rowmann & Littlefield), no qual
reafirma a atualidade do método
do educador brasileiro. "Os trabalhos de Freire funcionam como
armas poderosas no esforço da libertação", diz McLaren na entrevista a seguir, feita por e-mail.
(LEONARDO WERNER SILVA)
Folha - Qual é hoje a importância
do método Paulo Freire?
Peter McLaren - Acredito que o
trabalho de Freire tem o potencial
de ser um desafio aos direitos de
propriedade privada e ao poder
do capital. Seu método permite
pensar as injustiças sociais relacionadas à educação. A pedagogia
radical está no centro de uma prática revolucionária transformadora.
Folha - O método pode sobreviver
sem seu elo com a práxis política?
McLaren - Sim. Nos Estados Unidos muitos educadores decapitaram a política do seu trabalho.
Eles usam o método para facilitar
a produção de momentos de uma
intersubjetividade crítica entre estudantes e professores. Frequentemente isso é feito sem atenção
suficiente para questões da política econômica e da exploração do
trabalho humano. Freire ficaria
muito triste com esse mal uso da
sua pedagogia.
Folha - O sr. conhece outros lugares do mundo onde haja pessoas
trabalhando com o conceito original da pedagogia de Freire?
McLaren - Já tive contato com
freireanos no México, Brasil, Argentina, Costa Rica, Taiwan, Austrália, Canadá e Finlândia.
Folha - Por que o sr. se interessou
pelo método Paulo Freire?
McLaren - Porque eu achei que
os trabalhos de Freire funcionam
como armas poderosas no esforço da libertação. A pedagogia freireana pode ajudar a construir o
conhecimento crítico necessário
para esmagar os opressores. A estrutura da sociedade está na estrutura da experiência.
Folha - Do que trata o seu livro?
McLaren - Meu livro apresenta o
trabalho de Ernesto Che Guevara,
que não é muito discutido na
América do Norte. Outra meta do
meu livro é reafirmar o trabalho
de Paulo Freire junto a liberais e
conservadores que tentariam domesticar seu lado político.
Texto Anterior: Paz vigora nas aulas da Febem Próximo Texto: A construção do futuro Índice
|