São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2001

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Nos EUA, educador é "domesticado"

DA EQUIPE DE TRAINEES

Dificilmente se encontrará no Brasil um entusiasta do método Paulo Freire como o pesquisador norte-americano Peter McLaren, 52. Ele é professor da Faculdade de Estudos da Educação e Informação da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e autor de "Multiculturalismo Revolucionário - Pedagogia do Dissenso para o Novo Milênio" (Ed. ArtMed).
No livro, ele discorre sobre a pedagogia como agente de transformação social e conta seus encontros com Freire no Brasil, onde esteve mais de 12 vezes.
Para McLaren, escolas norte-americanas estão aplicando Paulo Freire, mas de maneira "domesticada", desfazendo o potencial político do método.
O professor acaba de lançar nos EUA o livro "Guevara, Freire e a Pedagogia da Revolução" (Ed. Rowmann & Littlefield), no qual reafirma a atualidade do método do educador brasileiro. "Os trabalhos de Freire funcionam como armas poderosas no esforço da libertação", diz McLaren na entrevista a seguir, feita por e-mail.
(LEONARDO WERNER SILVA)

Folha - Qual é hoje a importância do método Paulo Freire?
Peter McLaren -
Acredito que o trabalho de Freire tem o potencial de ser um desafio aos direitos de propriedade privada e ao poder do capital. Seu método permite pensar as injustiças sociais relacionadas à educação. A pedagogia radical está no centro de uma prática revolucionária transformadora.

Folha - O método pode sobreviver sem seu elo com a práxis política?
McLaren -
Sim. Nos Estados Unidos muitos educadores decapitaram a política do seu trabalho. Eles usam o método para facilitar a produção de momentos de uma intersubjetividade crítica entre estudantes e professores. Frequentemente isso é feito sem atenção suficiente para questões da política econômica e da exploração do trabalho humano. Freire ficaria muito triste com esse mal uso da sua pedagogia.

Folha - O sr. conhece outros lugares do mundo onde haja pessoas trabalhando com o conceito original da pedagogia de Freire?
McLaren -
Já tive contato com freireanos no México, Brasil, Argentina, Costa Rica, Taiwan, Austrália, Canadá e Finlândia.

Folha - Por que o sr. se interessou pelo método Paulo Freire?
McLaren -
Porque eu achei que os trabalhos de Freire funcionam como armas poderosas no esforço da libertação. A pedagogia freireana pode ajudar a construir o conhecimento crítico necessário para esmagar os opressores. A estrutura da sociedade está na estrutura da experiência.

Folha - Do que trata o seu livro?
McLaren -
Meu livro apresenta o trabalho de Ernesto Che Guevara, que não é muito discutido na América do Norte. Outra meta do meu livro é reafirmar o trabalho de Paulo Freire junto a liberais e conservadores que tentariam domesticar seu lado político.

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