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ANÁLISE
Terceira pista deverá provocar grande instabilidade operacional
SERGIO EJZENBERG
ESPECIAL PARA A FOLHA
As obras na marginal do rio
Tietê estão sendo concluídas,
com a construção de uma nova
pista central, ladeada por canteiros arborizados dotados de
defensas metálicas.
As seguintes dúvidas foram
sepultadas pelos tratores. Qual
o tempo necessário para saturar essa obra, que corresponde
a 10 km de metrô não construído (temos só 62 km)? Como a
redução da área verde, substituída por asfalto, afetará o microclima e a beleza da região?
A cidade ganhou mais uma
obra para veículos, e não para
pessoas.
Haverá ganho real para os
motoristas?
A maior parte dos motoristas
utiliza a marginal Tietê como
parte da viagem. Assim, não
adianta cronometrar "vantagens" num trecho momentaneamente desafogado, ignorando que se pode perder ainda
mais tempo adiante, quando
automóveis liberados aos borbotões travarem ainda mais os
corredores de trânsito já saturados. Por isso, deve-se medir o
tempo total de viagem. Que cada motorista faça sua avaliação.
Agora e daqui a um ano.
E uma eventual melhoria decorrerá da obra em si ou do desafogo trazido pelo Rodoanel?
Como se orientarão os motoristas?
As marginais Tietê e Pinheiros sempre operaram basicamente com duas pistas: a expressa, para os trajetos mais
longos, e a local, servindo para a
ligação com vias locais e com alças das pontes e viadutos.
A nova terceira pista central
se apresenta como obstáculo à
passagem entre as pistas expressa e local. Em vez dos anteriormente existentes dois tipos
de acesso (da pista local para a
expressa e vice-versa), agora
existirão quatro tipos possíveis
de acessos entre as três diferentes pistas, numa barafunda de
restrições.
A sinalização de orientação
deverá refletir essa dificuldade,
com superabundância de indicações nas placas, sem espaço
para colocação de pórticos com
a devida antecedência, pois logo atrás existirá outra saída. O
motorista poderá ser forçado a
se deslocar para a pista local
muito antes do efetivo local de
saída, agravando sua saturação
e entrelaçamentos, hoje acirradas batalhas campais.
Como será a operação do
trânsito com três pistas?
Operacionalmente, as três
pistas da marginal Tietê, em geral deixadas com duas ou três
faixas de rolamento, serão fortemente afetadas no caso de
acidentes de trânsito ou quebra
de veículos, devido à grande redução de capacidade da pista
afetada, podendo, inclusive, ser
facilmente ser bloqueadas -diferentemente do que ocorreria
se tivessem sido mantidas apenas duas pistas, uma delas com
cinco ou mais faixas, que seria
afetada em apenas 20% da capacidade se um faixa ficasse
bloqueada. É restrita a possibilidade de escapar para as pistas
laterais afetadas e vazias e difícil a chegada de guinchos.
Considerando também os
naturalmente diferentes níveis
de ocupação de cada pista (tal
como ocorre hoje entre pista
local e expressa), prejudicando
a utilização equilibrada da capacidade disponível, as três pistas trarão grande instabilidade
operacional, com indesejáveis
manobras de mudança de pista.
Por que não manter o padrão
conhecido e bem resolvido de
pista expressa/pista local? A
existência de pilares de viadutos, adequadamente sinalizados e contornados nas pistas
das marginais Pinheiros e Tietê, mostram hoje que era possível alargar a marginal mantendo apenas duas pistas.
SERGIO EJZENBERG, engenheiro e mestre em
transportes pela Escola Politécnica-USP, é consultor em trânsito e perito em acidentes viários
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