São Paulo, sábado, 27 de abril de 2002

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AMBIENTE

Plantas modificadas crescem rápido nos lixões

Natureza pode retornar a aterros de lixo desativados, afirma estudo

DA SUCURSAL DO RIO

DA REPORTAGEM LOCAL

Um aterro sanitário pode, sim, virar uma área de lazer e esportes ou um parque com árvores de grande porte. Tudo isso sem trazer riscos ao ambiente ou à saúde humana. Também é possível cultivar plantas alimentícias em áreas onde se depositava lixo.
Essas são algumas conclusões de uma dissertação de mestrado defendida na Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ).
O estudo, de autoria do engenheiro agrônomo Júlio César da Matta, foi desenvolvido com base em uma experiência realizada no antigo aterro sanitário de Santo Amaro (zona sul), fechado em 95.
Em seus 19 anos de existência, o aterro acumulou mais de 16,2 milhões de toneladas de lixo, formando um monte de 115 metros de altura em um terreno de 300 mil metros quadrados.
Nesse ambiente aparentemente inóspito, foram plantadas cerca de 2.400 mudas de 24 espécies -parte delas nativas da mata atlântica originária da região.
Para aumentar as chances de sobrevivência dos vegetais, microorganismos (bactérias e fungos) foram inoculados nas mudas. Cerca de 80% delas germinaram normalmente.
Os metais pesados (chumbo, zinco, cromo, cádmio, selênio e outros) contidos no chorume -líquido tóxico que escorre do lixo acumulado- não foram absorvidos pelas raízes das plantas em quantidades significativas. Alguns desses metais podem causar câncer e doenças neurológicas.
Com o crescimento da vegetação experimental em Santo Amaro, novos moradores surgiram no aterro, como cobras, gaviões, sabiás, preás e lagartos.
Aplicações práticas do experimento podem surgir em breve. Segundo o engenheiro da Enterpa (empresa terceirizada para administrar o aterro) Denis Augusto Afonso, a companhia deve aplicar os resultados da pesquisa em outros depósitos em manutenção.

Parques nos aterros
Na capital paulista, uma lei determina que todos os aterros sejam transformados em parques a partir de 5 a 10 anos após a desativação do local. Depois disso, a responsabilidade passa à Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Esse período entre o fim do aterro e o surgimento de espaços verdes é chamado de "tempo de manutenção". Nele, o Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) drena as substâncias tóxicas provenientes dos detritos.
A drenagem é realizada através de valas que escoam o chorume e de tubos verticais enterrados no chão para liberar os gases.
O tratamento do chorume é a principal dificuldade da prefeitura nos aterros. Sem dispor de tecnologia eficaz pra tratá-lo no local, a Secretaria de Serviços e Obras transporta o chorume a estações de tratamento da Sabesp, onde ele é diluído no esgoto.
Estima-se que o país produza cerca de 70 mil toneladas de lixo por dia. Segundo o IBGE, no Brasil inteiro cerca de dois terços dos resíduos recebem tratamento tido como adequado. (PEDRO SOARES E RENATO ESSENFELDER)

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