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BARBARA GANCIA
Pan com gastos de Olimpíada
O orçamento do Pan previa gastos na ordem de R$ 135 milhões. Já foram consumidos mais de R$ 4 bilhões
SEMPRE FUI contrária à realização do Pan do Rio, mas nunca
deixei de torcer para que os jogos fossem um sucesso, que recordes
fossem quebrados durante o evento
e que atletas e turistas voltassem para casa maravilhados.
A 78 dias do início do evento, porém, está difícil manter a torcida. São
tamanhos os atrasos e é tão imenso o
rombo, que a única coisa a fazer agora é exigir explicações.
Na quarta, Pelé afirmou que o que
está ocorrendo no Rio irá afetar a
candidatura do Brasil para a Copa.
"É um cartão de visitas ruim", disse
ele. O nobre leitor pode ser daqueles
que comungam com Romário, que
acha que "Pelé, calado, é um poeta",
mas, desta vez, só com muita criatividade irá discordar do rei.
Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê organizador dos Jogos,
não possui essa dose de inventividade. Se possuísse, não teria cometido
a barbaridade de declarar que é impossível fazer o orçamento de um
evento dessa magnitude. Como assim? Só não pode oferecer um orçamento quem não fez a lição de casa,
quem apostou em dinheiro da iniciativa privada que não entrou ou quem
contava com respaldo federal.
Há quem diga que o Pan-Americano são os Jogos do Interior falados
em espanhol e que, em vez do Rio, ele
deveria ter como sede alguma cidade
do porte de Cuiabá. Quem diz isso
alega que não é à toa que o Pan sempre tenha ocorrido em cidades menores, como Winnipeg, no Canadá, e
não em grandes centros como Nova
York ou Los Angeles. Como podem,
então, os jogos do Rio (recuso-me a
usar o termo "Pan do Brasil". O rombo é do Brasil, mas a responsabilidade é do Rio) consumir quantias dignas de Olimpíadas? É bom lembrar
que o orçamento original do Pan
previa gastos na ordem de R$ 135 milhões, e que já foram consumidos
mais de R$ 4 bilhões.
Na semana passada, Juca Kfouri
publicou em seu blog a carta aberta
de Homero Blota, professor de Educação Física de escolas públicas do
Rio. Embora o texto não seja um primor literário, seu conteúdo causa
frio na espinha. O senhor Blota começa dizendo que o dinheiro usado
em duas candidaturas olímpicas
"malogradas" no Rio, e outra "fantasmagórica" em Brasília, poderia
ter sido empregado em infra-estrutura para os menos favorecidos.
Depois, ele acusa o dossiê apresentado para o Pan do Rio de "megalomaníaco", dizendo que obras que nele constavam como hospitais, linhas
de metrô, de despoluição da baía da
Guanabara e de alargamento de avenidas nunca saíram do papel.
Em seguida, o professor faz uma
denúncia que o tempo irá provar
certa ou errada. Diz ele textualmente ao senhor Nuzman: "Vocês estão
usando o Pan para tirar do papel coisas que há muito tempo se pretendiam no Rio de Janeiro e não se faziam por serem ilegais. Cito alguns
exemplos: é um projeto antigo de
grupos privados construir um shopping na Lagoa, onde será a raia de remo. Entregar o Rio Centro para a
iniciativa privada também é um projeto antigo que interessa a grupos
privados. Ora, eu pergunto: para que
reformar a Marina da Glória, que é
tombada pelo Iphan, se ela abriga
um Pan-Americano como está?"
Cavalheiro que é, tenho certeza de
que o senhor Nuzman tem respostas para todas as indagações do senhor Blota. Com a palavra, Carlos
Arthur Nuzman.
barbara@uol.com.br
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