São Paulo, segunda, 27 de abril de 1998

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SAÚDE
Segundo médicos, taxa de crescimento de doenças cardiovasculares será maior até 2020 em países em desenvolvimento
Doenças do coração crescem em países pobres


FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

A taxa de crescimento de doenças cardiovasculares será maior nos países pobres e com economias ditas em transição, como o Brasil, pelo menos até o ano 2020. Atualmente, 15 milhões de pessoas em todo o mundo morrem de doenças do coração por ano.
As doenças cardiovasculares crescerão até 20% nos países em desenvolvimento e 30% nos países pobres, como os da África.
Nos países ricos, que concentram hoje mais da metade das mortes por doenças do coração, o quadro tende à estabilidade, com queda no número de mortes.
Os dados foram apresentados ontem pelo presidente da Sociedade e Federação Internacional de Cardiologia, Antoni Bayés de Luna, no 13º Congresso Mundial de Cardiologia, no Riocentro (zona oeste).
Ele disse que as populações dos países pobres e em transição estão descobrindo os fatores de risco para o coração: obesidade, tabagismo e estresse.
Os países ricos já viveram o auge dos problemas cardiovasculares e conseguiram um controle mínimo das mortes graças a campanhas de prevenção dos fatores de risco e a avanços tecnológicos. Nos EUA, as mortes caíram 50% em 30 anos.
"Ainda que cerca de 500 mil pessoas em todo o mundo ganhem menos de US$ 1 por dia, é inegável que o poder aquisitivo está crescendo. Os países pobres estão descobrindo os sanduíches e fumando mais", disse.
Luna afirmou que as populações que sobreviveram a grandes épocas de fome têm um problema suplementar: seus organismos desenvolvem modificações genéticas para gastar o mínimo de energia.
Quando o organismo é exposto a uma alteração na rotina alimentar, tende à obesidade.
"Isso foi comprovado com negros e índios radicados nos EUA. Eles começam a engordar extraordinariamente e se tornam cardiopatas potenciais", disse.
Luna afirmou que os países pobres enfrentam também problemas em seus sistemas de saúde.
Segundo ele, Moçambique, na África, tem apenas dois cardiologistas e 15 milhões de habitantes.
Especialista em morte súbita provocada por problemas cardiovasculares, Luna disse que, quando alguém sentir qualquer dor no peito, deve engolir uma aspirina e ir direto ao hospital. Das pessoas que sofrem infarto, 50% morrem antes de receber socorro.
A aspirina -que contém ácido acetilsalicílico, bom para evitar ou dissolver coágulos- tem efeitos confirmados por recentes estudos na prevenção de infartos.
O especialista condenou o álcool, as drogas e o cigarro como fatores de risco. Fez uma exceção ao vinho, que, em doses pequenas, evita o acúmulo de colesterol.



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