São Paulo, domingo, 27 de maio de 2001

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TRÂNSITO

Para companhia, objetivo é conscientizar empreendedor de que congestionamentos podem inviabilizar negócio

Convencer empresário é nova tática da CET

ROBERTO PELLIM
DA REDAÇÃO

Diálogo com empresários, mudanças na lei, ação integrada com outros órgãos da prefeitura.
Essas são as estratégias da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) para minimizar os impactos de novos empreendimentos de grande porte no trânsito.
O objetivo é fazer com que seja cumprida a Certidão de Diretrizes, emitida pela CET, que indica obras de melhoria no sistema viário que devem ser executadas por quem constrói o empreendimento -chamado de pólo gerador.
Shoppings, escolas e universidades, prédios de escritório e comerciais e supermercados são os principais pólos geradores.
A definição é simples: exigem pelo menos 80 vagas de estacionamento nas áreas especiais de tráfego (AETs), boa parte delas no centro expandido.
Hoje, existem mil projetos de pólos geradores analisados e outros 170 em estudo. A contagem começou em 1989 -média de 106 novos projetos por ano.
Segundo a superintendente de gerenciamento da CET, Silvana Zioni, as medidas visam a dinamizar o uso das vias. Sem melhorias no sistema viário na região de um pólo gerador, diz ela, o trânsito fica caótico, atrapalhando até mesmo o sucesso do negócio.
"Eles [empresários" precisam reduzir o impacto negativo sobre a cidade. É uma forma de viabilizar o negócio", diz o presidente da CET, Francisco Macena.
Segundo Macena, a companhia quer discutir o impacto dos pólos geradores e obter um retorno para a cidade. "Sem uma contrapartida, o pólo acaba sucateando uma infra-estrutura instalada, que é de uma comunidade."
"O poder público tem por obrigação disciplinar o uso do solo, dar as diretrizes de ocupação e apontar que tipo de investimento é interessante para cada região", diz Macena. "Não se pode deixar só o poder econômico determinar a ocupação da cidade."
Essa mudança de postura depende de uma análise conjunta dos pólos geradores. Silvana cita o exemplo da avenida Luís Carlos Berrini, na zona sul. "Você tem uma concentração de estabelecimentos comerciais na região da Berrini, e há oito projetos sendo analisados para a área. Se eles forem inaugurados sem as melhorias necessárias, será inviabilizado o acesso à avenida."
Ela critica a concentração de uma atividade em uma região. "Isso deve ser combatido. Cria um tráfego localizado."

Rumo ao sudoeste
Silvana Zioni aponta um deslocamento das atividades terciárias em um eixo sudoeste: centro, avenida Paulista, avenida Brigadeiro Faria Lima e Berrini. "O capital procura uma região com infra-estrutura", afirma Macena.
Além desse movimento, Silvana vê uma outra tendência: a implantação de grandes estruturas, como shoppings, hipermercados, universidades etc. "Surge uma demanda inexistente em uma região que não tem infra-estrutura para atendê-la. É um desequilíbrio muito mais intenso."
Para resolver o problema, a CET quer mudar leis. As propostas estão em discussão, mas devem se voltar para a Lei de Uso e Ocupação do Solo, a Lei de Zoneamento e o Código de Obras da capital.
Adriana Rolim de Camargo, gerente de desenvolvimento e estudos especiais da companhia, afirma que as propostas ainda estão sendo discutidas com outros órgãos da prefeitura. Mas já está havendo a análise conjunta de novos pólos, diz Adriana. "Na região da Faria Lima, por exemplo, isso está acontecendo. Há vantagens para os empresários: os custos das melhorias serão divididos. Normalmente, o primeiro é que acaba sendo mais penalizado."
Mas, para o urbanista Alberto Botti, ação integrada com órgãos municipais e análise conjunta não vão resolver o problema do tráfego em São Paulo. "Sem uma mudança substancial na Lei de Uso e Ocupação do Solo, não adianta. Se forem mudanças pontuais, é preferível deixar a situação dos pólos geradores como está."
Segundo Silvana, é preciso haver um sistema de transporte integrado e eficiente. "Essa rede conectaria os subcentros dos bairros. Os subcentros não serão autônomos, serão ligados ao principal pólo, o centro da cidade."
Botti contesta. "É preciso criar condições para o morador não sair de seu bairro." Já Adriana defende o investimento em transporte coletivo.



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