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EDUCAÇÃO
Ensino superior registra crescimento de 76,2%; participação dos 10% mais ricos sobe de 45,6%, em 92, para 48%, em 99
Vagas não trazem pobres à universidade
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O sonho do brasileiro da camada mais pobre da população de
chegar à universidade continuava
tão distante no final da década de
90 quanto era no início dela. O período foi marcado por uma forte
expansão da oferta de vagas, mas
não o suficiente para aumentar a
participação dos 50% mais pobres da população ou diminuir a
dos 10% mais ricos.
Dados tabulados com base nas
Pnads (Pesquisas Nacionais por
Amostra de Domicílio) do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), pelo sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente
da instituição, mostram que ocorreu até uma pequena tendência
de elitização do ensino superior.
Em 1992, os estudantes que pertenciam ao estrato dos 10% mais
ricos da população representavam 45,6% do número de alunos
matriculados no ensino superior.
Em 1999, essa porcentagem aumentou para 48%.
Já a presença dos 50% mais pobres nesse nível de ensino diminuiu durante esse período. Em
1992, eles representavam 8,5%.
Em 1999, eram 6,9%.
Quando se avalia a presença dos
20% mais ricos e dos 20% mais
pobres, a elitização fica ainda
mais evidente. Os 20% mais ricos
aumentaram sua participação de
67,1% para 70,7%; os 20% mais
pobres caíram de 1,3% para 0,9%.
Aumento de vagas
O fenômeno aconteceu no mesmo período em que o número de
estudantes no nível superior teve
aumento de 76,2%, passando de
1,433 milhão para 2,525 milhões.
Na avaliação do sociólogo Simon Schwartzman, os dados
mostram que, apesar da expansão, a composição social dos estudantes não se diversificou.
A única tendência de democratização visível nos números é a de
diminuição de brancos, que eram
80,1%, em 92, e passaram a ser
78,9%, em 99. "O aumento da matrícula significou a intensificação
do acesso dos estratos mais altos
ao ensino superior, que não era
muito grande. Para as camadas
sociais mais pobres, não mudou
muita coisa", diz o sociólogo.
Ou seja, o ensino superior no
Brasil, no começo da década de
90, era tão insuficiente para atender à demanda que nem a parcela
mais rica da população tinha pleno acesso. De acordo com a Pnad
de 1999, para ser considerado
"10% mais rico da população"
bastava um brasileiro ter renda
média mensal domiciliar de R$
4.090 no ano da pesquisa.
Para a secretária-executiva do
Ministério da Educação, Maria
Helena Castro, esses dados mostram que o ensino superior brasileiro precisa continuar se expandindo. "Esse resultado era esperado. Se a taxa líquida de escolarização no ensino superior é de apenas 7,5% da população, é normal
que só agora os 10% mais ricos estejam entrando totalmente no sistema", afirmou Maria Helena.
De acordo com a secretária-executiva, as próximas pesquisas do
IBGE relacionadas ao tema -como a tabulação avançada do Censo 2000 e a Pnad de 2001- devem
começar a demonstrar uma alteração nesse quadro por causa da
expansão do sistema e do aumento da oferta de cursos superiores
de curta duração, como os cursos
sequenciais.
O presidente do Conselho de
Reitores das Universidades Brasileiras, Paulo Alcântara Gomes,
afirma que ocorreram avanços na
democratização do ensino a partir da segunda metade da década
de 90. Na opinião de Gomes, o
problema está no fato de a expansão do ensino médio não estar
sendo acompanhada pela oferta
de vagas no nível superior.
"Há uma demanda de candidatos muito maior do que a oferta de
vagas hoje. A expansão do ensino
médio beneficiou as pessoas menos favorecidas, mas essas não
têm condições de pagar um curso
de uma universidade particular",
diz Paulo Alcântara Gomes.
Meta pessoal
Foi por causa dessa demanda
não atendida a que o presidente
do conselho de reitores se refere
que Jenice Martins da Silva, 20,
ainda não conseguiu uma vaga no
curso de história de uma universidade pública. Jenice persegue essa
meta desde 2000.
No primeiro ano, ela conta que
conseguiu passar no vestibular de
uma universidade particular, mas
não chegou a cursar o primeiro
ano por falta de condições financeiras para pagar a mensalidade.
Neste ano, ela tentará conciliar o
trabalho com os estudos. "Para
quem não pode viver a realidade
de apenas estudar para o vestibular, fica mais difícil passar para
uma universidade pública", diz.
Ela conta que, de sua turma em
uma escola estadual, foram poucos os que conseguiram obter
uma vaga no ensino superior público. "Do pessoal mais próximo a
mim, ninguém conseguiu entrar", afirma Jenice, que mora
com os pais e seis irmãos em Carapicuíba (município da região
metropolitana de São Paulo).
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