São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2005

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SÃO PAULO SUBMERSA

Na avenida do Estado, moradores reclamaram de falta de atenção da prefeitura; feriado foi de faxina

Vítimas da chuva fazem mutirão de limpeza

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após o caos provocado pela chuva na cidade de São Paulo, as famílias atingidas pela enchente passaram o feriado de Corpus Christi lavando móveis, utensílios domésticos e recolhendo a sujeira da rua.
Na avenida do Estado (região central), uma das mais prejudicadas por conta do transbordamento do rio Tamanduateí, moradores fizeram mutirão de limpeza para tirar a sujeira e os destroços da rua e reclamaram que a prefeitura não mandou ninguém para limpar o local.
O comerciante José Manuel Pinto, 51, que mora em um sobrado na região, passou o dia inteiro de ontem ajudando os vizinhos a retirar a lama que ficou acumulada na calçada. "Até agora a prefeitura não veio aqui limpar. A gente só paga imposto e quando precisa não tem retorno nenhum", reclamou o morador.
Pinto afirmou que a força da água do rio derrubou a porta da sua garagem, atingiu mais de um metro de altura e praticamente cobriu o seu automóvel, que não tinha seguro. "A água chegou até o volante do carro. Só para recuperar o motor, vou gastar uns R$ 1.800", disse.
A dona-de-casa Neide Barbosa, 75, e seu filho Roney Albert Barbosa, 40, passaram a madrugada de quarta-feira acordados acompanhando a chuva que atingia a região e a água que entrava em sua casa. Ontem, eles também passaram o dia fazendo faxina. Pagaram ainda uma quantia de R$ 20 para que um caminhão particular recolhesse a sujeira.
"O descaso da prefeitura com os moradores daqui é muito grande. Nós já pedimos isenção do IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] e não conseguimos. E até agora ninguém apareceu para limpar aqui", disse Roney.
De acordo com ele, o rio Tamanduateí começou a transbordar por volta da 1h da madrugada. Às 2h30, a água já tinha tomado todas as casas da região da avenida do Estado. "Hoje [ontem] liguei quatros vezes para a subprefeitura, mas eles dizem apenas que o pedido está anotado", afirmou Roney.
O comerciante Altibano Moreno, 60, também teve prejuízos depois da chuva de terça-feira. Ele reclama que foi obrigado a pagar pela limpeza da rua.

Móveis perdidos
Moreno diz ter perdido um sofá, uma geladeira, um fogão e uma máquina de lavar roupas. Os móveis e eletrodomésticos estavam guardados na garagem de sua casa. "Foi tudo para o lixo. Não deu para recuperar nada", disse.
Na casa da empregada doméstica Eliana Maria Braz, 46, o drama também foi grande. Durante a madrugada de quarta-feira, ao perceber que a água estava invadindo a sala da casa, ela acordou seu marido, os filhos e os cunhados para tentar salvar os móveis e os alimentos.
"Coloquei o fogão e a geladeira em cima da mesa, o sofá em cima das cadeiras e retirei os alimentos do armário. Em poucos minutos a água invadiu tudo", contou.
Ontem, ela e a cunhada passaram o dia lavando os móveis. As cadeiras estavam na calçada para tomar sol. "Perdi alguns objetos e precisei tirar o fundo do sofá porque entrou água. A limpeza da rua nós estamos fazendo por conta própria", relatou a moradora.
A Subprefeitura da Sé, responsável pela região da avenida do Estado, informou que 20 caminhões estão percorrendo os principais trechos com problemas para fazer a limpeza. A avenida era um dos pontos em que os fiscais passariam ainda ontem.

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