São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2001

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AIDS

Documento com menção a homossexuais provoca reação de países árabes

Islâmicos impedem consenso na ONU

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Corre risco de não sair o plano de ação global anti-Aids, que a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciaria hoje, no final da inédita sessão especial da Assembléia Geral sobre HIV/Aids -Crise Global, Ação Global.
O problema aparentemente cosmético, mas que dominou o plenário até agora, é a cláusula que define homossexuais, prostituas e usuários de drogas injetáveis como grupos de risco que merecem uma atenção especial na prevenção da doença.
O documento, aprovado pela maioria dos países e por todas as agências da ONU ligadas à saúde, está sendo contestado pela Liga dos Países Árabes e por outras nações islâmicas, que acham que a ação vai legitimar homossexuais e prostitutas, cuja prática é proibida por lei naqueles Estados.
Do lado liberal está a maioria dos países, entre eles quase a totalidade dos africanos e parceiros importantes na luta contra a Aids como os EUA e o Brasil. Anteontem, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, afirmou que a "essa guerra não pode ser ganha com preconceito".
O ministro da Saúde brasileiro, José Serra, afirmou que não fazia sentido colocar todas as conquistas importantes em risco por essa discussão: "Não podemos assinar um documento que diz que homossexualismo é pecado".
Com ele concorda o secretário-geral Kofi Annan. Em seu discurso de abertura, o africano declarou que os países não podem lidar com a doença fazendo "julgamentos morais ou estigmatizando os infectados, fazendo parecer que a culpa é deles".
Lideram a oposição ao documento as representações do Egito, Sudão, Paquistão, Malásia, Líbia, Síria e Irã. Além de vetar a cláusula do documento, os enviados dos sete países tentam minar a participação liberal no evento.
Ontem, por exemplo, usaram filigranas de procedimento para impedir que Karyn Kaplan, diretora da Associação Internacional dos Direitos Humanos de Gays e Lésbicas, falasse no plenário. Depois de quatro horas de discussão, o discurso foi suspenso.
"Não há discussão entre os islâmicos de que os homossexuais e as prostitutas fazem parte do grupo de risco", disse Mark Malloch Brown, da Unaids, agência da ONU responsável pela prevenção e tratamento da doença. "O problema é que eles acreditam que os contaminados desses grupos são os únicos culpados por estarem doentes e que uma interferência oficial do Estado referendaria esse tipo de comportamento", conclui.
Liderando a reação aos islâmicos, estão as representações do Canadá e da Noruega, que articulam a manutenção do artigo polêmico no documento. Cerca de 3 mil representantes de 180 países participam do encontro.


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