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AIDS
Documento com menção a homossexuais provoca reação de países árabes
Islâmicos impedem consenso na ONU
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Corre risco de não sair o plano
de ação global anti-Aids, que a
Organização das Nações Unidas
(ONU) anunciaria hoje, no final
da inédita sessão especial da Assembléia Geral sobre HIV/Aids
-Crise Global, Ação Global.
O problema aparentemente
cosmético, mas que dominou o
plenário até agora, é a cláusula
que define homossexuais, prostituas e usuários de drogas injetáveis como grupos de risco que
merecem uma atenção especial
na prevenção da doença.
O documento, aprovado pela
maioria dos países e por todas as
agências da ONU ligadas à saúde,
está sendo contestado pela Liga
dos Países Árabes e por outras nações islâmicas, que acham que a
ação vai legitimar homossexuais e
prostitutas, cuja prática é proibida por lei naqueles Estados.
Do lado liberal está a maioria
dos países, entre eles quase a totalidade dos africanos e parceiros
importantes na luta contra a Aids
como os EUA e o Brasil. Anteontem, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, afirmou
que a "essa guerra não pode ser
ganha com preconceito".
O ministro da Saúde brasileiro,
José Serra, afirmou que não fazia
sentido colocar todas as conquistas importantes em risco por essa
discussão: "Não podemos assinar
um documento que diz que homossexualismo é pecado".
Com ele concorda o secretário-geral Kofi Annan. Em seu discurso de abertura, o africano declarou que os países não podem lidar
com a doença fazendo "julgamentos morais ou estigmatizando os infectados, fazendo parecer
que a culpa é deles".
Lideram a oposição ao documento as representações do Egito,
Sudão, Paquistão, Malásia, Líbia,
Síria e Irã. Além de vetar a cláusula do documento, os enviados dos
sete países tentam minar a participação liberal no evento.
Ontem, por exemplo, usaram filigranas de procedimento para
impedir que Karyn Kaplan, diretora da Associação Internacional
dos Direitos Humanos de Gays e
Lésbicas, falasse no plenário. Depois de quatro horas de discussão,
o discurso foi suspenso.
"Não há discussão entre os islâmicos de que os homossexuais e
as prostitutas fazem parte do grupo de risco", disse Mark Malloch
Brown, da Unaids, agência da
ONU responsável pela prevenção
e tratamento da doença. "O problema é que eles acreditam que os
contaminados desses grupos são
os únicos culpados por estarem
doentes e que uma interferência
oficial do Estado referendaria esse
tipo de comportamento", conclui.
Liderando a reação aos islâmicos, estão as representações do
Canadá e da Noruega, que articulam a manutenção do artigo polêmico no documento. Cerca de 3
mil representantes de 180 países
participam do encontro.
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