São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2007

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FAB corta tempo de treino de controlador

Portaria do Comando da Aeronáutica diminui de 95 para 45 horas o tempo necessário para treinar novo profissional

Objetivo da mudança é acelerar o ingresso de novos controladores de tráfego aéreo; categoria diz que há risco em "curso relâmpago"

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Comando da Aeronáutica baixou uma portaria na última sexta-feira reduzindo pela metade o tempo de treinamento exigido para o ingresso dos novos controladores de tráfego aéreo na função. A medida foi tomada para acelerar a substituição dos atuais operadores pelos militares que atuam na defesa aérea.
A Folha teve acesso à portaria na qual a carga horária passa a ser de 45 horas. Antes disso, segundo os controladores, o treinamento era de 95 horas -regra da FAB que vigorou nos últimos 13 anos.
Para assumir o serviço de controle do tráfego aéreo, os militares que atuam na defesa aérea precisariam fazer, além do treinamento, um curso de um mês no Cindacta (centro de controle aéreo) e mais 11 semanas de curso em São José dos Campos (SP). Mas, segundo controladores, os que assumiram na última sexta não cumpriram essas obrigações.
Conforme um controlador, o curso foi interrompido quando o governo decidiu, na sexta, enviá-los ao Cindacta-1.
Os controladores dizem que o "curso relâmpago" de 45 horas é arriscado porque significa colocar em atividade um profissional com menos preparo.
A portaria, de 22 de junho, é assinada pelo brigadeiro José Roberto Machado e Silva, chefe do subdepartamento de operações do DCEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo).
Fontes da Aeronáutica admitiram que a medida foi tomada com o objetivo de acelerar a formação dos controladores da defesa aérea que foram deslocados para o Cindacta-1, em Brasília, e possibilitar ao governo a substituição de 14 controladores punidos por insubordinação na última semana.
Oficialmente, a FAB nega que a medida seja arriscada e informa que todos estão capacitados. Diz ainda que os novos operadores estão sendo treinados por pessoas experientes, o que compensaria a diminuição no tempo de formação.
Os controladores assistentes têm como função determinar mudanças de altitude de vôo aos pilotos. Entre os acusados pelo acidente com o avião da Gol, em setembro do ano passado, estão controladores assistentes. Todos os profissionais do centro de controle passam por essa fase antes de se tornarem controladores-radar.
Em reunião com as mulheres dos sargentos ontem, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, teria confirmado a redução no tempo de treinamento e dito que a medida foi necessária para permitir a transferência de profissionais da defesa aérea para os Cindactas.
"Eles estão diminuindo o problema de atrasos nos aeroportos à custa da diminuição da margem de segurança. Se o regulamento mandava treinar por 95 horas, é porque era necessário", disse a deputada Luciana Genro (PSOL-RS), da CPI do Apagão Aéreo.
A Folha conversou ontem com um dos controladores de defesa aérea que foi transferido para o Cindacta-1. Ele diz que não se sente preparado para virar assistente mesmo tendo cumprido 75 h de estágio, treinamento que dura dois meses.
Os controladores denunciam ainda que entre os colegas afastados pelo "plano emergencial do governo" estão profissionais experientes, com 20, 25 anos de profissão, e que seriam poucos os habilitados para treinar os novos controladores.
O PSOL decidiu interpelar o Comando da Aeronáutica para que responda sobre a habilitação dos "novos" controladores.


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