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FAB corta tempo de treino de controlador
Portaria do Comando da Aeronáutica diminui de 95 para 45 horas o tempo necessário para treinar novo profissional
Objetivo da mudança é acelerar o ingresso de novos controladores de tráfego aéreo; categoria diz que há risco em "curso relâmpago"
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Comando da Aeronáutica
baixou uma portaria na última
sexta-feira reduzindo pela metade o tempo de treinamento
exigido para o ingresso dos novos controladores de tráfego
aéreo na função. A medida foi
tomada para acelerar a substituição dos atuais operadores
pelos militares que atuam na
defesa aérea.
A Folha teve acesso à portaria na qual a carga horária passa a ser de 45 horas. Antes disso, segundo os controladores, o
treinamento era de 95 horas
-regra da FAB que vigorou nos
últimos 13 anos.
Para assumir o serviço de
controle do tráfego aéreo, os
militares que atuam na defesa
aérea precisariam fazer, além
do treinamento, um curso de
um mês no Cindacta (centro de
controle aéreo) e mais 11 semanas de curso em São José dos
Campos (SP). Mas, segundo
controladores, os que assumiram na última sexta não cumpriram essas obrigações.
Conforme um controlador, o
curso foi interrompido quando
o governo decidiu, na sexta, enviá-los ao Cindacta-1.
Os controladores dizem que
o "curso relâmpago" de 45 horas é arriscado porque significa
colocar em atividade um profissional com menos preparo.
A portaria, de 22 de junho, é
assinada pelo brigadeiro José
Roberto Machado e Silva, chefe
do subdepartamento de operações do DCEA (Departamento
de Controle do Espaço Aéreo).
Fontes da Aeronáutica admitiram que a medida foi tomada
com o objetivo de acelerar a
formação dos controladores da
defesa aérea que foram deslocados para o Cindacta-1, em
Brasília, e possibilitar ao governo a substituição de 14 controladores punidos por insubordinação na última semana.
Oficialmente, a FAB nega
que a medida seja arriscada e
informa que todos estão capacitados. Diz ainda que os novos
operadores estão sendo treinados por pessoas experientes, o
que compensaria a diminuição
no tempo de formação.
Os controladores assistentes
têm como função determinar
mudanças de altitude de vôo
aos pilotos. Entre os acusados
pelo acidente com o avião da
Gol, em setembro do ano passado, estão controladores assistentes. Todos os profissionais do centro de controle passam por essa fase antes de se
tornarem controladores-radar.
Em reunião com as mulheres
dos sargentos ontem, o comandante da Aeronáutica, Juniti
Saito, teria confirmado a redução no tempo de treinamento e
dito que a medida foi necessária para permitir a transferência de profissionais da defesa
aérea para os Cindactas.
"Eles estão diminuindo o
problema de atrasos nos aeroportos à custa da diminuição
da margem de segurança. Se o
regulamento mandava treinar
por 95 horas, é porque era necessário", disse a deputada Luciana Genro (PSOL-RS), da
CPI do Apagão Aéreo.
A Folha conversou ontem
com um dos controladores de
defesa aérea que foi transferido
para o Cindacta-1. Ele diz que
não se sente preparado para virar assistente mesmo tendo
cumprido 75 h de estágio, treinamento que dura dois meses.
Os controladores denunciam
ainda que entre os colegas afastados pelo "plano emergencial
do governo" estão profissionais
experientes, com 20, 25 anos
de profissão, e que seriam poucos os habilitados para treinar
os novos controladores.
O PSOL decidiu interpelar o
Comando da Aeronáutica para
que responda sobre a habilitação dos "novos" controladores.
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