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ODONTOLOGIA
País atinge apenas um dos cinco objetivos acertados com a OMS; pesquisa avaliou quase 109 mil pessoas
Brasil descumpre metas de saúde bucal
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil cumpriu apenas uma
das cinco metas da OMS (Organização Mundial da Saúde) relacionadas a cárie e perda dentária.
Mesmo o único resultado positivo, alcançado na idade de 12 anos,
é precário, pois os desempenhos
foram desiguais nesta população.
Mais de 80% da população
adulta não tem as gengivas sadias
e 13% dos adolescentes nunca foram ao dentista.
O resultado negativo, revelado
pelo projeto Saúde Bucal Brasil,
estará em discussão a partir desta
quinta-feira, na 3ª Conferência de
Saúde Bucal, em Brasília. Mais de
1.000 delegados participarão do
evento nacional.
A pesquisa foi realizada por
meio de avaliações odontológicas
em 108.921 brasileiros, de bebês
(18 a 36 meses) a idosos (65 a 74
anos), de maio de 2002 a outubro
do ano passado -a amostra foi
calculada para representar a situação do país.
Segundo o Ministério da Saúde,
trata-se do principal levantamento nacional do setor. As faixas etárias referenciais para a pesquisa
foram definidas a partir de orientações da OMS.
Os dados mostram que, quanto
mais se avança nas faixas etárias,
piores os resultados. A OMS esperava encontrar, em 2000, 50% das
pessoas da faixa etária de 65 a 74
anos com 20 ou mais dentes na
boca. O país alcançou o percentual de apenas 10,23%.
Segundo o relatório, o país só
atingiu a meta na idade de 12
anos, de índice CPO (de dentes
careados, perdidos e obturados)
menor ou igual a 3 -o resultado
alcançado foi de 2,78-, principalmente por causa do desempenho das crianças do Sul e Sudeste.
"Embora as crianças de 12 anos
apresentem valores (...) semelhantes aos recomendados pela
OMS para o ano de 2000, é relevante sublinhar a ampla variabilidade da distribuição de valores",
diz o relatório. Na região Nordeste, o índice foi de 3,19.
Diz o levantamento que há no
país 30 milhões de desdentados
-dado que foi apresentado pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março, no lançamento do
programa Brasil Sorridente, e depois corroborado por pesquisa da
OMS sobre as condições de saúde
divulgada em maio. O governo
promete investir R$ 1,3 bilhão em
saúde bucal até 2006 -entre as
ações está a distribuição de kits de
higiene e dentaduras. Além disso,
houve aumento de 49% do número de equipes de saúde bucal no
Programa Saúde da Família. A última conferência sobre saúde bucal foi realizada há dez anos,
quando o SUS (Sistema Único de
Saúde) ainda engatinhava, e propôs um novo modelo odontológico que seguisse os princípios do
sistema, de universalidade e integralidade das ações assistenciais.
Os dados do Saúde Bucal Brasil
e o documento-base da conferência deste ano mostram que as linhas mestras do evento de 1993
continuam sendo perseguidas.
O próprio nome da pesquisa salienta as dificuldades por que o setor passa. Originalmente, chamava-se SB 2000, ano para o qual foram definidas as metas da OMS.
Mas dificuldades operacionais fizeram com que só fosse entregue
neste ano pelo governo.
"É necessário aproximar a saúde bucal dos princípios da integralidade e da universalidade",
afirma Gyselle Saddi Tannous, representante de usuários no Conselho Nacional de Saúde e relatora-adjunta desta 3ª conferência.
Tannous também reconhece
que o controle social na área é inadequado. Há movimentos organizados para reivindicar assistência adequada para diversos problemas de saúde, mas não há um
movimento de desdentados. "Parece que há uma cisão, que a
odontologia é alguma coisa especializada."
Além do controle social, a conferência irá debater formação e
trabalho no setor, educação e financiamento.
O conselho queria que o Brasil
Sorridente fosse lançado após o
encontro, depois de definidas as
diretrizes. Segundo Tannous, a
principal crítica é em relação ao
fato de ele ser baseado em campanhas de distribuição de itens.
"Pela primeira vez o governo
destinou um recurso específico
para a odontologia", defende Miguel Nobre, presidente do Conselho Federal de Odontologia.
Segundo Nobre, que coordenará o eixo sobre trabalho, não faltam dentistas no país -1 para cada grupo de 1.500 pessoas, quando o preconizado pela OMS é 1
para 1.000-, mas é preciso melhorar sua formação e distribuição.
(FABIANE LEITE)
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