São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/SOB NOVA DIREÇÃO

Jobim assume e diz que agora a prioridade é segurança

Novo ministro da Defesa reforçou a intenção de mudar as atribuições da Anac

Jobim criticou a Infraero, que, segundo ele, se preocupou mais em criar shoppings do que de cuidar da estrutura dos aeroportos

EDUARDO SCOLESE
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após ter assumido o Ministério da Defesa e já sob a pressão de buscar soluções imediatas ao caos aéreo que se arrasta há dez meses, Nelson Jobim criticou ontem as antigas prioridades da Infraero (empresa que administra os aeroportos) e reforçou a idéia de modificar o comando e as atribuições da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
"Se eventualmente entender que a modelagem da Anac não se ajusta a um modelo de aviação brasileiro, a solução é alterar. Não podemos ficar com um engessamento que eventualmente não esteja funcionando." A agência tem sido criticada por não multar as empresas.
Sobre a Infraero, disse que a "tendência" é que a empresa inicie a próxima semana já com um novo comando, no caso, com algum "gestor" na vaga do atual presidente, brigadeiro José Carlos Pereira, que ontem reagiu com ironia quando questionado se seu sucessor herdará o "pepino" dos aeroportos.
"Pepinos fazem parte da vida. O importante não é o pepino, mas saber lidar com o pepino", disse Pereira.
Além da troca no comando da Infraero, o ministro da Defesa admitiu a possibilidade de realizar auditorias na empresa, acusada pela oposição de, no primeiro mandato petista, ter priorizado a aparência ante a segurança dos aeroportos.
"[Troca do comando e auditorias] são coisas que não se excluem e podem, inclusive, ser paralelas", disse Jobim, ao prometer uma análise sobre a necessidade de uma investigação nas contas da empresa.
"Fizemos nos últimos tempos várias reformas de aeroportos, mas era tudo em uma perspectiva de comodidade dos usuários. Ontem [anteontem] o presidente Lula definiu claramente que não se teve nenhuma maior visão sobre a questão da estrutura de pouso e de decolagem. Mas se teve grandes preocupações na implantação de shopping centers e da criação de cinemas."
"Precisamos escolher as nossas prioridades. E as nossas prioridades começam pelo decolar e pelo trafegar, para chegar finalmente à comodidade. Ou seja, se o preço da segurança for manter por algum tempo a fila, será mantido. É uma questão de opções", disse Jobim.
O peemedebista Jobim falou em entrevista no início da tarde, após ter formalizado com o petista Waldir Pires a troca de comando da pasta, definida por Lula na última terça-feira.
Ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Jobim assume a Defesa numa aposta do governo para encontrar uma saída rápida à crise aérea, nos aeroportos desde outubro, mas só anteontem admitida pelo presidente.
Com carta-branca do Planalto, o novo ministro se colocou ontem como um "maestro" do governo para conter o caos aéreo, agravado com o acidente com o Airbus da TAM, semana passada, em Congonhas. "A música e a composição são do presidente. Eu executo", disse.


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