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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/REFORMAS
Para governador, aeroporto novo em SP é "escapismo"
"Acontece um problema, eles vêm com panacéias", diz José Serra sobre projeto da União para desafogar Congonhas
Especialista afirma que obra
custaria R$ 3 bilhões e que
não poderia ser próxima a
São Paulo sem complicar
ainda mais o tráfego aéreo
CATIA SEABRA
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador paulista, José
Serra (PSDB), qualificou como
"escapismo" a idéia do governo
federal de construir um novo
aeroporto em São Paulo para
desafogar Congonhas.
"Tenho horror ao escapismo.
Escapismo é uma doença no
Brasil. Acontece um problema,
vêm com soluções escapistas
ou com panacéias", disse Serra.
Em documento assinado
com o prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab (DEM), e enviado ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), Serra pediu
investimentos como a construção em Guarulhos de uma terceira pista e terminal de passageiros, além de uma segunda
pista e terminal em Viracopos.
"Temos que nos debruçar sobre medidas concretas, mesmo
de médio prazo, de curto prazo,
para tocar o setor para andar.
Tenho a expectativa de que, assumindo o comando, o ministro (Nelson) Jobim (Defesa)
ajude nessa tarefa de maneira
decisiva", disse Serra.
O governo paulista também
pedirá R$ 580 milhões ao governo federal para construir
uma linha de trem ligando a estação da Luz, no centro da capital, a Cumbica. O projeto, que
prevê o check-in de passageiros
na Luz, seria tocado via PPP
(Parceria Público-Privada).
O chamado "Expresso Aeroporto" chegou a ser anunciado
como uma das prioridades do
ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) em janeiro de
2005, mas nunca saiu do papel.
As declarações de Serra vão
ao encontro das de especialistas ouvidos pela Folha sobre o
realismo de se apostar em um
novo aeroporto em vez de usar
melhor a estrutura de Cumbica
(Guarulhos), Viracopos (Campinas) e São José dos Campos.
Atualmente, há capacidade
ociosa de cerca de 2,4 milhões
de passageiros nesses três aeroportos. Com projetos para
melhorar o acesso e obras de
ampliação, a capacidade extra
poderia atingir 10 milhões (6,5
milhões foi o excedente em
2006 em Congonhas, com capacidade para 12 milhões).
"Céu saturado"
Sergio Jardim, da empresa de
engenharia Planorcom, que já
atuou em Cumbica e Congonhas, estima em R$ 3 bilhões o
custo de um novo aeroporto de
grande porte. Já um novo terminal em Guarulhos sairia por
R$ 500 milhões.
"O problema também não está só na terra, no local onde pode ser construído, mas no céu
saturado. Para evitar mais problemas de tráfego aéreo, dificilmente poderia haver um novo
aeroporto mais próximo da capital do que a distância até Viracopos (em Campinas, a 99
km de São Paulo)", diz Jardim.
Corretores especializados
em áreas rurais afirmam que o
preço do m2 em locais próximos às rodovias Anhangüera/
Bandeirantes pode variar de
R$ 3 a R$ 6.
Prevendo 4 milhões de m2
para o novo aeroporto, o preço
do terreno poderia chegar a R$
24 milhões. Em áreas mais próximas à capital, como Cajamar
(42 km de SP), o valor é maior,
podendo subir para R$ 34 milhões. Mesmo assim, o preço do
terreno alcançaria pouco mais
de 1% dos R$ 3 bilhões do custo
total estimado para a obra.
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) disse na semana
passada que não falaria sobre a
localização do novo aeroporto
para não incentivar a "especulação imobiliária".
Segundo Paulo Barbosa, corretor de áreas rurais da Bandimóveis, algumas prefeituras da
região, como a de Sorocaba (87
km de SP), chegaram a fazer
projetos de viabilidade de novos aeroportos que nunca foram para a frente.
Jamil Giacomello, ex-secretário de Desenvolvimento de
Jundiaí e dono de imobiliária
especializada em áreas rurais
no interior de SP, diz que não
acredita que a União fará o novo aeroporto. Ele também não
crê na ampliação do aeroporto
de Jundiaí, como a Infraero
chegou a especular, por causa
da vizinhança com rodovias.
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