São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/REFORMAS

Para governador, aeroporto novo em SP é "escapismo"


"Acontece um problema, eles vêm com panacéias", diz José Serra sobre projeto da União para desafogar Congonhas

Especialista afirma que obra custaria R$ 3 bilhões e que não poderia ser próxima a São Paulo sem complicar ainda mais o tráfego aéreo CATIA SEABRA
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador paulista, José Serra (PSDB), qualificou como "escapismo" a idéia do governo federal de construir um novo aeroporto em São Paulo para desafogar Congonhas.
"Tenho horror ao escapismo. Escapismo é uma doença no Brasil. Acontece um problema, vêm com soluções escapistas ou com panacéias", disse Serra.
Em documento assinado com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Serra pediu investimentos como a construção em Guarulhos de uma terceira pista e terminal de passageiros, além de uma segunda pista e terminal em Viracopos.
"Temos que nos debruçar sobre medidas concretas, mesmo de médio prazo, de curto prazo, para tocar o setor para andar. Tenho a expectativa de que, assumindo o comando, o ministro (Nelson) Jobim (Defesa) ajude nessa tarefa de maneira decisiva", disse Serra.
O governo paulista também pedirá R$ 580 milhões ao governo federal para construir uma linha de trem ligando a estação da Luz, no centro da capital, a Cumbica. O projeto, que prevê o check-in de passageiros na Luz, seria tocado via PPP (Parceria Público-Privada).
O chamado "Expresso Aeroporto" chegou a ser anunciado como uma das prioridades do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) em janeiro de 2005, mas nunca saiu do papel.
As declarações de Serra vão ao encontro das de especialistas ouvidos pela Folha sobre o realismo de se apostar em um novo aeroporto em vez de usar melhor a estrutura de Cumbica (Guarulhos), Viracopos (Campinas) e São José dos Campos.
Atualmente, há capacidade ociosa de cerca de 2,4 milhões de passageiros nesses três aeroportos. Com projetos para melhorar o acesso e obras de ampliação, a capacidade extra poderia atingir 10 milhões (6,5 milhões foi o excedente em 2006 em Congonhas, com capacidade para 12 milhões).

"Céu saturado"
Sergio Jardim, da empresa de engenharia Planorcom, que já atuou em Cumbica e Congonhas, estima em R$ 3 bilhões o custo de um novo aeroporto de grande porte. Já um novo terminal em Guarulhos sairia por R$ 500 milhões.
"O problema também não está só na terra, no local onde pode ser construído, mas no céu saturado. Para evitar mais problemas de tráfego aéreo, dificilmente poderia haver um novo aeroporto mais próximo da capital do que a distância até Viracopos (em Campinas, a 99 km de São Paulo)", diz Jardim.
Corretores especializados em áreas rurais afirmam que o preço do m2 em locais próximos às rodovias Anhangüera/ Bandeirantes pode variar de R$ 3 a R$ 6.
Prevendo 4 milhões de m2 para o novo aeroporto, o preço do terreno poderia chegar a R$ 24 milhões. Em áreas mais próximas à capital, como Cajamar (42 km de SP), o valor é maior, podendo subir para R$ 34 milhões. Mesmo assim, o preço do terreno alcançaria pouco mais de 1% dos R$ 3 bilhões do custo total estimado para a obra.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse na semana passada que não falaria sobre a localização do novo aeroporto para não incentivar a "especulação imobiliária".
Segundo Paulo Barbosa, corretor de áreas rurais da Bandimóveis, algumas prefeituras da região, como a de Sorocaba (87 km de SP), chegaram a fazer projetos de viabilidade de novos aeroportos que nunca foram para a frente.
Jamil Giacomello, ex-secretário de Desenvolvimento de Jundiaí e dono de imobiliária especializada em áreas rurais no interior de SP, diz que não acredita que a União fará o novo aeroporto. Ele também não crê na ampliação do aeroporto de Jundiaí, como a Infraero chegou a especular, por causa da vizinhança com rodovias.


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