|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
foco
Moradora de bairro nobre
de SP diz que começou a
usar crack aos 12 anos
Fernando Donasci/Folha Imagem
|
|
Edith (nome fictício), 22, que começou a usar crack com moradores de rua na zona oeste de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Usuária de crack desde os
12 anos, Edith (nome fictício
-""põe Piaf aí", brinca), hoje
aos 22, não se considera viciada, mas tem "acessos" a cada
três ou cinco meses.
Mora com os pais em um
sobrado em Perdizes, bairro
de classe média de São Paulo.
Tem dois filhos. Começou a
usar a droga com moradores
de rua. "Passava o tempo lá,
sentada na fogueira, com os
mendigos", diz ela, ruiva, de
olhos verdes e aparência saudável.
(JEC)
FOLHA - Quando foi a última
vez?
EDITH - Há um mês, fiquei
três dias em uma casa no Capão Redondo. Eu acordava e
ia dormir, e tinha gente usando. Se precisava de dinheiro,
uma menina de 12 anos saía
para fazer sexo oral com o padeiro, com o vendedor de
churrasquinho, e voltava. Lá,
você vê a rotina do viciado.
FOLHA - Você não sente falta?
EDITH - De três em três ou de
cinco em cinco meses dá uma
coisa em mim. Já cheguei a
fumar 40 pedras, mas chega
uma hora em que não quero
mais. Sinto uma adrenalina
muito grande, um estalo na
cabeça na hora em que fumo.
FOLHA - Vai muito dinheiro?
EDITH - Já gastei uns mil reais
com um pessoal viajando.
FOLHA - Como você começou?
EDITH - Eu tinha 12 anos, estava na linha do trem [perto
da Barra Funda], e lá tinha
uns mendigos fumando. Fui
procurar maconha, e eles ofereceram, experimentei a pedra na lata. Depois, fumei no
cachimbo. Passava o tempo
lá, sentada na fogueira, com
os mendigos. Com o tempo,
nem queria mais maconha.
FOLHA - E você afundou no vício?
EDITH - Conheci um cara que
era mestre em estourar carro.
A gente pulava o muro da escola e saía por aí. Ia buscar a
droga no centro. Meu namorado descobriu e começou a
me tirar de lá, brigava com os
moleques. Eu saí de casa, e
andava todo mundo loucão.
FOLHA - E foi morar onde?
EDITH - Tirei o colchão de casa e fomos para uma casa
abandonada na rua Tucuna.
Ficava o dia lá, peguei sarna.
A mãe do meu namorado percebeu que eu não parava de
me coçar. Me levaram ao médico. Comecei a dormir na casa do meu namorado e parei
de fumar um tempo. Tive dois
filhos. Na segunda gravidez,
que eu não tinha descoberto
ainda, continuei fumando
uns meses.
Texto Anterior: No DF, uso "cresce de maneira gradativa", afirma promotor Próximo Texto: Ministério da Saúde vai criar projeto para tratar vício no SUS Índice
|