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Justiça mantém jovens internados
Infratores já liberados pela Fundação Casa são mantidos pelo Estado para tratamento psiquiátrico
Lei da reforma psiquiátrica,
porém, só prevê internações
curtas e devido a surtos; para
entidades, artifício legal
ampliou tempo de retenção
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
Seis jovens que têm mais de
18 anos e já cumpriram medidas socioeducativas na Fundação Casa (ex-Febem) foram
obrigados pela Justiça a serem
internados em uma unidade
experimental de saúde criada
pelo governo de São Paulo para
tratamento psiquiátrico.
Eles cometeram atos infracionais -até homicídio- quando tinham menos de 18 anos.
Alguns deles estão no local,
na Vila Maria (zona norte da
capital), desde novembro de
2007. As internações compulsórias, no entanto, contrariam
a lei da reforma psiquiátrica,
que só as prevê em casos de surto e por curta permanência.
O Cedeca (Centro de Defesa
dos Direitos da Criança e do
Adolescente) de Interlagos e a
ABMP (Associação Brasileira
de Magistrados, Promotores de
Justiça e Defensores Públicos
da Infância e da Juventude)
questionam a decisão judicial.
Dizem que um artifício legal
foi usado para estender o prazo
máximo -três anos, segundo o
ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente)- de cumprimento de medida por ato infracional cometido por pessoas com
menos de 18 anos.
O Cedeca defende que o tratamento dos jovens seja em
meio aberto, com acompanhamento, e disse que vai entrar
com ação civil pública para pedir a extinção da unidade.
Decreto
A contenção dos jovens está
baseada em decreto de setembro de 2008, assinado pelo governador José Serra (PSDB),
que cria a UES (Unidade Experimental de Saúde), vinculada à
Secretaria da Saúde.
O documento diz que obedece determinações do "Poder
Judiciário ao Executivo para
que adolescentes e jovens adultos, autores de atos infracionais
graves, portadores de distúrbios de personalidade e de alta
periculosidade, tenham a conversão da medida protetiva, recebendo tratamento psiquiátrico em local com contenção".
Os seis jovens, com idades de
20 a 22 anos, cumpriram medidas socioeducativas e estão internados por tempo indeterminado após determinações de
medida protetiva ou interdição, segundo o Cedeca. O assassino do casal de adolescentes
Liana Friedenbach e Felipe
Caffé, em 2003, é um deles.
As informações sobre os jovens foram passadas pelo Cedeca. A secretaria disse que não
poderia confirmá-las por
"questão de segurança".
Para Daniel Assis, advogado
do Cedeca, a contenção é "francamente ilegal". "Seu funcionamento como unidade especializada é ilegal. O atendimento de
pessoas com transtorno deve
ocorrer na rede hospitalar."
Para o advogado, o Poder Judiciário, ao exigir do governo de
São Paulo a criação de um espaço, age inconstitucionalmente
por invadir uma atribuição do
Poder Executivo.
O juiz Eduardo de Melo, presidente da ABMP, disse "não
pode haver uma internação ad
eternum". Do lado de fora, é
possível observar que a UES
possui muros de cerca 50 m,
grades e portas de aço. A Secretaria da Saúde não autorizou visita da reportagem à unidade
alegando questão de segurança
e não informou se agentes penitenciários atuam no local.
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