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ENEM
Frei Davi, idealizador de cursos comunitários para estudantes pobres e negros, já foi expulso de duas dioceses
'Queremos causar indignação', diz frade
DA REPORTAGEM LOCAL
"Queremos criar uma revolta
santa, uma indignação nos estudantes carentes. Somente uma
pessoa indignada começa a lutar
por seus direitos."
É com esse discurso que frei Davi Raimundo Santos, 47, aproxima-se dos estudantes mais carentes de escolas públicas. Seu objetivo é fazer com que eles se organizem e montem núcleos de cursos
comunitários.
"Eu procuro mostrar que eles
não podem virar mão-de-obra
barata. Eles são vítimas da estrutura educacional brasileira e precisam lutar contra isso", diz ele,
principal responsável pelas ações
judiciais contra a cobrança de taxa para as provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Esse discurso provocador já
rendeu ao frei Davi, idealizador
de cerca de 300 cursinhos para
pobres no Brasil, dois afastamentos de dioceses da Igreja Católica.
Denúncia
Frei Davi conta que, no primeiro, em 1981, em Petrópolis, o bispo da cidade recebeu denúncias
de que ele e outras pessoas ligadas
à igreja, como o escritor Leonardo
Boff, eram comunistas e estavam
em uma lista do SNI (Serviço Nacional de Informação).
"Naquela época, nós organizávamos núcleos de excluídos para
discutir seus direitos", diz.
A outra expulsão foi da diocese
do Rio de Janeiro, quando tentou
organizar um encontro de religiosos negros. Dez dias antes do
evento, a diocese decidiu proibi-lo. "Eu e dez padres nos desligamos da entidade e informamos o
cardeal de que o evento iria acontecer, mesmo que à revelia. O povo negro foi humilhado e escravizado por 500 anos e não aceitaríamos mais aquela humilhação".
Após o encontro, frei Davi foi
transferido para a diocese da Baixada Fluminense, onde montou
núcleos de cursos comunitários
para carentes e negros. As missas
de frei Davi também são inspiradas em cultos africanos.
A condição para montar um
curso pré-vestibular para negros é
não cobrar mensalidades superiores a R$ 10 e ter sempre no currículo temas de cidadania, como a
valorização da consciência negra.
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