São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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Frei Davi, idealizador de cursos comunitários para estudantes pobres e negros, já foi expulso de duas dioceses
'Queremos causar indignação', diz frade

DA REPORTAGEM LOCAL

"Queremos criar uma revolta santa, uma indignação nos estudantes carentes. Somente uma pessoa indignada começa a lutar por seus direitos."
É com esse discurso que frei Davi Raimundo Santos, 47, aproxima-se dos estudantes mais carentes de escolas públicas. Seu objetivo é fazer com que eles se organizem e montem núcleos de cursos comunitários.
"Eu procuro mostrar que eles não podem virar mão-de-obra barata. Eles são vítimas da estrutura educacional brasileira e precisam lutar contra isso", diz ele, principal responsável pelas ações judiciais contra a cobrança de taxa para as provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Esse discurso provocador já rendeu ao frei Davi, idealizador de cerca de 300 cursinhos para pobres no Brasil, dois afastamentos de dioceses da Igreja Católica.

Denúncia
Frei Davi conta que, no primeiro, em 1981, em Petrópolis, o bispo da cidade recebeu denúncias de que ele e outras pessoas ligadas à igreja, como o escritor Leonardo Boff, eram comunistas e estavam em uma lista do SNI (Serviço Nacional de Informação).
"Naquela época, nós organizávamos núcleos de excluídos para discutir seus direitos", diz.
A outra expulsão foi da diocese do Rio de Janeiro, quando tentou organizar um encontro de religiosos negros. Dez dias antes do evento, a diocese decidiu proibi-lo. "Eu e dez padres nos desligamos da entidade e informamos o cardeal de que o evento iria acontecer, mesmo que à revelia. O povo negro foi humilhado e escravizado por 500 anos e não aceitaríamos mais aquela humilhação".
Após o encontro, frei Davi foi transferido para a diocese da Baixada Fluminense, onde montou núcleos de cursos comunitários para carentes e negros. As missas de frei Davi também são inspiradas em cultos africanos.
A condição para montar um curso pré-vestibular para negros é não cobrar mensalidades superiores a R$ 10 e ter sempre no currículo temas de cidadania, como a valorização da consciência negra.



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