São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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VIOLÊNCIA

Ciclista é atingido ao desviar de buraco; irritados com a equipe de socorro, quatro jovens brigam com bombeiros

Paramédico é agredido, e atropelado morre

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Um ciclista atropelado morreu enquanto os paramédicos do Corpo de Bombeiros que o atendiam eram agredidos numa discussão de trânsito na periferia de Fortaleza (CE). O incidente aconteceu anteontem à noite.
Os agressores chegaram a ser presos, mas foram liberados em seguida e indiciados apenas por lesão corporal leve. A pena para esse crime não prevê prisão, mas serviços comunitários ou a entrega de uma cesta básica a uma instituição de caridade. A responsabilidade pela morte do ciclista ainda será apurada.
Renato Fonteneli dos Santos, 24, trafegava em sua bicicleta pela avenida Dedé Brasil, uma das mais movimentadas da periferia de Fortaleza, no bairro Serrinha, quando foi atropelado por um veículo Fiesta ao tentar desviar de um buraco. O acidente aconteceu às 20h10 de anteontem.
A ambulância dos bombeiros chegou em seguida. Os paramédicos iniciaram o atendimento à vítima, que apresentava traumatismo craniano. Os primeiros socorros foram dados na própria avenida. O trânsito no local parou.
Quando o ciclista já seria encaminhado para o hospital IJF (Instituto José Frota), quatro homens -Elton Sidnei Silva Santos, 20, George Santos Rodrigues, 24, Sebastião Rodrigues Júnior, 21, e Mário Andrey, 21- desceram de um Gol branco para reclamar da ambulância, que estava atrapalhando o trânsito. Os três primeiros são irmãos, e o quarto homem é vizinho deles.
Depois de discutirem com os paramédicos, os quatro homens começaram a agredi-los. Enquanto isso, o ciclista atropelado continuava a espera de atendimento. A briga durou pelo menos 15 min.
"Os rapazes disseram que os bombeiros tinham de retirar a ambulância do meio da rua, pois estava atrapalhando a circulação. A discussão começou com troca de xingamentos. Em seguida, ocorreu a agressão física", disse o delegado Ricardo Nogueira, do 11º Distrito Policial.
Uma segunda ambulância foi chamada para completar o atendimento. O ciclista só chegou ao hospital às 22h, quase duas horas depois de ter sido atropelado, mas morreu antes de ser atendido.
Como estava sem documentos, ele deu entrada no IJF como "desconhecido". Renato Santos foi enterrado na tarde de ontem.
Segundo a Polícia Civil, os quatro agressores fugiram do local do acidente, mas foram capturados na madrugada de ontem.
"Só o laudo cadavérico vai dizer se ele (Renato Santos) teria mais chances de sobreviver se tivesse chegado mais cedo ao hospital", disse o delegado.
"Mas, o fato é que, por causa da briga, não houve o atendimento médico no tempo adequado à gravidade do caso." O laudo deverá ficar pronto em um mês.
Ainda segundo o delegado, poderá ser aberto um novo inquérito para apurar as responsabilidades pela morte do ciclista. Por enquanto, existe apenas um inquérito para apurar a agressão aos paramédicos.
Pelos depoimentos prestados, de acordo com Nogueira, será muito difícil incriminar os paramédicos pela demora no atendimento. O delegado disse que teoricamente eles não tiveram culpa.
Até o fechamento desta edição, a Agência Folha não conseguiu localizar nem os agressores nem os agredidos.


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