São Paulo, quinta, 27 de agosto de 1998

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SAÚDE
No mesmo período, a inflação medida pela FGV ficou em 3,59%; Abifarma contesta e diz ter dados diferentes
Remédio aumenta até 167% em um ano

Marlene Bergamo/Folha Imagem
A aposentada Jeanete Cordeiro e seu marido, Rubens, que chegam a tomar 11 comprimidos por dia contra problemas de pressão e de coração


VANESSA HAIGH
da Sucursal de Brasília

A indústria farmacêutica está aumentando os preços de seus produtos muito acima da inflação, segundo estudo feito pelo CRF (Conselho Regional de Farmácia) do Distrito Federal.
Em alguns casos, os aumentos chegam a 167,4%, contra 3,59% de inflação no período.
Segundo o IGP (Índice Geral de Preços) da Fundação Getúlio Vargas, a inflação no período de julho de 97 a julho de 98 foi de 3,59%. Em uma listagem de 109 medicamentos apresentados em 335 versões (comprimido, solução, pomada e dosagens diferentes, por exemplo), todos apresentaram aumento superior ao da inflação.
O menor aumento apontado nessa listagem foi de 7,1% e o maior, do Vontrol, fabricado pelo laboratório Enila para controlar vômito e náusea, foi de 167,4%. O preço dos remédios foi medido no período de agosto de 97 a agosto de 98.
A Folha destacou dez medicamentos de uso contínuo, ou seja, que precisam ser consumidos diariamente pelo paciente. O aumento do preço desse tipo de remédio não pode ser evitado pelo consumidor, porque ele pode correr risco de vida se interromper o tratamento ou desenvolver problemas que se agravarão no futuro. Esses remédios apresentaram aumento de 11,29% a 66,2%.
O secretário-executivo da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), Serafim Branco Neto, disse que a entidade não comenta preços, "porque eles são de responsabilidade das empresas", mas contestou o fato de o CRF ter usado como base o período de um ano.
"É curtíssimo o tempo, é preciso ver qual foi o índice desde o início do Plano Real", disse. Segundo Branco Neto, os dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) mostram que a indústria farmacêutica aumentou seus preços abaixo da inflação, desde julho de 94, quando o Real foi implantado.
Segundo Branco Neto, a Fipe apurou na pesquisa que, de julho de 94 a julho de 98, a variação média de preços de medicamentos foi de 58,4%, e a inflação no mesmo período foi de 66,4%.
Antonio Barbosa, presidente do CRF do DF, disse que a Fipe utiliza em seus cálculos remédios que não estão sendo comercializados, portanto não têm o preço aumentado, o que geraria um índice irreal. "Não se passou um só mês desde a implantação do Real que não tivesse ocorrido aumento de preços nos remédios, e não houve redução de preço em nenhum item", disse Barbosa.
A CRF usou uma amostragem dos remédios mais comercializados no Brasil, usando como base o preço máximo pelo qual o medicamento pode ser vendido ao consumidor, com dados da ABCFarma (Associação Brasileira de Comércio Farmacêutico).
"Cerca de 90% das farmácias do Brasil vendem os remédios pelo preço máximo", disse Barbosa.



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