São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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VIOLÊNCIA

Policiais relatam que reagiram a tiros e mataram dois acusados de serem traficantes; comércio é vizinho a delegacia

No RJ, após ação da PM, tráfico fecha lojas

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Pelo menos 30 lojas vizinhas à delegacia do Catete (9ª DP) e a dois quarteirões da sede da Arquidiocese do Rio não abriram ontem por ordem de traficantes do morro Santo Amaro (zona sul do Rio de Janeiro).
A determinação do tráfico foi consequência da morte pela Polícia Militar, anteontem à noite, de dois acusados de integrar a quadrilha do traficante Marco Antônio Pereira Firmino, o My Thor. Um deles tinha 15 anos.
Vinculado à facção CV (Comando Vermelho), My Thor foi um dos líderes da rebelião no presídio Bangu 1 (zona oeste do Rio) ocorrida no dia 11 e que resultou na morte de quatro presos. O tráfico no Santo Amaro é controlado por ele, que está no Batalhão de Choque da PM (Polícia Militar) com Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco.
Em sinal de luto, os traficantes mandaram fechar todo o comércio na favela e nas ruas próximas. Eles estenderam duas faixas pretas em um acesso ao morro.
De manhã, a PM reforçou o patrulhamento nas ruas do Catete e Pedro Américo, na tentativa de garantir o funcionamento do comércio. Apesar da presença policial, pelo menos 30 lojas da Pedro Américo, onde fica a 9ª DP (Delegacia de Polícia), não abriram. O delegado Antônio Calazans não quis falar sobre o assunto.
Comerciantes ouvidos pela Folha disseram que não abriram por precaução, pois, de madrugada, moradores da favela montaram barricadas na Pedro Américo para protestar contra a ação da PM. Caçambas de lixo foram queimadas. A manifestação foi interrompida com a chegada de policiais. Ninguém foi preso.
O morro Santo Amaro fica a dois quarteirões da Arquidiocese do Rio, onde vive o arcebispo da cidade, d. Eusébio Scheid. Até às 19h30, ele não havia se pronunciado sobre o episódio.
O tiroteio começou por volta das 23h. Segundo o comandante do 2º Batalhão, tenente-coronel Giovani Caroprese, policiais da unidade e do Getam (Grupamento Especial Tático-Móvel) patrulhavam a favela quando foram alvejados pelos traficantes.
Os PMs reagiram, disse o comandante. No tiroteio, Djalma Medeiros da Silva, 22, e Cleiton da Silva Lima, 15, foram baleados e morreram no hospital.
Segundo a Polícia Civil, Medeiros da Silva era um dos gerentes do tráfico no Santo Amaro. Já o adolescente trabalhava como olheiro para os traficantes.
Moradores negaram a versão da polícia e disseram que as vítimas eram trabalhadoras. Mãe de Cleiton, a comerciante Sônia da Silva Lima, 31, disse que o filho foi morto a sangue frio pelos PMs.
"Meu filho estava com parte dos braços e pernas arrancados pelos tiros de fuzil. Não sei mais o que fazer da minha vida", disse ela.


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