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São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2003

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ABUSO POLICIAL

Inquérito concluiu que comerciante foi vítima de tortura; Polícia Civil inicia a reconstituição do crime

PF indicia agentes e presos por agressão a sino-brasileiro

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Federal indiciou ontem 12 pessoas, entre agentes penitenciários e presos, sob a acusação de terem participado do espancamento que levou à morte do comerciante sino-brasileiro Chan Kim Chang. O inquérito concluiu que ele foi vítima de tortura.
Chan morreu no último dia 4 após ficar dez dias internado, em consequência das agressões que sofreu no presídio estadual Ary Franco, em Água Santa (zona norte do Rio). Ele tinha 46 anos.
Também foi indiciado o major PM Luiz Augusto Mathias, que dirigia o Ary Franco quando Chan foi espancado. Os nomes dos outros acusados não foram revelados pela PF, sob o argumento de que o processo correrá em segredo de Justiça.
Além do crime de tortura, inafiançável, os indiciados ainda foram acusados de falsidade ideológica e desobediência. O inquérito seguiu para o Ministério Público Federal, que poderá denunciá-los à Justiça. Seis agentes penitenciários suspeitos de terem agredido Chan estão presos preventivamente desde o dia 6. Mathias foi afastado do cargo.
Segundo o inquérito da PF, a tortura foi praticada como forma de castigo contra o comerciante. Chan foi preso no dia 25 de agosto por policiais federais no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, quando tentava embarcar para os Estados Unidos com US$ 31 mil não-declarados à Receita.
Responsável pelo inquérito, o delegado Victor Hugo Poubel descartou a versão de "autolesão", sustentada pelos agentes que foram presos. Segundo os guardas, Chan se negou a tirar uma foto e teria "surtado", batendo com a cabeça em um armário.
Ao mesmo tempo em que a PF divulgava a conclusão do inquérito, a Corregedoria da Polícia Civil do Rio e a Delegacia de Homicídios iniciavam a reconstituição do crime no presídio Ary Franco.
A sessão não havia sido encerrada até a conclusão desta edição. O delegado Marcelo Fernandes afirmou que vai "ignorar" o inquérito da PF, já que "a investigação é de competência da Polícia Civil".
O secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, e o ex-diretor do Ary Franco Luiz Augusto Mathias não foram localizados até a conclusão desta edição para comentar o inquérito da PF.


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