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TINA PEREIRA (1958-2008)
Uma vida inteira para semear a música
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há anos, Tina Pereira tinha uma relação metafórica
com as sementes; não as das
árvores que plantara em seu
sítio, hoje frondosas em sua
solidão, mas os germes de
harmonia que incutiu em
centenas de músicos. "Tina
era assim", diz a colega: "Viveu para semear a música".
Seu currículo causava espanto. Formou-se em música e dança no Instituto Orff
de Salzburg, na Áustria. Estudou flauta com mestres como Lenir Siqueira e Pierre-Yves Artaud. E fez duo (flauta e piano) com Caio Senna
-muitos foram os concertos.
Mas a veia didática imperou e ela criou o "Flautistas
da Pro Arte", orquestra de
sopros juvenil que "era o
projeto de sua vida". Lá, ensinava de Tom Jobim a Heitor
Villa-Lobos aos aprendizes.
Fez até turnê na Europa. E
ainda representou o Brasil
em festivais; participou de
concursos; fez dezenas de
trilhas sonoras e ambientações. Só não conseguia abandonar as classes da Orquestra de Sopros da Pro Arte,
onde regia 50 pessoas. "Metódica, apaixonada, obsessiva, regia como ninguém."
Tina tinha recém-começado a apresentar um tributo
ao compositor e arranjador
Egberto Gismonti. Mas morreu antes de saborear a conquista; foi na quarta, aos 50
anos, de aneurisma cerebral.
"Mas sua morte simboliza
o jeito que passou pela vida",
diz a colega. Pois Tina seguiu
vivendo nos outros. Era sua
vontade, ter todos os órgãos
doados. "Mesmo ao morrer,
ela deixou muitas sementes."
obituario@folhasp.com.br
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