São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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TINA PEREIRA (1958-2008)

Uma vida inteira para semear a música

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há anos, Tina Pereira tinha uma relação metafórica com as sementes; não as das árvores que plantara em seu sítio, hoje frondosas em sua solidão, mas os germes de harmonia que incutiu em centenas de músicos. "Tina era assim", diz a colega: "Viveu para semear a música".
Seu currículo causava espanto. Formou-se em música e dança no Instituto Orff de Salzburg, na Áustria. Estudou flauta com mestres como Lenir Siqueira e Pierre-Yves Artaud. E fez duo (flauta e piano) com Caio Senna -muitos foram os concertos.
Mas a veia didática imperou e ela criou o "Flautistas da Pro Arte", orquestra de sopros juvenil que "era o projeto de sua vida". Lá, ensinava de Tom Jobim a Heitor Villa-Lobos aos aprendizes. Fez até turnê na Europa. E ainda representou o Brasil em festivais; participou de concursos; fez dezenas de trilhas sonoras e ambientações. Só não conseguia abandonar as classes da Orquestra de Sopros da Pro Arte, onde regia 50 pessoas. "Metódica, apaixonada, obsessiva, regia como ninguém."
Tina tinha recém-começado a apresentar um tributo ao compositor e arranjador Egberto Gismonti. Mas morreu antes de saborear a conquista; foi na quarta, aos 50 anos, de aneurisma cerebral.
"Mas sua morte simboliza o jeito que passou pela vida", diz a colega. Pois Tina seguiu vivendo nos outros. Era sua vontade, ter todos os órgãos doados. "Mesmo ao morrer, ela deixou muitas sementes."

obituario@folhasp.com.br



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