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Para economista, Pnad não consegue medir renda total
Cláudio Dedecca, da Unicamp, diz que pesquisa não pode ser usada como único parâmetro de redução da desigualdade
Especialistas relativizam opinião de professor da Unicamp; IBGE diz que dado está respaldado por série histórica da pesquisa
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
A divulgação da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) de 2007 -que
constatou melhora expressiva
na desigualdade econômica e
na concentração de renda-
reacendeu antiga polêmica entre os economistas: a pesquisa
tem eficácia para medir o rendimento total dos brasileiros?
Os especialistas são unânimes em afirmar que a Pnad tem
dificuldades para aferir rendimentos do capital, especialmente os financeiros. Mas destacam que a pesquisa capta
com fidelidade a renda do trabalho e aquela oriunda de programas de proteção social.
Ou seja, o IBGE reúne de forma eficaz dados relativos a salários (tanto nos empregos formais como nos informais) e benefícios da Previdência Social.
Mas encontra obstáculos para
os rendimentos de aplicações
financeiras, Bolsas de Valores
ou aluguéis, entre outros.
"Minha desconfiança é que a
desigualdade não está caindo
do ponto de vista da renda global. Isso porque a taxa de juros
permanece em patamar muito
alto e é instrumento de concentração de renda", diz Cláudio
Dedecca, professor da Unicamp. Ele usa como argumento
estatístico a comparação entre
as variações do PIB (conjunto
de bens e serviços produzidos
no país), do PIB per capita (que
divide o PIB pelo número de
habitantes) e da renda de todos
os trabalhos medida pela Pnad.
Entre 2002 e 2006, o PIB subiu 13,2%; o PIB per capita,
6,8%; e a renda dos trabalhos,
3,7%. "A riqueza cresceu mais
que a renda do trabalho, o que
faz com que, sozinha, a renda
da Pnad não sirva como parâmetro de queda da desigualdade. Não podemos esquecer que
a pesquisa capta só 40% da renda total contida no PIB", diz.
A economista Sônia Rocha,
do Iets (Instituto de Estudos do
Trabalho e Sociedade), afirma
que outros países enfrentam a
mesma dificuldade e que os limites na captação de dados sobre as rendas do capital não
anulam a constatação de que a
desigualdade está em queda.
"Do ponto de vista internacional, a Pnad é das que cobrem
melhor o tema. E mostra que a
queda da desigualdade segue
em ritmo forte. Por exemplo,
usando como critério o nível de
pobreza e indigência: são 2,8
milhões de pobres a menos somente entre 2006 e 2007", diz.
O economista Marcelo Neri
diz que as pesquisas da Fundação Getulio Vargas também
apontam para queda da desigualdade, mas ressalta que é difícil medir os rendimentos dos
mais ricos: "A renda do capital é
muito concentrada. Seriam necessários outros instrumentos
para medi-la. Dados que estão
com a Receita Federal, como o
Imposto de Renda."
A coordenadora de pesquisas
sobre trabalho e rendimento do
IBGE, Márcia Quintslr, diz que
o questionário da Pnad pergunta sobre todos os rendimentos,
incluindo ganhos de capital.
Mas reconhece que há dificuldade na obtenção de respostas
completas.
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