São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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Para economista, Pnad não consegue medir renda total

Cláudio Dedecca, da Unicamp, diz que pesquisa não pode ser usada como único parâmetro de redução da desigualdade

Especialistas relativizam opinião de professor da Unicamp; IBGE diz que dado está respaldado por série histórica da pesquisa

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

A divulgação da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2007 -que constatou melhora expressiva na desigualdade econômica e na concentração de renda- reacendeu antiga polêmica entre os economistas: a pesquisa tem eficácia para medir o rendimento total dos brasileiros?
Os especialistas são unânimes em afirmar que a Pnad tem dificuldades para aferir rendimentos do capital, especialmente os financeiros. Mas destacam que a pesquisa capta com fidelidade a renda do trabalho e aquela oriunda de programas de proteção social.
Ou seja, o IBGE reúne de forma eficaz dados relativos a salários (tanto nos empregos formais como nos informais) e benefícios da Previdência Social. Mas encontra obstáculos para os rendimentos de aplicações financeiras, Bolsas de Valores ou aluguéis, entre outros.
"Minha desconfiança é que a desigualdade não está caindo do ponto de vista da renda global. Isso porque a taxa de juros permanece em patamar muito alto e é instrumento de concentração de renda", diz Cláudio Dedecca, professor da Unicamp. Ele usa como argumento estatístico a comparação entre as variações do PIB (conjunto de bens e serviços produzidos no país), do PIB per capita (que divide o PIB pelo número de habitantes) e da renda de todos os trabalhos medida pela Pnad.
Entre 2002 e 2006, o PIB subiu 13,2%; o PIB per capita, 6,8%; e a renda dos trabalhos, 3,7%. "A riqueza cresceu mais que a renda do trabalho, o que faz com que, sozinha, a renda da Pnad não sirva como parâmetro de queda da desigualdade. Não podemos esquecer que a pesquisa capta só 40% da renda total contida no PIB", diz.
A economista Sônia Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), afirma que outros países enfrentam a mesma dificuldade e que os limites na captação de dados sobre as rendas do capital não anulam a constatação de que a desigualdade está em queda.
"Do ponto de vista internacional, a Pnad é das que cobrem melhor o tema. E mostra que a queda da desigualdade segue em ritmo forte. Por exemplo, usando como critério o nível de pobreza e indigência: são 2,8 milhões de pobres a menos somente entre 2006 e 2007", diz.
O economista Marcelo Neri diz que as pesquisas da Fundação Getulio Vargas também apontam para queda da desigualdade, mas ressalta que é difícil medir os rendimentos dos mais ricos: "A renda do capital é muito concentrada. Seriam necessários outros instrumentos para medi-la. Dados que estão com a Receita Federal, como o Imposto de Renda."
A coordenadora de pesquisas sobre trabalho e rendimento do IBGE, Márcia Quintslr, diz que o questionário da Pnad pergunta sobre todos os rendimentos, incluindo ganhos de capital. Mas reconhece que há dificuldade na obtenção de respostas completas.


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