São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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FOCO

Em muros e tocos de árvore, artista cria obras com objetos tirados do lixo

Alessandro Shinoda/Folhapress
Oartista plástico Thiago Bender, 32, em frente a uma de suas esculturas, batizada de "Paquidérmico", em praça do bairro Sumaré, na zona oeste de SP

RAPHAEL VELEDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em muros velhos com a pintura a cal já bem encardida surgem figuras multicoloridas de cães, garotos jogando futebol, flores. Não são pintadas, mas raspadas, aproveitando a série de cores que já cobriram o local.
Calçadas quebradas e tocos de árvores atraem olhares quando ganham mosaicos de tampas de garrafa ou coberturas de fios que tiveram o cobre furtado.
A rua é o estúdio do artista plástico Thiago Bender, 32, morador do Butantã (zona oeste de São Paulo).
É em praças que ninguém presta muita atenção, como a Ana Maria Poppovic, no Sumaré (também na zona oeste), que ele faz, em poucos dias, esculturas complexas e alegres que transformam a paisagem da cidade.
Bender já realizou mais de 200 intervenções em diversos bairros de São Paulo. Usa, principalmente, o que é considerado lixo. "Sempre paro quando vejo uma caçamba. Meu carro quase que só tem espaço pra mim. É cheio de sucata", conta.
"Meus amigos dizem que sou louco, porque até na balada eu junto coisas do lixo."
As obras do artista estão abertas à visitação o tempo todo. O "público", porém, está sempre muito apressado para prestar atenção.
Mas o artista agradece aos aplausos de quem tem mais tempo. "São crianças e moradores de rua que mais vem falar comigo."
A arte de Bender não começa do zero. "A parte principal da obra já esta lá. É a cidade. Eu só ando por ela procurando os lugares possíveis", explica o artista.
Escolhido o lugar, ele estaciona, desce com baldes de matéria-prima e ferramentas e trabalha rápido. "As raspagens faço em 15, 20 minutos. Já uma escultura são duas ou três tardes de trabalho."
Uma das esculturas, batizada de "Paquidérmico", é um tronco com mais de dois metros de altura que esperava para ser carregado pela prefeitura. "Cheguei antes", comemora Bender.
Na madeira morta o artista pregou centenas de tampas de plástico, latas coloridas e mangueiras descartadas da construção civil.
Dá para ver de longe o resultado. "Estava passando pelo outro lado da [avenida] Paulo 6º e vi. Resolvi dar a volta, porque ficou lindo", elogia a arquiteta Ana Clara Campos, 30. "Eu me interesso muito por arte urbana e o que gostei na obra dele é que vai muito além do grafite."
Vai além, mas também dialoga. Se um grafiteiro desenha usando a obra de Bender como parte do conjunto, é uma pequena glória para ele. "Essa arte é perecível. Está aqui para todo mundo ver e participar. Com o tempo, vai sumir, alguém vai pintar por cima, demolir. Mas precisa estar viva e mutante."


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