São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2000

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MARINGÁ
Câmara Municipal concede afastamento a Jairo Gianoto, investigado por Promotoria pelo desvio de dinheiro público
Prefeito acusado de corrupção pede licença

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O prefeito de Maringá, Jairo Gianoto (PSDB), pediu ontem à Câmara Municipal de Maringá licença por tempo indeterminado do cargo. O pedido -aceito- foi uma manobra para evitar que ele seja afastado judicialmente. O Ministério Público do Paraná encontrou depósitos da prefeitura em contas particulares de Gianoto.
O promotor de Defesa do Patrimônio Público José Aparecido Cruz, 46, disse que já estão comprovados desvios de R$ 3,150 milhões dos cofres do município.
Do dinheiro comprovadamente desviado, R$ 2,6 milhões foram depositados na conta do ex-secretário da Fazenda Luís Antônio Paolicchi; R$ 549 mil, nas contas bancárias de Gianoto no Banco do Brasil e no Banestado.
Segundo Cruz, cheques nominais emitidos à Prefeitura de Maringá foram endossados e depositados nas contas de Gianoto, no período que vai de outubro de 1997 a março de 1999.
"Foi uma ação de rapinagem pura e simples. Os desvios foram feitos com a certeza da impunidade, fica difícil acreditar que tenham tido tanta coragem", afirmou o promotor.
Gianoto, o ex-secretário Paolicchi e os funcionários municipais Jorge Aparecido Sossai e Rosemeire Castelhano Barbosa respondem a ação civil por crime de improbidade administrativa. Além deles, o advogado Waldemir Ronaldo Corrêia é acusado de ter se beneficiado dos desvios.
Barbosa e Sossai eram os funcionários encarregados de assinar os cheques da prefeitura e são acusados de cumplicidade.
Além da ação civil, o promotor Cruz solicitou ao centro de apoio do Ministério Público uma ação criminal contra Gianoto e os demais acusados.
O ex-secretário Paolicchi responde ainda a ação no Ministério Público Federal por sonegação fiscal e enriquecimento ilícito. Ele está com prisão preventiva decretada pela Justiça Federal.
O Ministério Público Federal investiga também ligações de Paolicchi com o crime organizado no Paraná. Ele mantinha ligações comerciais com Hissam Hussein, preso pela CPI do Narcotráfico da Assembléia Legislativa. Hussein é acusado de comandar a distribuição de drogas na região Sul.

Manobra
Ontem pela manhã, ao tomar conhecimento de que o promotor já tinha documentos que comprovavam depósitos em suas contas bancárias, Gianoto protocolou, às 11h30, requerimento na Promotoria de Defesa do Patrimônio Público em que registrava seu pedido de licença por tempo indeterminado. Com isso, ele evitou ser afastado judicialmente.
A justificativa de Gianoto para o pedido de licença era o interesse em facilitar o trabalho de auditores do Tribunal de Contas do Paraná no município.
Desde o início da semana, uma equipe do tribunal analisa as contas do município. A auditoria aconteceu após pedido formal do Ministério Público do Paraná.
Na tarde de ontem, os vereadores aprovaram, por 16 votos contra 4, o pedido de licença.
A aprovação da licença foi criticada pelos quatro vereadores que faziam oposição a Gianoto, Aldi Mertz (PDT), Décio Sperandio (PDT), Bia Correia (PT) e Arlene Lima (PMDB).
Segundo Bia Correia, o pedido "patético" de licença foi aprovado pela Câmara para resguardar Gianoto. A vereadora é processada pelo prefeito por ter denunciado, na Câmara, desvios no município.



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