KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A superpopulação de jumentos no interior do Ceará está fazendo com que o preço do animal em feiras e outros pontos de venda do Estado fique mais baixo. Na região de Quixadá, no sertão central, um jumento pode ser comprado por R$ 1. Há dois anos, ele custava R$ 5.
A grande procura por motos também reduziu o uso do animal.
Conhecido também como jegue, o jumento é típico do Nordeste. Não há estimativa de quantos existam no sertão.
O pouco uso do animal contribui para que ele tenha seu preço reduzido. As motos passaram a ser, ao lado das bicicletas, o principal meio de transporte do interior. O jumento passou a ser usado só para transportar objetos pesados. Após o uso, é abandonado.
Em 98, o animal foi usado no programa do governo federal Comunidade Solidária, que socorria cidades atingidas pela seca, para transportar alimentos.
A grande quantidade de jumentos criou uma rivalidade entre municípios na divisa entre Ceará e Pernambuco.
Prefeitos da região do Cariri, no sul do Ceará, pagam para que jumentos sejam levados ao outro lado da divisa. Em resposta, prefeitos pernambucanos pagam para que eles sejam devolvidos.

Literatura
A importância do jumento para a economia sertaneja sempre foi lembrada por poetas nordestinos.
Em Fortaleza, um museu planejado pelo padre Antônio Vieira, escritor que tem o jumento como principal tema de seus trabalhos, relembra a saga do animal na construção do Ceará.
O poeta popular Patativa do Assaré resumiu no poema "Meu caro jumento" as dificuldades vividas pelo animal: "Você, meu caro jumento / Foi quem teve a grande sorte / O grande merecimento / De servir como transporte / Na noite desta fugida / Defendendo a santa vida / De Cristo Nosso Senhor / Até no livro sagrado / Seu nome está carimbado / Mas ninguém te dá valor".
Para Patativa, o jumento é o animal mais importante do mundo, pois transportou o menino Jesus quando nasceu.



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