São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Aposentada grava acidentes de trânsito em frente à própria casa

Cansada de conviver com colisões, ela improvisou uma câmera na varanda

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cansada de ver (e ouvir) trombadas de carro em frente à (e na) sua casa, no cruzamento das ruas do Imperador e Coronel Jordão, na Vila Guilherme (zona norte de São Paulo), a aposentada Lúcia Pires Canavan, 69, resolveu gravar em vídeo amador os acidentes.
Improvisou uma câmera em cima de um galão de gasolina vazio, apoiado por duas listas telefônicas no janelão de vidro da varanda, e começou a registrar o movimento. Nos últimos meses, já filmou 30. O trabalho começa às 6h, quando ela acorda, e vai até as 19h30. Ou enquanto houver luz natural.
Já teve a casa atingida por 12 carros, um deles, uma Kombi, entrou pelo porão adentro.
"É cada susto que tomo", afirma a aposentada. "Ela está proibida de entrar no porão ou de ficar na calçada", diz o filho Ere José Canavan, 39, que vem acudir a mãe, hipertensa, a cada acidente.
A casa, de fachada branca, tem marcas de freada e o reboco caído em diversas partes. Até de sangue a parede está suja.
"Colocam o carro em cima do guincho e vão embora. E nós ficamos com o prejuízo", completa Ere José.
O problema no cruzamento da rua do Imperador, segundo os moradores, começou em dezembro passado, quando a Subprefeitura da Vila Maria/Vila Guilherme fez o recapeamento das ruas do bairro e cobriu as depressões para escoamento de água que havia nas interseções. Antes, motoristas se viam obrigados a reduzir a velocidade para não bater o motor no asfalto. Agora, não mais.
Vizinhos dizem que há seis meses ligam para a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) pedindo a instalação de um semáforo, até hoje sem resposta. A empresa diz que providenciou a sinalização (leia texto nesta página). Ontem, técnicos faziam a vistoria no local.
"Muitas vezes estamos dormindo e ouvimos um estrondo", afirma a moradora Tânia Mara Fialho, 61.
Duas pessoas já morreram no local, uma delas um motoqueiro atirado contra um poste. "Vamos pôr faixas", diz Ere José, sem se dar conta da proibição da Lei Cidade Limpa.
A vizinhança do cruzamento é totalmente residencial. Há pouco comércio no local, e o movimento de carros decorre do tráfego de moradores. Em frente à casa de Lúcia passam algumas linhas de ônibus.
A aposentada ficou famosa por manter uma câmera ligada ao menos 12 horas por dia. Hoje, motoristas acenam ao passar pelo cruzamento. Na tarde de ontem, uma motorista de um Corsa preto grita: "A senhora não estava na televisão?" "Não era eu, era minha irmã", desconversa Lúcia.


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