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Centro de SP só tem um banheiro público
Apenas o da praça Fernando Costa, mantido por ambulantes, funciona na região; os do Anhangabaú e da praça da República fecharam
Prefeitura estuda convênios com estabelecimentos, como postos de gasolina e bares, para oferecer banheiros ao público
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
DANIELA ALARCON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem for passear, fazer compras ou trabalhar nas ruas do
centro de São Paulo deve se
lembrar de usar o banheiro antes de sair de casa. Ou contar
com a estrutura de bares e lojas.
Circulam cerca de 2 milhões
de pessoas por dia na área central. Mas praticamente não
existem banheiros públicos na
região para essa população
usar. Os que ficam no vale do
Anhangabaú e na praça da República estão fechados -somente o primeiro, segundo a
prefeitura, abre em eventos.
É possível encontrar apenas
um sanitário público aberto e
em bom estado, perto da rua 25
de Março. O banheiro fica na
praça Fernando Costa e o usuário tem de pagar R$ 0,60. É
mantido pelos ambulantes autorizados a trabalhar no local.
As pessoas aprovam. "Está
sempre limpinho. Prefiro pagar
e saber que vai estar desinfetado e ter papel", diz a vendedora
Maryn Ferreira dos Santos.
Fora de ruas e praças, há banheiros dentro de parques, de
terminais de ônibus e em algumas estações de trem e metrô.
Motoristas de táxi com ponto
na região reclamam e dizem sofrer com a falta de sanitários.
"Na Itália, a minha terra, existem vários banheiros públicos.
Uma cidade do tamanho de São
Paulo também deveria ter", diz
o taxista Giuliano Landucci, 71,
que há dez anos trabalha perto
do Teatro Municipal.
Segundo o segurança do teatro, Maurício Cássio, muitos
passantes pedem para usar o
sanitário na área da bilheteria
-o que não é possível.
Lamducci costuma ir aos banheiro de lanchonetes. "Uma
vez, tive dor de barriga e o banheiro do bar estava sendo usado, foi um apuro."
Ao ar livre
No vale do Anhangabaú, é comum as pessoas pedirem para
usar o banheiro dentro de estabelecimentos. "Diversas clientes me pedem e eu deixo. Mas
os moradores de rua acabam fazendo na frente da porta da loja. Todo dia tenho de lavar", diz
Rosiane Alves dos Santos, dona
de uma papelaria.
O dono de uma banca no vale
chegou a colocar plantas com
espinhos para evitar que a área
seja usada como sanitário.
Muitas pessoas acabam fazendo suas necessidades na
rua, em postes, muros ou nas
praças. A reportagem flagrou,
na última semana, homens urinando nas praças da Sé e da República. Ontem, viu um motoqueiro fazer o mesmo na avenida 23 de Maio.
Leandro Ferreira Santos, 33,
há 20 anos morando na rua,
afirma, sem constrangimento,
que faz suas necessidades na lateral da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no largo do Paissandu.
"Não tenho mais vergonha. Às
vezes, algum segurança da igreja me xinga." Ele diz que usava
o banheiro do Anhangabaú,
mas diz que "o pessoal começou a zoar e eles fecharam".
O que fazer?
Há divergências entre urbanistas e até dentro da Prefeitura sobre a construção de banheiros públicos. Simoni Piragine, coordenadora de proteção
especial para adultos da Smads
(Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social), defende
a construção de banheiros públicos -para uso de moradores
de rua e de todos os que circulam pela região central.
Já o secretário Andrea Matarazzo (Subprefeituras), não
apóia a idéia da construção e
diz que a manutenção é complicada. Segundo ele, a prefeitura
pretende fazer convênios com
estabelecimentos -como postos de gasolina, bares e restaurantes- para que mantenham
banheiros abertos ao público.
Ele argumenta que o banheiro do Anhangabaú foi danificado três vezes num período de
um ano e meio e o da República,
outras "várias vezes", além de
ser utilizado para tráfico e consumo de drogas. "Faltam banheiros públicos, mas as pessoas não cuidam. A idéia de fazer convênios com estabelecimentos me pareceu a mais inteligente e adequada para SP."
Regina Monteiro, diretora da
Emurb (Empresa Municipal de
Urbanização), diz que estuda
esses convênios com particulares. Dessa forma, a prefeitura
não precisaria colocar guardas
e funcionários de limpeza nesses locais. Ela diz ter ficado horrorizada ao ver um homem defecando na praça da Sé. "Além
das praças, muitas ruas do centro cheiram mal", disse.
Na opinião de Francisco Segnini Júnior, professor da FAU,
os banheiros públicos só funcionam se houver pessoas cuidando o tempo todo. "O segredo [da manutenção] é o funcionário. A idéia da prefeitura, em
tese, me parece boa. Mas é preciso saber quem vai cuidar e como da manutenção."
O superintendente da Associação Viva o Centro, Marco
Antonio Ramos de Almeida, diz
que viu banheiros serem construídos e, depois, acabarem demolidos. "Falta gestão. Acaba
ocorrendo tráfico de drogas, sexo. Fica uma imundice e a vizinhança pede o fechamento."
Lucila Lacreta, urbanista do
Movimento Defenda São Paulo, também apóia a terceirização. "A prefeitura já tem coisas
demais para tomar conta."
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