São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Centro de SP só tem um banheiro público

Apenas o da praça Fernando Costa, mantido por ambulantes, funciona na região; os do Anhangabaú e da praça da República fecharam

Prefeitura estuda convênios com estabelecimentos, como postos de gasolina e bares, para oferecer banheiros ao público

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

DANIELA ALARCON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem for passear, fazer compras ou trabalhar nas ruas do centro de São Paulo deve se lembrar de usar o banheiro antes de sair de casa. Ou contar com a estrutura de bares e lojas.
Circulam cerca de 2 milhões de pessoas por dia na área central. Mas praticamente não existem banheiros públicos na região para essa população usar. Os que ficam no vale do Anhangabaú e na praça da República estão fechados -somente o primeiro, segundo a prefeitura, abre em eventos.
É possível encontrar apenas um sanitário público aberto e em bom estado, perto da rua 25 de Março. O banheiro fica na praça Fernando Costa e o usuário tem de pagar R$ 0,60. É mantido pelos ambulantes autorizados a trabalhar no local.
As pessoas aprovam. "Está sempre limpinho. Prefiro pagar e saber que vai estar desinfetado e ter papel", diz a vendedora Maryn Ferreira dos Santos.
Fora de ruas e praças, há banheiros dentro de parques, de terminais de ônibus e em algumas estações de trem e metrô.
Motoristas de táxi com ponto na região reclamam e dizem sofrer com a falta de sanitários. "Na Itália, a minha terra, existem vários banheiros públicos. Uma cidade do tamanho de São Paulo também deveria ter", diz o taxista Giuliano Landucci, 71, que há dez anos trabalha perto do Teatro Municipal.
Segundo o segurança do teatro, Maurício Cássio, muitos passantes pedem para usar o sanitário na área da bilheteria -o que não é possível.
Lamducci costuma ir aos banheiro de lanchonetes. "Uma vez, tive dor de barriga e o banheiro do bar estava sendo usado, foi um apuro."

Ao ar livre
No vale do Anhangabaú, é comum as pessoas pedirem para usar o banheiro dentro de estabelecimentos. "Diversas clientes me pedem e eu deixo. Mas os moradores de rua acabam fazendo na frente da porta da loja. Todo dia tenho de lavar", diz Rosiane Alves dos Santos, dona de uma papelaria.
O dono de uma banca no vale chegou a colocar plantas com espinhos para evitar que a área seja usada como sanitário.
Muitas pessoas acabam fazendo suas necessidades na rua, em postes, muros ou nas praças. A reportagem flagrou, na última semana, homens urinando nas praças da Sé e da República. Ontem, viu um motoqueiro fazer o mesmo na avenida 23 de Maio.
Leandro Ferreira Santos, 33, há 20 anos morando na rua, afirma, sem constrangimento, que faz suas necessidades na lateral da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no largo do Paissandu. "Não tenho mais vergonha. Às vezes, algum segurança da igreja me xinga." Ele diz que usava o banheiro do Anhangabaú, mas diz que "o pessoal começou a zoar e eles fecharam".

O que fazer?
Há divergências entre urbanistas e até dentro da Prefeitura sobre a construção de banheiros públicos. Simoni Piragine, coordenadora de proteção especial para adultos da Smads (Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social), defende a construção de banheiros públicos -para uso de moradores de rua e de todos os que circulam pela região central.
Já o secretário Andrea Matarazzo (Subprefeituras), não apóia a idéia da construção e diz que a manutenção é complicada. Segundo ele, a prefeitura pretende fazer convênios com estabelecimentos -como postos de gasolina, bares e restaurantes- para que mantenham banheiros abertos ao público.
Ele argumenta que o banheiro do Anhangabaú foi danificado três vezes num período de um ano e meio e o da República, outras "várias vezes", além de ser utilizado para tráfico e consumo de drogas. "Faltam banheiros públicos, mas as pessoas não cuidam. A idéia de fazer convênios com estabelecimentos me pareceu a mais inteligente e adequada para SP."
Regina Monteiro, diretora da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), diz que estuda esses convênios com particulares. Dessa forma, a prefeitura não precisaria colocar guardas e funcionários de limpeza nesses locais. Ela diz ter ficado horrorizada ao ver um homem defecando na praça da Sé. "Além das praças, muitas ruas do centro cheiram mal", disse.
Na opinião de Francisco Segnini Júnior, professor da FAU, os banheiros públicos só funcionam se houver pessoas cuidando o tempo todo. "O segredo [da manutenção] é o funcionário. A idéia da prefeitura, em tese, me parece boa. Mas é preciso saber quem vai cuidar e como da manutenção."
O superintendente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida, diz que viu banheiros serem construídos e, depois, acabarem demolidos. "Falta gestão. Acaba ocorrendo tráfico de drogas, sexo. Fica uma imundice e a vizinhança pede o fechamento."
Lucila Lacreta, urbanista do Movimento Defenda São Paulo, também apóia a terceirização. "A prefeitura já tem coisas demais para tomar conta."


Texto Anterior: Outro lado: CET diz que tráfego não vale semáforo
Próximo Texto: Em Londres, há até banheiro com massagista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.