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Fila da cidadania italiana leva 7 anos e tem 280 mil pessoas
No consulado em SP, quem fez pedido em 2002 foi chamado só agora para dar documentos
Força-tarefa foi criada para agilizar processo; um dos motivos para o pedido é interesse em ir para outros países da União Europeia
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os descendentes de italianos
que vivem no Brasil e querem
obter a cidadania daquele país
enfrentam uma fila de quase
280 mil pessoas só no consulado de São Paulo e têm de esperar em média sete anos para serem atendidas. Força-tarefa foi
criada há cinco meses nos sete
consulados no país, mas o tempo de espera não diminuiu.
A cidadania espanhola, por
exemplo, demora cerca de seis
meses para ser concedida.
Quem entrou com o pedido
de reconhecimento da cidadania italiana em outubro de
2002 só foi chamado neste ano
para apresentar a documentação (certidões de nascimento,
casamento etc., próprios e dos
ascendentes). Ainda é preciso
esperar a análise da papelada, o
que pode levar alguns dias.
A justificativa do consulado
pelo grande tempo de espera é
que, a cada dia, há mais pedidos
e só agora existe um empenho
maior para reduzi-lo. Estima-se que haja 30 milhões de descendentes de italianos no Brasil, sendo 13 milhões no Estado
de São Paulo.
De acordo com o vice-cônsul
da Itália em São Paulo, Marco
Leone, entre maio e o início
deste mês, cerca de 6.500 pedidos de concessão de cidadania
foram analisados. "O processo
passou a ser mais rápido. Agora, nosso objetivo é reduzir o
tempo de espera para dois
anos", afirmou.
Além da demora na fila, outra
dificuldade para obter a nacionalidade é juntar documentos e
traduzi-los para o italiano -é
preciso contratar os serviços de
um tradutor juramentado.
O engenheiro agrônomo Luiz
Rogério Abbate é um dos que tiveram problema. Ele esperou
15 anos -na primeira vez em
que apresentou a documentação, havia incorreções, e a demora foi maior que a habitual.
Outro empecilho foi que seu
sobrenome estava registrado
de forma diferente da de seu bisavô italiano. "Sempre assinei
Abbade. Depois, tive de mudar
para Abbate." Foi no início do
ano que conseguiu a cidadania,
usada principalmente para viagens de negócio. "Quando seu
passaporte é do Terceiro Mundo, você tem de enfrentar filas
nos aeroportos. Quando é do
Primeiro, não precisa."
Sem apresentar levantamento oficial, o consulado diz que
turismo, estudo e trabalho são
as principais motivações para o
pedido de cidadania.
O foco não é sempre a Itália.
Como os 27 Estados-membros
da União Europeia não exigem
vistos de permanência de seus
cidadãos, muitos querem usar a
cidadania para facilitar a entrada em outros países, principalmente no Reino Unido.
Há também os que pensam
em ter a cidadania para os sucessores. "Já tenho minha vida
no Brasil, por isso pensei em tirar a cidadania para um filho
usufruir", diz o engenheiro florestal Alexandre Binelli, que
tem a cidadania portuguesa e
espera, desde 2002, na fila da
italiana.
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