São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2001

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SEGURANÇA

Detentos da Penitenciária usaram túnel cavado de fora para dentro do complexo; só 18 presos foram recapturados

108 escapam na maior fuga do Carandiru

Caio Guatelli/Folha Imagem
Policiais vasculham rede de esgoto da avenida Ataliba Leonel à procura de fugitivos do Carandiru


PALOMA COTES
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Complexo Penitenciário do Carandiru registrou ontem a maior fuga de sua história. No total, 108 detentos escaparam da Penitenciária do Estado (zona norte), por meio de um túnel, cavado de fora para dentro do presídio, segundo as primeiras análises.
Até a conclusão desta edição, apenas 18 haviam sido recapturados. A penitenciária tinha, antes da fuga, 1.608 detentos. Há cerca de 10 mil presos no Complexo do Carandiru, que abriga também a Casa de Detenção e o Centro de Observação Criminológica.
Em julho, 106 presos haviam fugido da Detenção por meio de um túnel que também havia sido cavado de fora para dentro. O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, disse que só neste ano foram descobertos 37 túneis no complexo.
Segundo Furukawa, a fuga aconteceu entre 8h20 e 9h30 na oficina de vassouras, onde, costumeiramente, trabalham 60 presos. Ele afirmou que, pelas informações obtidas com a diretoria da penitenciária, quatro funcionários que estavam na oficina foram rendidos pelos detentos.
O secretário disse que as armas já estavam em poder dos presidiários, mas não soube dizer se eram armas de fogo (revólveres ou pistolas) ou brancas (facas e estiletes, por exemplo).
Apesar de 60 presos trabalharem na oficina, Furukawa disse que pelo local transitam outros detentos porque as celas ficam abertas e há um corredor que dá acesso ao local de trabalho.
Furukawa não quis afirmar se houve participação de servidores na fuga, mas informou que uma sindicância foi aberta. Sobre a presença de armas dentro da penitenciária, o secretário disse que "ou a revista foi mal feita ou alguém deixou entrar".
A fuga aconteceu no mesmo dia em que o governador Geraldo Alckmin assinava convênio com o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, para a construção de mais seis Centros de Detenção Provisória (CDPs), que começam a ser feitos a partir do próximo mês em municípios da região metropolitana e do interior.

PCC
Um dos fugitivos é Alejando Herbas Camacho Júnior, irmão de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, um dos principais líderes do PCC, preso desde março na Penitenciária Federal da Papuda, em Brasília. Trinta dos detentos seriam integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
A PM montou um "esquema de guerra" para a recaptura dos presos. A ação envolveu 350 policiais da cavalaria, da Tropa de Choque, do COE (Comando de Operações Especiais), entre outros, mas obteve poucos resultados.
Às 10h, o comandante da Tropa de Choque, Osvaldo de Barros Júnior, falava em mais de 120 fugitivos. Para ele, o intervalo de uma hora e dez minutos entre o início da fuga e a descoberta pela polícia facilitou a ação dos fugitivos.
A CET somente interditou a avenida Ataliba Leonel, onde fica o Carandiru, às 10h30, uma hora depois de a polícia ter conhecimento da fuga. A avenida permaneceu interditada até as 16h30.
Os presos recapturados somente foram reconhecidos por estarem sujos. Alguns abordaram motoristas e furtaram três carros nas proximidades do complexo. Outros, corriam pelas avenidas e ruas do bairro. Um deles chegou a tomar banho em um lava-rápido que fica a menos de 100 metros do presídio, segundo testemunhas.
Até a conclusão desta edição, porém, a polícia ainda não havia descoberto o local onde foi iniciada a escavação e somente suspeitava que o túnel estaria localizado em alguma residência próxima ao Complexo do Carandiru.
Os dois primeiros fugitivos foram recapturados por volta das 10h, perto da estação Parada Inglesa do metrô. Outros dois foram descobertos na rua Duarte de Azevedo, em Santana. Os demais 14, condenados por tráfico, roubo e homicídio, foram recapturados a três quilômetros do presídio. Todos foram encaminhados ao 9º DP, onde tomaram banho e prestaram depoimento.
A polícia não descartou a possibilidade de haver fugitivos a mais de 20 quilômetros da penitenciária. Por esse motivo, o comandante Barros aconselhava os moradores da região a fecharem suas casas e evitarem as ruas próximas.
Três policiais do COE equipados com cilindros de ar e roupas especiais realizaram, por duas horas, uma varredura em 110 metros da tubulação da avenida Ataliba Leonel. Não encontraram ninguém. Segundo o tenente José Luís Gonçalves, não havia iluminação e os policiais precisavam percorrer as galerias ajoelhados.



Colaborou o "Agora"



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