São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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TRANSPORTES

Valor foi considerado "assustador" pelo secretário Jilmar Tatto, que promete definir reajuste de ônibus nos próximos dias

Viações querem R$ 1,91 por passageiro

ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários de ônibus reivindicaram ontem ao novo secretário dos Transportes do governo Marta Suplicy, Jilmar Tatto, uma remuneração de R$ 1,91 por passageiro transportado em São Paulo para cobrir as despesas do sistema e evitar atrasos salariais.
O valor, 36,4% superior à atual tarifa de R$ 1,40, foi solicitado na primeira reunião dos representante do setor com Tatto, um dia após ele assumir a pasta. Ele se contrapõe a cálculos aproximados da Folha a partir de planilha da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP), que indicam um custo entre R$ 1,46 e R$ 1,52 por usuário.
Os donos das empresas de ônibus também cobraram uma sinalização rápida da prefeitura sobre a elevação tarifária. O presidente do Transurb (sindicato patronal), Sérgio Pavani, disse que nenhum empresário tem dinheiro para pagar a primeira parcela do 13º.
Pavani afirmou que as viações tentarão empréstimos bancários para tentar pagá-la, mas que os bancos precisarão acreditar "que vai haver esse aumento de tarifa".
A pressão dos empresários contra a prefeitura foi reforçada um dia depois de Marta ter dado razão às reivindicações para a revisão da passagem de ônibus.
O preço de R$ 1,91 por passageiro pedido pelo setor patronal é baseado, segundo Pavani, na atualização dos custos apurados pela Fipecafi (Fundo Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras, da USP) no primeiro semestre de 2001. Na época, enquanto a Fipe, contratada pela prefeitura, indicava uma despesa entre R$ 1,27 e R$ 1,32 por usuário, a Fipecafi, contratada pelas empresas, apontava R$ 1,52.
O valor reivindicado pelo setor patronal foi considerado "assustador" por Tatto. "Eu falei que a população não suporta R$ 1,91. Pareceu-me exagerado. Eles estão mostrando as planilhas deles, vamos fazer as nossas, e veremos se entramos em um entendimento."
Tatto disse acreditar que as viações farão os depósitos do 13º salário e afirmou que a decisão sobre a elevação da tarifa será tomada nos próximos dias. Anteontem, Marta disse que ela dependia de análise e não poderia ser definida em "uma ou duas semanas".
Ao dar razão aos empresários para a elevação da tarifa, Marta citou dois aumentos salariais e três reajustes de diesel desde maio de 2001, quando a passagem era de R$ 1,15 e subiu 21,74%, superando os 14,6% de inflação.
As planilhas da Fipe indicam que, embora a discussão sobre a alta da passagem só tenha começado após as eleições, sob a alegação de que houve reajuste do diesel, os principais fatores para a defasagem aconteceram na metade do ano, quando os motoristas tiveram um aumento de 6%.
A folha de pagamento representa 57,69% dos custos das viações de ônibus. O diesel, 12,76%.
Considerando apenas os aumentos salariais de 2001 e 2002 e uma elevação aproximada de 60% do diesel desde então, os valores da tarifa ficariam atualmente entre R$ 1,46 e R$ 1,52.
Na avaliação de dois empresários de ônibus ouvidos pela Folha, essa projeção indica que a passagem, se não houver subsídios da prefeitura, deverá se aproximar de R$ 1,60. O excedente se deve ao fato de as viações não serem remuneradas pela tarifa integral. Do R$ 1,40 cobrado hoje dos passageiros, por exemplo, em torno de R$ 1,30 vai para as empresas -sendo que a verba restante é utilizada para bancar gratuidades.
Desde que a prefeitura aumentou a tarifa, a média de passageiros nos dias úteis caiu mais de 2%.
O reajuste também terá um impacto significativo na inflação, uma das principais preocupações do governo Lula. O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, que nos dez primeiros meses deste ano acumulava 5,14%, sofrerá impacto de 0,53 ponto percentual se a passagem for para R$ 1,60.

Subsídio
O secretário das Finanças, João Sayad, disse ontem que a prefeitura não tem dinheiro para conceder subsídios para as empresas de ônibus. O Orçamento 2003 é de R$ 10,1 bilhões. "Não prevemos um ano de bonança. Para interesses muito importantes, ainda é um orçamento inadequado."
Técnicos do governo estudam a concessão de auxílio aos empresários, mesmo que indiretos.


Colaborou FABIANE LEITE, da Reportagem Local


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