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SEGURANÇA
Grupo é acusado de desvio de cargas roubadas e de narcotráfico; drogas e cheques foram achados em delegacia de Guarulhos
Descoberta quadrilha de policiais em SP
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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O investigador da Polícia Civil Cláudio Vieira Machado (centro), que foi preso ontem em sua casa |
RUBENS VALENTE
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com base em dois meses de interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal a pedido do Ministério Público Federal de Guarulhos (SP), três policiais civis da
principal delegacia de repressão a
entorpecentes da cidade, a Dise,
foram presos ontem sob a acusação de formar uma quadrilha que
teria praticado crimes diversos,
como desvio de cargas roubadas,
extorsão e narcotráfico.
Em poder de um dos investigadores, Cláudio Vieira Machado,
foram apreendidas duas Mercedes, avaliadas em R$ 140 mil. Nas
casas dos policiais foram achados
alimentos enlatados e produtos
de higiene que teriam sido desviados de cargas apreendidas.
"Era uma quadrilha incrustada
na polícia", disse o procurador da
República Matheus Baraldi Magnani, 27, um dos cinco autores da
denúncia. O único preso que se
manifestou sobre o caso negou as
acusações.
O investigador que chefiava
uma das seis equipes da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) e principal alvo da
polícia ontem, Roberto Raymundo de Andrade, conseguiu escapar das buscas -deflagradas às
7h15 simultaneamente nas casas
dos acusados- e ontem à tarde já
era considerado foragido. Foram
presos, além de Machado, os investigadores Mário Biágio Masullo e João Trindade de Mello.
A denúncia paralisou a Dise,
onde os quatro policiais trabalhavam, e jogou-a no próprio centro
da denúncia: numa blitz, pela manhã, enquanto os policiais eram
presos, promotores do Gaeco
(Grupo Especial de Repressão ao
Crime Organizado), que também
participaram da operação, encontraram trouxas de cocaína e maconha sem etiquetagem, documentos falsificados, 38 cheques
pré-datados no valor aproximado
de R$ 40 mil e uma metralhadora
com numeração raspada embaixo do sofá da sala do plantão.
Às 8h30, quando a força-tarefa
entrou na Dise, o delegado seccional de Guarulhos, João Roque,
impediu a tomada de imagens no
local e minimizou a importância
da operação: "É uma inspeção de
rotina do Ministério Público".
A "Operação Coruja", como foi
batizada, abriu uma crise entre
promotores de Justiça e delegados
e agentes da Corregedoria que
atuaram nas buscas. Os promotores reclamaram à imprensa, nos
bastidores, que os policiais da
Corregedoria teriam se negado a
recolher certos documentos -o
que acabaram fazendo, após insistência dos promotores.
Escutas
As gravações da Polícia Federal
indicaram, segundo a Procuradoria da República, que os policiais
se valiam de informantes e até de
um suposto grampo telefônico
em unidade da própria Polícia Civil para ter acesso a cargas apreendidas pela polícia e reparti-las entre eles e seus parentes.
Numa das conversas grampeadas, às quais a Folha teve acesso, o
investigador Cláudio Machado
discute com um informante a
possibilidade de vender um caminhão "cabritado" (com a numeração do motor adulterada) e poder
obter dinheiro de um homem investigado pela polícia.
Machado perguntou ao informante se o homem tinha muito
dinheiro, se tinha "nota" para
"cem, 200 paus". Com a resposta
afirmativa, Machado contou que
a estratégia seria prender a mulher do acusado e deixá-lo solto,
para responder ao processo em liberdade. "Com a mulher dá pra
fazer negócio também", concluiu.
Em outro trecho, o investigador
Mário Masullo telefonou para sua
mulher, Francine, para recomendar que ela não comprasse calcinhas, porque os policiais teriam
apreendido uma grande carga de
roupas íntimas. "Eu estava na
abordagem aqui. Catamos um negócio. (...) Oitenta e duas mil peças. Setenta mil, sei lá, um negócio
assim", conta Masullo, rindo.
O procurador, na denúncia, ironizou a quantidade de falas que
tratavam de supostos crimes:
"Em 95% do tempo em que passavam acordados, os integrantes
da quadrilha estavam a engendrar
empreitadas criminosas".
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