São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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VESTIBULAR

Em 1996, medicina, direito e engenharia representavam 30,63% dos inscritos; no exame que começa hoje, são 18,91%

Cursos tradicionais perdem "peso" na Fuvest

SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL

O jaleco branco, a pompa dos tribunais e o glamour do título de engenheiro já não despertam tanto interesse nos candidatos da Fuvest -cuja primeira fase do exame acontece hoje. Nos últimos dez anos, medicina, direito e engenharia da Poli (Escola Politécnica) perderam participação no total dos candidatos.
As três carreiras ainda são as mais procuradas do vestibular da USP, mas o peso delas caiu. No processo seletivo para 1996, os interessados nos três cursos eram 30,63% do total. Hoje, são 18,91%.
"Os tradicionais dão a impressão de segurança aos jovens. A família transmite essa idéia", afirma a psicopedagoga Maria Beatriz de Oliveira, coordenadora do Serviço de Orientação Profissional e Vocacional da Unesp de Araraquara. "Mas hoje há a uma grande oferta de novos cursos."
Há uma década, a Fuvest tinha 74 carreiras, com 8.251 cadeiras disponíveis -incluindo cursos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que integravam o vestibular.
Hoje, são cem carreiras, com 10.247 vagas oferecidas. Nomes como design, ciências biomoleculares e química ambiental passaram a figurar entre carreiras tradicionais como economia, administração, engenharia e direito.
Para Oliveira, outros fatores podem influenciar os estudantes a abandonar os cursos "quatrocentões": as dificuldades no mercado de trabalho e a divulgação na mídia de cursos mais pops.
"Muitos estudantes dizem não querer engenharia porque vêem engenheiros vendendo cachorro-quente. Eles têm essa impressão, mas isso não é verdade no conjunto da carreira", conta Oliveira.
Erica Sayuri Ide, 19, é um exemplo de vestibulando que resolveu "inovar". Ela busca uma vaga em audiovisual, que é oferecido pela ECA (Escola de Comunicações e Artes). A aluna conta que teve de explicar bem para a família sobre o que se trata o curso. "Ninguém conhecia em casa", conta.
Segundo Fernando Dias, consultor profissional da Career Center, os estudantes, mais do que no passado, procuram graduações compatíveis com suas personalidades e gostos. "A decisão ainda é influenciada pelo momento econômico. Mas começou a haver uma preocupação maior por carreiras com as quais os jovens se identificam", afirma.
Quando há dúvida, porém, Dias afirma que os jovens optam pelas carreiras mais conhecidas.
Indecisos ou não, a Fuvest recomenda que todos os candidatos cheguem hoje ao local de prova uma hora antes do início do exame, que será às 13h.

Glamour
Em busca de uma vida profissional mais segura -e financeiramente mais rentável-, a estudante Ana Claudia Peres, 18, tenta uma vaga em direito. "Quero ser juíza, porque o status é bom, o trabalho é menor do que o do advogado. A responsabilidade de decidir uma causa me atrai."
Apesar da queda dos últimos anos, direito, engenharia e medicina continuam prestigiados. Só esta última leva hoje mais de 12 mil concorrentes ao exame. Mas o número dos que querem adotar o juramento de Hipócrates e zelar pelo "bem dos doentes" era ainda maior há uma década: 14.486.
Uma das explicações para a queda é que a oferta de vagas também caiu. Em 1996, a Unifesp -que passou a ter vestibular independente- oferecia 110 das 485 vagas de medicina. Atualmente, a Fuvest tem 375, contando com as da Santa Casa.


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