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VESTIBULAR
Em 1996, medicina, direito e engenharia representavam 30,63% dos inscritos; no exame que começa hoje, são 18,91%
Cursos tradicionais perdem "peso" na Fuvest
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
O jaleco branco, a pompa dos
tribunais e o glamour do título de
engenheiro já não despertam tanto interesse nos candidatos da Fuvest -cuja primeira fase do exame acontece hoje. Nos últimos
dez anos, medicina, direito e engenharia da Poli (Escola Politécnica) perderam participação no
total dos candidatos.
As três carreiras ainda são as
mais procuradas do vestibular da
USP, mas o peso delas caiu. No
processo seletivo para 1996, os interessados nos três cursos eram
30,63% do total. Hoje, são 18,91%.
"Os tradicionais dão a impressão de segurança aos jovens. A família transmite essa idéia", afirma
a psicopedagoga Maria Beatriz de
Oliveira, coordenadora do Serviço de Orientação Profissional e
Vocacional da Unesp de Araraquara. "Mas hoje há a uma grande
oferta de novos cursos."
Há uma década, a Fuvest tinha
74 carreiras, com 8.251 cadeiras
disponíveis -incluindo cursos
da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos),
que integravam o vestibular.
Hoje, são cem carreiras, com
10.247 vagas oferecidas. Nomes
como design, ciências biomoleculares e química ambiental passaram a figurar entre carreiras tradicionais como economia, administração, engenharia e direito.
Para Oliveira, outros fatores podem influenciar os estudantes a
abandonar os cursos "quatrocentões": as dificuldades no mercado
de trabalho e a divulgação na mídia de cursos mais pops.
"Muitos estudantes dizem não
querer engenharia porque vêem
engenheiros vendendo cachorro-quente. Eles têm essa impressão,
mas isso não é verdade no conjunto da carreira", conta Oliveira.
Erica Sayuri Ide, 19, é um exemplo de vestibulando que resolveu
"inovar". Ela busca uma vaga em
audiovisual, que é oferecido pela
ECA (Escola de Comunicações e
Artes). A aluna conta que teve de
explicar bem para a família sobre
o que se trata o curso. "Ninguém
conhecia em casa", conta.
Segundo Fernando Dias, consultor profissional da Career Center, os estudantes, mais do que no
passado, procuram graduações
compatíveis com suas personalidades e gostos. "A decisão ainda é
influenciada pelo momento econômico. Mas começou a haver
uma preocupação maior por carreiras com as quais os jovens se
identificam", afirma.
Quando há dúvida, porém, Dias
afirma que os jovens optam pelas
carreiras mais conhecidas.
Indecisos ou não, a Fuvest recomenda que todos os candidatos
cheguem hoje ao local de prova
uma hora antes do início do exame, que será às 13h.
Glamour
Em busca de uma vida profissional mais segura -e financeiramente mais rentável-, a estudante Ana Claudia Peres, 18, tenta
uma vaga em direito. "Quero ser
juíza, porque o status é bom, o
trabalho é menor do que o do advogado. A responsabilidade de
decidir uma causa me atrai."
Apesar da queda dos últimos
anos, direito, engenharia e medicina continuam prestigiados. Só
esta última leva hoje mais de 12
mil concorrentes ao exame. Mas o
número dos que querem adotar o
juramento de Hipócrates e zelar
pelo "bem dos doentes" era ainda
maior há uma década: 14.486.
Uma das explicações para a
queda é que a oferta de vagas também caiu. Em 1996, a Unifesp
-que passou a ter vestibular independente- oferecia 110 das
485 vagas de medicina. Atualmente, a Fuvest tem 375, contando com as da Santa Casa.
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