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O homem gritava por socorro com um desespero de morte
ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Quando comecei a pensar
no que havia acontecido, já
estava deitado numa calçada
tentando me proteger no aço
de uma das rodas do carro.
À minha frente, também
deitados, o repórter-fotográfico Apu Gomes e, centímetros à frente, um homem com
a camisa branca toda lambuzada de sangue. Um tiro o
acertou na barriga.
Ele gritava por socorro
com desespero de morte. Seu
suplício sensibilizou outras
pessoas e, atrás de mim, uma
mulher começou a chorar.
Um repórter-fotográfico
pedia ajuda aos homens do
Exército, que não se mexiam.
O motorista da Folha,
Paulão, gritava pedindo ajuda e tentava, ao mesmo tempo, ligar para o resgate; "ninguém atende", gritava.
Eu olhava o homem ferido
[Rogério Cavalcante, 34].
Pensava mais um pouco e
lembrava ter escutado um
grande disparo. Não sei de
onde veio. O barulho foi muito alto. Muito mais forte que
os milhares que ouvi durante
o dia de operação.
Minutos depois soube que
um repórter-fotográfico também foi ferido no mesmo ataque [Paulo Whitaker, da Reuters]. Eu não o conhecia, mas
era um colega de profissão.
Poderia ter sido eu ou qualquer um que estivesse passando por ali naquele momento. Não tenho dúvidas de
que estamos em uma guerra.
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