São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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O homem gritava por socorro com um desespero de morte

ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Quando comecei a pensar no que havia acontecido, já estava deitado numa calçada tentando me proteger no aço de uma das rodas do carro.
À minha frente, também deitados, o repórter-fotográfico Apu Gomes e, centímetros à frente, um homem com a camisa branca toda lambuzada de sangue. Um tiro o acertou na barriga.
Ele gritava por socorro com desespero de morte. Seu suplício sensibilizou outras pessoas e, atrás de mim, uma mulher começou a chorar.
Um repórter-fotográfico pedia ajuda aos homens do Exército, que não se mexiam.
O motorista da Folha, Paulão, gritava pedindo ajuda e tentava, ao mesmo tempo, ligar para o resgate; "ninguém atende", gritava.
Eu olhava o homem ferido [Rogério Cavalcante, 34]. Pensava mais um pouco e lembrava ter escutado um grande disparo. Não sei de onde veio. O barulho foi muito alto. Muito mais forte que os milhares que ouvi durante o dia de operação.
Minutos depois soube que um repórter-fotográfico também foi ferido no mesmo ataque [Paulo Whitaker, da Reuters]. Eu não o conhecia, mas era um colega de profissão. Poderia ter sido eu ou qualquer um que estivesse passando por ali naquele momento. Não tenho dúvidas de que estamos em uma guerra.


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