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CÍCERO LAURENTINO DA SILVA, 22
"Tenho vergonha de mim; queria ter uma vida normal"
Muitos conhecidos meus
já morreram. Acho que foram
uns sete, por aí. A situação
está piorando cada vez mais
e a lei não faz nada.
Medo, eu mesmo não tenho. Quem vive na rua acaba
não tendo muita opção.
Durmo na rua do Sol, sempre sozinho, porque dormir
perto de vagabundo para
mim é malícia. Minha vida
sempre foi na luta.
Eu tinha na base de dez
anos quando o namorado da
minha mãe pediu para ela escolher entre ficar com ele ou
comigo. Ela ficou com ele e
me deixou com a minha tia.
A gente morava em Atalaia, no interior. Foi um sofrimento, velho. Apanhei muito. Chorava e apanhava mais.
Com 12 anos, eu fui embora
para Maceió. Fui para a casa
da minha mãe, que já tinha
se separado do rapaz.
Comecei a catar lata na rua
e conheci uns amiguinhos.
Conheci um cara que me viciou na maconha. Fui preso
porque roubei um celular e
por causa de droga.
Depois que eu saí, trabalhei como ambulante. Foi um
tempo bom aquele. O problema é que arrumei uma mulher que usava noia [crack]
com maconha misturada.
Fui morar com ela em um
quartinho alugado. Foi a coisa ruim que eu fiz. Em três
meses perdi tudo.
Eu tenho uma filha que hoje está com quatro anos. Queria ficar com ela, mas tenho
vergonha de mim. Só queria
uma vida normal.
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