São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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CÍCERO LAURENTINO DA SILVA, 22

"Tenho vergonha de mim; queria ter uma vida normal"

Muitos conhecidos meus já morreram. Acho que foram uns sete, por aí. A situação está piorando cada vez mais e a lei não faz nada.
Medo, eu mesmo não tenho. Quem vive na rua acaba não tendo muita opção.
Durmo na rua do Sol, sempre sozinho, porque dormir perto de vagabundo para mim é malícia. Minha vida sempre foi na luta.
Eu tinha na base de dez anos quando o namorado da minha mãe pediu para ela escolher entre ficar com ele ou comigo. Ela ficou com ele e me deixou com a minha tia.
A gente morava em Atalaia, no interior. Foi um sofrimento, velho. Apanhei muito. Chorava e apanhava mais. Com 12 anos, eu fui embora para Maceió. Fui para a casa da minha mãe, que já tinha se separado do rapaz.
Comecei a catar lata na rua e conheci uns amiguinhos. Conheci um cara que me viciou na maconha. Fui preso porque roubei um celular e por causa de droga.
Depois que eu saí, trabalhei como ambulante. Foi um tempo bom aquele. O problema é que arrumei uma mulher que usava noia [crack] com maconha misturada.
Fui morar com ela em um quartinho alugado. Foi a coisa ruim que eu fiz. Em três meses perdi tudo.
Eu tenho uma filha que hoje está com quatro anos. Queria ficar com ela, mas tenho vergonha de mim. Só queria uma vida normal.


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