São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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Ano letivo começa com crise em faculdades

Três instituições particulares de São Paulo enfrentam greve por causa do atraso de salários e demitem professores

Dificuldades enfrentadas por universidades são, de acordo com especialistas, reflexo do forte crescimento no número de vagas

Rodrigo Paiva/Folha Imagem
Estudantes da Unisa (Universidade de Santo Amaro) protestam contra demissão de 50 dos 150 professores do curso de medicina

DA REPORTAGEM LOCAL

Três tradicionais universidades particulares de São Paulo passam por uma situação de crise e enfrentam problemas no reinício das aulas.
São elas: Unib (Universidade Ibirapuera), Universidade São Marcos e Unisa (Universidade de Santo Amaro). Juntas, as três instituições respondem por cerca de 30 mil alunos.
As duas primeiras enfrentam greves de professores em decorrência de atrasos nos salários desde novembro. A terceira (Unisa) demitiu, nos últimos meses, 50 dos 150 docentes do seu curso de medicina, que existe há 40 anos.
As demissões na Unisa revoltaram os alunos do 5º e do 6º anos, que decidiram não assistir às aulas até a reposição total dos docentes. Em nota, a Unisa diz que já contratou professores, mas os alunos afirmam que há disciplinas sem docentes. A mensalidade é de R$ 2.952.

Expansão e crise
As dificuldades nas universidades são, segundo especialistas no setor, reflexo do forte crescimento na oferta de vagas desde a metade dos anos 90, quando o Ministério da Educação diminuiu as exigências para abertura de cursos. O problema é que a demanda não cresceu na mesma proporção.
De 1998 a 2006 (último dado disponibilizado pelo MEC), o número de instituições de ensino superior em São Paulo passou de 322 para 540 (um aumento de 67,7%). Já o total de alunos formados no ensino médio teve ligeira queda -de 479.920 para 479.432.
Em meio a um cenário de acirramento da concorrência, o presidente do Semesp (sindicato das instituições privadas de SP), Hermes Figueiredo, diz que as universidades tradicionais estão com dificuldades para concorrer com faculdades e centros universitários, que precisam cumprir exigências menos rígidas (como número de docentes com doutorado).
"Essas escolas podem ganhar alunos por meio de mensalidades baixas. Com a competição, as universidades foram compelidas a entrar na guerra por preço. Umas não conseguem", diz.
"A Unisa é simbólica", afirma o diretor do Sinpro-SP (sindicato dos professores), Walter Alves. "O curso de medicina é tradicional, faz pesquisa. Mas a reitoria diz que precisa cortar custos para ter competitividade. É como tem agido o setor, mesmo que caía a qualidade."

Reestruturação
Nos últimos anos, em decorrência desse cenário de muita competitividade, o setor passa por forte reestruturação. Houve fusões, incorporações e algumas escolas fecharam, como a Faculdade São Luís (400 alunos), que encerrou as atividades no final de 2008.
O MEC diz que tem sido mais rígido na autorização de cursos. A pasta diz que os dados do Censo da Educação Superior 2007, a ser divulgado nesta semana, mostrará desaceleração.
O consultor Carlos Monteiro concorda que o aumento da oferta foi desproporcional à demanda, mas entende também que problemas de gestão e de qualidade de ensino agravam a situação. "Há também o desencanto. O aluno não encontra o que procura no curso e desiste." (FÁBIO TAKAHASHI, MÁRCIO PINHO E RICARDO WESTIN)


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