|
Próximo Texto | Índice
Ano letivo começa com crise em faculdades
Três instituições particulares de São Paulo enfrentam greve por causa do atraso de salários e demitem professores
Dificuldades enfrentadas por universidades são, de acordo com especialistas, reflexo do forte crescimento no número de vagas
Rodrigo Paiva/Folha Imagem
|
|
Estudantes da Unisa (Universidade de Santo Amaro) protestam contra demissão de 50 dos 150 professores do curso de medicina
DA REPORTAGEM LOCAL
Três tradicionais universidades particulares de São Paulo
passam por uma situação de
crise e enfrentam problemas
no reinício das aulas.
São elas: Unib (Universidade
Ibirapuera), Universidade São
Marcos e Unisa (Universidade
de Santo Amaro). Juntas, as
três instituições respondem
por cerca de 30 mil alunos.
As duas primeiras enfrentam
greves de professores em decorrência de atrasos nos salários desde novembro. A terceira (Unisa) demitiu, nos últimos
meses, 50 dos 150 docentes do
seu curso de medicina, que
existe há 40 anos.
As demissões na Unisa revoltaram os alunos do 5º e do 6º
anos, que decidiram não assistir às aulas até a reposição total
dos docentes. Em nota, a Unisa
diz que já contratou professores, mas os alunos afirmam que
há disciplinas sem docentes. A
mensalidade é de R$ 2.952.
Expansão e crise
As dificuldades nas universidades são, segundo especialistas no setor, reflexo do forte
crescimento na oferta de vagas
desde a metade dos anos 90,
quando o Ministério da Educação diminuiu as exigências para
abertura de cursos. O problema
é que a demanda não cresceu
na mesma proporção.
De 1998 a 2006 (último dado
disponibilizado pelo MEC), o
número de instituições de ensino superior em São Paulo passou de 322 para 540 (um aumento de 67,7%). Já o total de
alunos formados no ensino médio teve ligeira queda -de
479.920 para 479.432.
Em meio a um cenário de
acirramento da concorrência, o
presidente do Semesp (sindicato das instituições privadas de
SP), Hermes Figueiredo, diz
que as universidades tradicionais estão com dificuldades para concorrer com faculdades e
centros universitários, que precisam cumprir exigências menos rígidas (como número de
docentes com doutorado).
"Essas escolas podem ganhar
alunos por meio de mensalidades baixas. Com a competição,
as universidades foram compelidas a entrar na guerra por preço. Umas não conseguem", diz.
"A Unisa é simbólica", afirma
o diretor do Sinpro-SP (sindicato dos professores), Walter
Alves. "O curso de medicina é
tradicional, faz pesquisa. Mas a
reitoria diz que precisa cortar
custos para ter competitividade. É como tem agido o setor,
mesmo que caía a qualidade."
Reestruturação
Nos últimos anos, em decorrência desse cenário de muita
competitividade, o setor passa
por forte reestruturação. Houve fusões, incorporações e algumas escolas fecharam, como a
Faculdade São Luís (400 alunos), que encerrou as atividades no final de 2008.
O MEC diz que tem sido mais
rígido na autorização de cursos.
A pasta diz que os dados do
Censo da Educação Superior
2007, a ser divulgado nesta semana, mostrará desaceleração.
O consultor Carlos Monteiro
concorda que o aumento da
oferta foi desproporcional à demanda, mas entende também
que problemas de gestão e de
qualidade de ensino agravam a
situação. "Há também o desencanto. O aluno não encontra o
que procura no curso e desiste."
(FÁBIO TAKAHASHI, MÁRCIO PINHO E RICARDO WESTIN)
Próximo Texto: Unisa alega reestruturação e São Marcos culpa a crise Índice
|