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Nilva França, luta por educação ou roça
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em Barra do Corda, no
Maranhão, metade dos cerca
de 80 mil habitantes não tinham feito nem a quarta série até 2001. E não que Nilva
França, secretária de Educação, não se esforçasse. "Mas
era difícil mudar a mentalidade dos pais, que dão menos
valor aos estudos que à roça."
Também ela nasceu em
Barra do Corda, filha de um
ferreiro pobre e órfã de mãe
aos 14 anos, quando virou a
mulher da casa. Foi uma vitória concluir o ginásio e outra maior fazer o magistério.
Aos 19 anos já dava aulas em
uma escola estadual.
Virou diretora da escola,
logo diretora regional e foi
convidada para ser secretária de Educação da prefeitura, em 1992. Porque não se
importava em percorrer até
60 km de terra de chão batido e cascalho até a zona rural, onde fazia feiras de ciências e tentava convencer os
pais a levar os filhos à escola.
"Os pais não têm o estudo
como prioridade por aqui",
diz o filho, explicando as dificuldades que a mãe tinha para convencê-los -sempre levava 50, 100 pães com margarina para distribuir. "As
crianças vão à escola pela
merenda. Se não tiver o lanche, vão embora."
Há mais de um ano, um
câncer no fígado, que logo se
espalhou pelo corpo, complicou as coisas. Mas ela continuou no cargo. Logo ela, diz
um amigo, que "todos os dias
teve um bom motivo para
chorar e sempre encontrou
mil razões para sorrir".
Tinha três filhos e cinco
netos. Morreu no dia 20, em
São Paulo, aos 60. Na homenagem póstuma na Assembléia, surgiu o epíteto: "Mãe
da educação do município".
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