São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Nilva França, luta por educação ou roça

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em Barra do Corda, no Maranhão, metade dos cerca de 80 mil habitantes não tinham feito nem a quarta série até 2001. E não que Nilva França, secretária de Educação, não se esforçasse. "Mas era difícil mudar a mentalidade dos pais, que dão menos valor aos estudos que à roça."
Também ela nasceu em Barra do Corda, filha de um ferreiro pobre e órfã de mãe aos 14 anos, quando virou a mulher da casa. Foi uma vitória concluir o ginásio e outra maior fazer o magistério. Aos 19 anos já dava aulas em uma escola estadual.
Virou diretora da escola, logo diretora regional e foi convidada para ser secretária de Educação da prefeitura, em 1992. Porque não se importava em percorrer até 60 km de terra de chão batido e cascalho até a zona rural, onde fazia feiras de ciências e tentava convencer os pais a levar os filhos à escola.
"Os pais não têm o estudo como prioridade por aqui", diz o filho, explicando as dificuldades que a mãe tinha para convencê-los -sempre levava 50, 100 pães com margarina para distribuir. "As crianças vão à escola pela merenda. Se não tiver o lanche, vão embora."
Há mais de um ano, um câncer no fígado, que logo se espalhou pelo corpo, complicou as coisas. Mas ela continuou no cargo. Logo ela, diz um amigo, que "todos os dias teve um bom motivo para chorar e sempre encontrou mil razões para sorrir".
Tinha três filhos e cinco netos. Morreu no dia 20, em São Paulo, aos 60. Na homenagem póstuma na Assembléia, surgiu o epíteto: "Mãe da educação do município".


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