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MÁFIA DOS FISCAIS
Em depoimento, ambulante conta como o rateio de propina entre fiscais de SP garantia poder no Santa Ifigênia
Camelô comprou viaduto por R$ 15 mil
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
Ele é baixo, risonho e um pouco
tímido. Fala rápido, fez até a 8ª série e saiu do Rio Grande do Norte
para tentar a vida em São Paulo.
A descrição poderia servir a muitos ambulantes da capital, mas Gilberto Monteiro da Silva, 36, é um
camelô de elite: ele é "dono" do
viaduto Santa Ifigênia, um pontilhão com 226 bancas, apontado como a segunda área mais lucrativa
para o comércio ambulante.
Preso temporariamente desde a
última terça, ele é considerado
uma das mais importantes testemunhas da polícia nas investigações da máfia dos fiscais -um esquema de extorsão promovido por
funcionários da prefeitura contra
camelôs irregulares.
Na madrugada de sexta, a Folha
teve acesso a seu depoimento. Em
linguagem clara, ele contou durante sete horas como comprou o viaduto e aderiu ao esquema.
COMPRA - "Em 93, o Maluf assumiu e os fiscais fizeram um "rapa"
no dia seguinte. Logo achei que
aquilo era uma forma de valorizar
a situação. Quanto mais a gente se
desesperasse, mais iria pagar. Resolvi organizar o viaduto para diminuir as despesas dos ambulantes e ter força política para negociar. Aí eles souberam e passaram
a exigir dinheiro. Por R$ 15 mil por
mês eu tinha controle de tudo, mas
minha vida virou um inferno."
PRESSÃO - "Você é obrigado a
entrar no esquema. Quem está na
rua ou participa ou é morto, não
vive. Não tem como fugir. Eu queria tirar os camelôs dali para um
bolsão porque eu sabia que a casa
ia cair, como caiu. Mas os bolsões
não têm a menor estrutura."
PARTILHA - "Eu arrecadava uns
R$ 30 mil por mês. Ou seja, R$
7.500 por semana -R$ 35 de cada
camelô. Disso, R$ 10 mil ficavam
comigo para minha subsistência,
R$ 5 mil pagavam as despesas da
associação e R$ 15 mil iam para os
chefes da fiscalização. Uns eram
fiscais mesmo, outros trabalhavam na Câmara Municipal. Muitos
deles cobravam o dinheiro usando
nome dos vereadores."
FUTURO - "Temo pela minha segurança. Se eu já era perseguido
antes, imagina agora. Recebo muitas ameaças e vivo assustado. Não
consigo dormir. Já troquei de telefone umas seis vezes. Não via a hora de sair disso, mas não quero ser
um papel higiênico, que é usado e
jogado fora. Quero proteção e vou
andar com os nomes que citei na
carteira para que sejam procurados caso alguma coisa aconteça comigo depois que sair da cadeia."
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