São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2005

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DE MALAS PRONTAS

Professores se preocupam com o que levar e criam página na internet para partilhar expectativas

Bagagem inclui estoque de ervas medicinais

DA REDAÇÃO

Enquanto esperam o embarque para o Timor Leste, os 47 professores estão às voltas com uma dúvida cruel: o que levar na mala para uma temporada de 12 meses no outro lado do mundo?
"Fico olhando para o guarda-roupa e para as malas e sempre chego à mesma conclusão: não cabe nada! Estou vendo que essa viagem será um verdadeiro ato de despojamento", ri a professora Jerusa Garcia, que já se resignou com a idéia de deixar no Brasil um par de botas e um casaco que tomariam um espaço precioso na mala.
Precavida, a colega Inês Amarante reservou um bom lugar para remédios homeopáticos e ervas medicinais. "E se eu ficar doente? Não sei se há curandeiros no Timor", preocupa-se ela, que já fez check-up no dentista.
A lista da professora Ana Lúcia Souto inclui uma galocha ("dizem que o esgoto transborda quando chove") e um livro com 365 exercícios de meditação.
Particularidades à parte, os 47 brasileiros têm consciência de que repelentes de insetos e pastilhas de cloro para purificar até a água do banho são imprescindíveis no país mais pobre da Ásia.
Os professores criaram um site (http://timor.multiply.com) para trocar informações, dúvidas e angústias sobre a vida que os aguarda num país cujo fuso está 12 horas à frente de Brasília. A página tem até frases em tétum, a língua nativa, que à primeira vista parece não ser muito complicada pela influência do português. Muito obrigado, por exemplo, é "obrigadu barak".
Com esse grupo, o número de brasileiros no Timor Leste vai subir para cerca de 350, segundo a Embaixada do Brasil em Dili.
Antes de embarcar, os professores precisam apresentar o comprovante de que tomaram quase uma dezena de vacinas. No aeroporto de Guarulhos, no dia da viagem, serão vacinados contra a encefalite japonesa.
O primeiro grupo viaja amanhã; o segundo, no dia seguinte. Eles enfrentarão a tortuosa viagem de três dias, sobre três oceanos, com paradas na África do Sul, na China e na Indonésia. A chegada a Dili será em pequenos aviões, já que a pista é curta demais para aeronaves comerciais.
Assim que chegarem, serão alojados na universidade de Dili. Depois ficarão livres para morar como quiserem. Além da bolsa mensal de US$ 1.100, já receberam auxílio-moradia no mesmo valor e uma quantia para seguro de vida e seguro de saúde.
Uma das grandes preocupações é saber se os dólares pagos pelo governo brasileiro serão suficientes para levar uma vida minimamente confortável.
"Já sabemos que há dois tipos de vida lá: uma dos nativos e outra dos estrangeiros ricos, principalmente da ONU. Para não nos confundirem com esses estrangeiros e não cobrarem um absurdo pela comida no mercado, aprendemos a falar "sou um estrangeiro pobre" em tétum", diverte-se Jerusa Garcia. (RW)


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