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Para secretário, carros quebraram além do normal
Alexandre de Moraes (Transportes) disse que a polícia investiga suposto complô; "coincidência ou não, índices começaram a cair"
Sem apresentar provas, kassabistas espalham que seria uma ação da oposição para prejudicar sua candidatura à reeleição
DA REPORTAGEM LOCAL
A administração de Gilberto
Kassab (DEM) apresentou ontem uma nova versão para explicar os recentes e consecutivos recordes de trânsito na capital: uma ação orquestrada de
pessoas com interesse em prejudicar o trânsito em São Paulo.
Pela manhã, Kassab afirmou
que "existem pessoas querendo
prejudicar o trânsito de São
Paulo". Disse isso ao comentar
a prisão de um homem em
M'Boi Mirim, na zona sul da cidade, que furou dois pneus de
um ônibus alegando estar irritado com o serviço. Kassab disse que a ação foi "criminosa" e
que a prefeitura "está atenta a
esse tipo de atitude".
Mais tarde, após participar
de uma reunião da comissão de
trânsito na Câmara, o secretário municipal dos Transportes,
Alexandre de Moraes, detalhou
a tese de que há uma conspiração contra a cidade.
Ninguém na prefeitura diz
publicamente, mas o que os
kassabistas espalham, sem
apresentar provas, é que seria
uma ação da oposição para prejudicar sua candidatura a um
novo mandato.
De acordo com o secretário,
desde janeiro a secretaria vem
acompanhado o número de veículos quebrados nas ruas da capital e esse número foi multiplicado por quatro entre 20 de
fevereiro e 5 de março.
"Houve um aumento exponencial do número de supostos
veículos quebrados, caminhões
quebrados e ônibus quebrados
em locais estratégicos...Nós tivemos várias manifestações orquestradas na zona sul."
Os recentes recordes de congestionamento, no entanto,
ocorreram após o período citado -nos dias 6 de março, 11 de
março e 17 de março (são os
maiores no período da manhã
desde julho). À tarde, o recorde
do ano ocorreu em 13 de março.
Naquelas ocasiões, a explicação oficial da CET (Companhia
de Engenharia de Tráfego) era
sempre relacionada a acidentes
e chuvas. Em um dos casos, a
quebra de três semáforos também foi citada como causa.
Dados não divulgados
A polícia, de acordo com a
prefeitura, foi acionada para investigar o suposto complô.
"Coincidência ou não, a partir
do momento do aumento dessas investigações, nesta semana os índices já começaram a
cair. Pode ser coincidência ou
não pode", disse o secretário.
A Folha solicitou a Moraes
uma relação detalhada desses
números e dos locais que teriam ocorrido as tais quebras
suspeitas de veículos. O secretário comprometeu-se em enviar tais dados, mas sua assessoria informou, à noite, que
não enviaria as informações.
O governo cita também como suspeita a série de furtos de
placas semafóricas no início de
março, na região central (foram 12 em 3 dias). A polícia diz
acreditar, porém, que os equipamentos -de alumínio- foram furtados por carroceiros
para serem vendidos.
"Nunca tinha acontecido na
história. Não é uma coisa para
se vender, o mercado não está
aberto para placas semafóricas", avalia o secretário.
Nessa linha de raciocínio, o
governo também contabiliza
duas manifestações realizadas
na zona sul (uma delas ocorreu
após um atropelamento) e a retenção de veículos por uma
empresa de ônibus.
"Na primeira, 30 pessoas
aparecem encapuzadas queimando pneus. No mesmo dia a
empresa de ônibus [VIP] tinha
45 partidas, mas deu 23."
Questionado sobre o motivo
de não apontar claramente
quem teria interesse em prejudicar a cidade, o secretário respondeu: "Quinze anos de promotor e aprendi a não acusar
ninguém sem provas."
Sobre a versão apresentada
ontem pelo homem que foi
preso após furar pneus de um
ônibus na zona sul, Moraes disse que a justificativa apenas reforça a tese. "Se você entrevistar na penitenciária, todo mundo é inocente", argumentou.
O acusado, Marcelo Lima do
Monte, alegou à polícia que
agiu por ter ficado irritado com
o atraso do veículo.
À noite, questionado novamente sobre o assunto, Kassab
tentou minimizar a hipótese de
sabotagem. Disse que a prisão
do rapaz que furou os pneus do
ônibus foi uma ação isolada. "É
o único caso que eu conheço."
(ROGÉRIO PAGNAN, RICARDO SANGIOVANNI, EVANDRO SPINELLI E
FÁBIO TAKAHASHI)
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