São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Para secretário, carros quebraram além do normal

Alexandre de Moraes (Transportes) disse que a polícia investiga suposto complô; "coincidência ou não, índices começaram a cair"

Sem apresentar provas, kassabistas espalham que seria uma ação da oposição para prejudicar sua candidatura à reeleição

DA REPORTAGEM LOCAL

A administração de Gilberto Kassab (DEM) apresentou ontem uma nova versão para explicar os recentes e consecutivos recordes de trânsito na capital: uma ação orquestrada de pessoas com interesse em prejudicar o trânsito em São Paulo.
Pela manhã, Kassab afirmou que "existem pessoas querendo prejudicar o trânsito de São Paulo". Disse isso ao comentar a prisão de um homem em M'Boi Mirim, na zona sul da cidade, que furou dois pneus de um ônibus alegando estar irritado com o serviço. Kassab disse que a ação foi "criminosa" e que a prefeitura "está atenta a esse tipo de atitude".
Mais tarde, após participar de uma reunião da comissão de trânsito na Câmara, o secretário municipal dos Transportes, Alexandre de Moraes, detalhou a tese de que há uma conspiração contra a cidade.
Ninguém na prefeitura diz publicamente, mas o que os kassabistas espalham, sem apresentar provas, é que seria uma ação da oposição para prejudicar sua candidatura a um novo mandato.
De acordo com o secretário, desde janeiro a secretaria vem acompanhado o número de veículos quebrados nas ruas da capital e esse número foi multiplicado por quatro entre 20 de fevereiro e 5 de março.
"Houve um aumento exponencial do número de supostos veículos quebrados, caminhões quebrados e ônibus quebrados em locais estratégicos...Nós tivemos várias manifestações orquestradas na zona sul."
Os recentes recordes de congestionamento, no entanto, ocorreram após o período citado -nos dias 6 de março, 11 de março e 17 de março (são os maiores no período da manhã desde julho). À tarde, o recorde do ano ocorreu em 13 de março.
Naquelas ocasiões, a explicação oficial da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) era sempre relacionada a acidentes e chuvas. Em um dos casos, a quebra de três semáforos também foi citada como causa.

Dados não divulgados
A polícia, de acordo com a prefeitura, foi acionada para investigar o suposto complô. "Coincidência ou não, a partir do momento do aumento dessas investigações, nesta semana os índices já começaram a cair. Pode ser coincidência ou não pode", disse o secretário.
A Folha solicitou a Moraes uma relação detalhada desses números e dos locais que teriam ocorrido as tais quebras suspeitas de veículos. O secretário comprometeu-se em enviar tais dados, mas sua assessoria informou, à noite, que não enviaria as informações.
O governo cita também como suspeita a série de furtos de placas semafóricas no início de março, na região central (foram 12 em 3 dias). A polícia diz acreditar, porém, que os equipamentos -de alumínio- foram furtados por carroceiros para serem vendidos.
"Nunca tinha acontecido na história. Não é uma coisa para se vender, o mercado não está aberto para placas semafóricas", avalia o secretário.
Nessa linha de raciocínio, o governo também contabiliza duas manifestações realizadas na zona sul (uma delas ocorreu após um atropelamento) e a retenção de veículos por uma empresa de ônibus.
"Na primeira, 30 pessoas aparecem encapuzadas queimando pneus. No mesmo dia a empresa de ônibus [VIP] tinha 45 partidas, mas deu 23."
Questionado sobre o motivo de não apontar claramente quem teria interesse em prejudicar a cidade, o secretário respondeu: "Quinze anos de promotor e aprendi a não acusar ninguém sem provas."
Sobre a versão apresentada ontem pelo homem que foi preso após furar pneus de um ônibus na zona sul, Moraes disse que a justificativa apenas reforça a tese. "Se você entrevistar na penitenciária, todo mundo é inocente", argumentou.
O acusado, Marcelo Lima do Monte, alegou à polícia que agiu por ter ficado irritado com o atraso do veículo.
À noite, questionado novamente sobre o assunto, Kassab tentou minimizar a hipótese de sabotagem. Disse que a prisão do rapaz que furou os pneus do ônibus foi uma ação isolada. "É o único caso que eu conheço."
(ROGÉRIO PAGNAN, RICARDO SANGIOVANNI, EVANDRO SPINELLI E FÁBIO TAKAHASHI)

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