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"Foi um terror", diz sobrevivente que perdeu a mulher no acidente
ANDRÉ CARAMANTE
ENVIADO ESPECIAL A GUARATINGUETÁ
"A gente estava brincando
um com o outro, planejando o
futuro e como começaríamos a
construir nossa casa. De repente, a minha mulher, superfeliz
por voltar de um reencontro
com a mãe, voou da poltrona e
passou pelo vidro do ônibus.
Foi um terror! Ainda tentei segurá-la, mas não deu para fazer
nada. Só fui vê-la já presa nas
ferragens, embaixo do ônibus."
Com o corpo cheio de marcas
de sangue seco, os lábios trêmulos e os olhos marejados, o
pintor Francisco Firmino Gomes, 41, narrou assim o acidente que matou a mulher dele,
Angela Maria Alvarenga dos
Santos, 48. Eles estavam no
ônibus da Viação Itapemirim
que se acidentou na rodovia
Presidente Dutra.
Depois de dez anos sem ver a
mãe, moradora de Vitória, Angela juntou os quase R$ 500
(cada bilhete custou cerca de
R$ 120) para pagar as passagens dela e do marido e viajou
de casa, na Praia Grande (86
km de SP), para apresentar Gomes aos parentes.
O casal passou quase 12 dias
com a mãe de Angela em Vitória e, na volta, ficou quase o
tempo todo abraçado. Gomes
na poltrona seis e Angela, na
cinco, bem atrás do motorista.
"O nosso plano era levantar
nossa casa e sair do aluguel. Era
sobre isso que conversávamos
quando o ônibus sacolejou, a
gritaria começou e minha mulher foi arrancada de mim", disse o pintor, à espera da liberação do corpo de Angela. Ela será enterrada hoje em Praia
Grande -onde vivia havia 22
anos. Gomes levou cinco pontos no braço esquerdo.
"Saíamos para ter um pouco
de alegria e acabei perdendo
minha mulher. Nunca esquecerei aqueles pedaços de corpos
estraçalhados, jogados, principalmente os das crianças."
Ele disse que, ao ir para a Vitória, no dia 19 [Angela foi dois
dias antes], o pneu do ônibus
estourou na Dutra. "Estranhei
quando o motorista fez uma vaquinha para pagarmos o conserto. Dei R$ 6 e guardei comigo uma forte sensação de insegurança. Era um aviso de que
algo ruim estava perto", disse.
A Itapemirim negou. "É
mentira porque temos um rigoroso padrão de qualidade", disse Marcelo Miranda, gerente
jurídico da empresa, mesmo
sem checar se o estouro do
pneu de fato ocorrera.
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