São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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"Foi um terror", diz sobrevivente que perdeu a mulher no acidente

ANDRÉ CARAMANTE
ENVIADO ESPECIAL A GUARATINGUETÁ

"A gente estava brincando um com o outro, planejando o futuro e como começaríamos a construir nossa casa. De repente, a minha mulher, superfeliz por voltar de um reencontro com a mãe, voou da poltrona e passou pelo vidro do ônibus. Foi um terror! Ainda tentei segurá-la, mas não deu para fazer nada. Só fui vê-la já presa nas ferragens, embaixo do ônibus."
Com o corpo cheio de marcas de sangue seco, os lábios trêmulos e os olhos marejados, o pintor Francisco Firmino Gomes, 41, narrou assim o acidente que matou a mulher dele, Angela Maria Alvarenga dos Santos, 48. Eles estavam no ônibus da Viação Itapemirim que se acidentou na rodovia Presidente Dutra.
Depois de dez anos sem ver a mãe, moradora de Vitória, Angela juntou os quase R$ 500 (cada bilhete custou cerca de R$ 120) para pagar as passagens dela e do marido e viajou de casa, na Praia Grande (86 km de SP), para apresentar Gomes aos parentes.
O casal passou quase 12 dias com a mãe de Angela em Vitória e, na volta, ficou quase o tempo todo abraçado. Gomes na poltrona seis e Angela, na cinco, bem atrás do motorista.
"O nosso plano era levantar nossa casa e sair do aluguel. Era sobre isso que conversávamos quando o ônibus sacolejou, a gritaria começou e minha mulher foi arrancada de mim", disse o pintor, à espera da liberação do corpo de Angela. Ela será enterrada hoje em Praia Grande -onde vivia havia 22 anos. Gomes levou cinco pontos no braço esquerdo.
"Saíamos para ter um pouco de alegria e acabei perdendo minha mulher. Nunca esquecerei aqueles pedaços de corpos estraçalhados, jogados, principalmente os das crianças."
Ele disse que, ao ir para a Vitória, no dia 19 [Angela foi dois dias antes], o pneu do ônibus estourou na Dutra. "Estranhei quando o motorista fez uma vaquinha para pagarmos o conserto. Dei R$ 6 e guardei comigo uma forte sensação de insegurança. Era um aviso de que algo ruim estava perto", disse.
A Itapemirim negou. "É mentira porque temos um rigoroso padrão de qualidade", disse Marcelo Miranda, gerente jurídico da empresa, mesmo sem checar se o estouro do pneu de fato ocorrera.


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