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Para consórcio, cratera foi uma fatalidade
Construtoras contrataram especialista britânico para analisar o acidente que deixou 7 mortos em 2007; o valor não foi revelado
Análise apresentada aponta que rocha gigante provocou a ruptura do túnel; o laudo principal, a cargo do IPT, ainda não foi concluído
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
JAMES CIMINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Consórcio Via Amarela divulgou ontem um laudo, pago
pelas próprias construtoras,
que atribui a uma fatalidade, a
uma anomalia geológica, a
abertura da cratera que deixou
sete mortos na estação Pinheiros da linha 4-amarela do metrô, em 12 de janeiro de 2007.
O principal laudo que auxilia
as investigações oficiais do acidente está a cargo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e ainda não foi concluído.
A análise feita pelo engenheiro britânico Nicholas Barton,
PhD em mecânica de rochas
pelo Imperial College de Londres, aponta que a ruptura do
túnel em construção, que gerou
a cratera, foi causada pela sobrecarga de um bloco de rocha
com mais de 15 mil toneladas.
A localização exata e as características dessa rocha -com
aproximadamente 14 metros
de altura- não tinham sido
identificadas pelos trabalhos
de sondagem do terreno realizados em fases anteriores à
obra. O Via Amarela nega, porém, que tenha sido um erro.
O consórcio afirmou considerar os resultados como "independentes", devido à própria
credibilidade do especialista no
país e no exterior. Contatada
no final da tarde, a assessoria
do Via Amarela disse não saber
a quantia paga ao consultor.
O diretor de contratos do
consórcio, Marcio Pellegrini,
disse que a credibilidade não foi
afetada porque as empreiteiras
não compraram a "pessoa",
mas só seu "conhecimento".
O laudo de Barton isenta de
responsabilidade as construtoras responsáveis pelo empreendimento -Odebrecht,
OAS, Queiroz Galvão, Camargo
Corrêa e Andrade Gutierrez.
O acidente, pelas palavras do
engenheiro, era "inevitável". O
motivo do deslizamento do bloco de rocha gigante, diz ele, foi
agravado por três fatores.
Primeiro, pelo tipo de solo
(mole, alterado) no entorno
desse maciço -situação geológica conhecida antes da obra.
Segundo, pela característica
desconhecida da rocha -num
formato atípico, com paredes
quase verticais mais estreitas
no topo e largas na base, que
exercem sobrecarga no arco do
túnel, em vez de sustentá-lo.
Terceiro, pelo rompimento
de uma tubulação de água, também desconhecida e não cadastrada, que teria ajudado no deslizamento do maciço.
O Via Amarela divulgou que
só houve um caso similar conhecido de acidente -num túnel na Noruega, no fim de 2006.
"É uma fatalidade, um fato
singular na história de escavação de túneis", disse Pellegrini.
Barton é autor de mais de
240 publicações sobre rochas e
engenharia de túnel. O relatório feito por ele foi avalizado
por dois técnicos da USP.
Nos dias seguintes à abertura
da cratera, as construtoras, ao
atribuir parte da responsabilidade à chuva, foram contestadas por especialistas e autoridades na época, para quem toda
obra precisaria prever esse fator. O consórcio afirmou ontem
que a chuva pode ter contribuído para que a rocha gigante
deslizasse, mas não sozinha.
O Via Amarela diz que ainda
prepara um laudo próprio, que
deve ser divulgado até maio.
Depois da abertura do buraco, técnicos alertaram que as
características geológicas na
região da futura estação Pinheiros eram complicadas, mas
que a situação era de amplo conhecimento e, até por esse motivo, exigia um mapeamento
anterior bastante rigoroso.
O consórcio, amparado por
Barton, alega que as sondagens
-pequenas perfurações no solo- foram feitas em quantidade superior à habitual. Afirma
que foram cinco no ponto próximo do acidente e outras seis
no entorno do poço -numa extensão de 80 metros no total.
Dois especialistas ouvidos
ontem pela Folha divergiram
sobre os resultados citados no
laudo. O engenheiro civil Roberto Kochen, diretor do Instituto de Engenharia e professor
da Escola Politécnica da USP,
diz que é bastante plausível que
a rocha não tenha sido localizada, já que os furos de sondagem
são feitos perpendicularmente
à obra, a uma distância paralela
de cerca de 25 metros.
Ele não vê insuficiência de
sondagens. "Em uma área como essa, é normal que se façam
quatro, no máximo cinco perfurações. Foram feitas 11", afirmou Kochen, que admite a hipótese de fatalidade.
Outro técnico, que preferiu
não se identificar, considerou
as justificativas "absurdas". Para ele, a geologia da cidade é
bem conhecida e a sofisticação
da obra deveria descartar qualquer anomalia geológica.
Ele avalia que a obra teve
uma falha induzida pelo ritmo
alucinante de trabalho e pela
aceleração de cronogramas
-negados pelo consórcio.
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