São Paulo, sábado, 28 de março de 1998

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PF investiga rede de contrabando no DF

WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

A Receita Federal e a Polícia Federal estão investigando pessoas cujos nomes foram encontrados em agendas telefônicas e faxes de integrantes de uma rede de contrabando de eletroeletrônicos e material de informática.
Segundo a Receita, foram trazidas de Miami para o Brasil, ilegalmente, cerca de 80 toneladas de mercadorias, avaliadas em R$ 50 milhões, para distribuição em Brasília.
Faxes transmitidos de Miami pela empresa Quality USA citam entre os destinatários da mercadoria as seguintes pessoas, entre outras: o deputado e empresário Wigberto Tartuce (PPB-DF), o jornalista e empresário Ari Cunha (avô do dono da Quality USA, Marcelo Cunha) e o jornalista Silvestre Gorgulho, dono do jornal "Folha do Meio Ambiente".
Na lista aparecem ainda os nomes Falcão/Rios, com a seguinte frase à frente: "Entregar para qualquer pessoa na direção do Objetivo" (colégio do empresário João Carlos Di Gênio).
A Receita e a PF afirmam que Falcão e Rios trabalham na coordenação de informática do Colégio Objetivo, que nega (leia texto ao lado).
Agora, a Polícia Federal tenta separar os compradores de material ilegal dos verdadeiros receptadores.
Anteontem, numa operação autorizada pela Justiça, foram presas três pessoas e recolhidos passaportes falsos e vários recibos de compra e venda de produtos contrabandeados.
Dos três presos pela PF, dois continuam detidos: Paulo Roberto França Gonçalves Raro e Álvaro Almeida Assunção. Eles são comerciantes em Brasília e, segundo as primeiras investigações, funcionavam como "laranjas" do empresário Marcelo Cunha, proprietário da Quality USA, localizada em Miami.
Segundo as investigações -iniciadas há três meses-, o esquema da quadrilha era simples: falsificava passaportes e usava o expediente conhecido como envio de bagagem desacompanhada para remeter o material de Miami a Brasília.
Na prática, o esquema funcionava assim: pessoa fictícia que morava nos EUA, de mudança para o Brasil, enviava a "mudança" por avião. Em vez de objetos pessoais e móveis, as caixas continham contrabando. Também eram usados despachos por meio de pequenas encomendas.
O esquema começou a ser investigado em dezembro de 97, quando a Receita apreendeu no aeroporto de Brasília 59 caixas com equipamentos contrabandeados, avaliados em R$ 2 milhões.
A Polícia Federal suspeita que a quadrilha contava com apoio de agentes da própria PF e da Receita para facilitar a liberação das mercadorias no aeroporto.
Uma das três pessoas presas foi Tília Souza Cruz, ex-funcionária administrativa da PF, hoje aposentada, que é sogra do agente Angelo Roncalli Bandeira da Costa, agente da PF lotado no aeroporto. Na casa dela foram encontrados equipamentos de som, aparelhos de televisão e armas.
Tília foi liberada sob fiança, pois contra ela não havia mandado de prisão. Ela havia sido presa em flagrante por receptação de contrabando. Os outros dois comerciantes, que tinham prisão preventiva, continuavam detidos até o início da noite de ontem. Na loja de Paulo Roberto Raro, a PF encontrou equipamentos que seriam usados para falsificar passaportes.



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