|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLUIÇÃO
No Estado, que passou recentemente por casos de contaminação, 40% das empresas não têm licença ambiental
Descontrole cria "bombas-relógio" em SP
ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU
O aparecimento cada vez mais
frequente de casos de contaminação de áreas em São Paulo, causando transtornos e preocupação
a milhares de pessoas, é resultado
de uma industrialização que foi
feita sem a devida preocupação
ambiental. Hoje, cerca de 40% das
57 mil indústrias do Estado não
têm licença ambiental regular.
A avaliação foi feita por especialistas ouvidos pela Agência Folha,
tendo como ponto de partida a
contaminação por chumbo de
uma área em Bauru que abrigava
uma fábrica de baterias.
"Cada caso desses que tem
acontecido nos últimos anos é como uma mina em que alguém pisou e que estourou", afirma o promotor Roberto Carramenha,
coordenador do Centro de Apoio
Operacional das Promotorias do
Meio Ambiente de São Paulo.
Segundo ele, a industrialização
que se intensificou nos anos 50 já
gerava muitos resíduos tóxicos,
mas na época não se sabia o que
fazer com eles.
"Não havia essa preocupação, a
legislação não exigia isso. Isso só
começou a ser discutido no hemisfério norte nos anos 60 e chegou aqui dez anos depois, quando
começaram a surgir as leis."
É o caso, por exemplo, da fábrica de baterias Acumuladores
Ajax, interditada em janeiro por
emitir chumbo em quantidades
superiores à permitida por lei. O
excesso de chumbo no sangue pode causar vários danos à saúde.
Instalada em Bauru desde 1958,
ela não tinha licença ambiental
-que é concedida pela Cetesb
(agência ambiental do governo
paulista). De 1984 até 2001, a fábrica sofreu 27 autuações, entre advertências e multas que totalizam
mais de R$ 200 mil.
De acordo com a advogada Sandra Mara Pretini Medaglia, gerente do Grupo de Assuntos de Meio
Ambiente da assessoria jurídica
da Cetesb, as empresas que já estavam instaladas antes de 1976
não precisaram se adaptar às normas de poluição no ambiente regulamentadas pelo decreto
8.468/76. Todas as empresas novas e aquelas que realizaram alguma expansão nas suas unidades
desde então precisaram seguir os
padrões estabelecidos.
"Os efeitos da lei não retroagem.
Isso não quer dizer que as empresas não sejam controladas por outras formas. Nós fazemos o licenciamento preventivo, que é o
ideal. O outro meio é o corretivo,
quando as indústrias sofrem sanções e são obrigadas a se enquadrar", diz.
Na situação atual, o controle
ambiental das indústrias do Estado está sendo feito no varejo,
quando acontece algum acidente
de maior proporção ou quando
os órgãos de fiscalização, como a
Cetesb e o Ministério Público, recebem alguma denúncia.
Denúncias
"As pessoas falam muito da importância da denúncia na área criminal, mas ela também é fundamental na área ambiental. Não dá
para ter um promotor ambiental
e um técnico da Cetesb em cada
bairro", diz Carramenha. "As pessoas devem denunciar quando
percebem cheiros estranhos, barulhos e vibrações diferentes, que
podem indicar alguma atividade
irregular no subsolo."
Segundo ele, existem 330 Promotorias do Meio Ambiente no
Estado, que tem 645 municípios.
Para a procuradora Sílvia Cappeli, presidente da Associação
Brasileira do Ministério Público
de Meio Ambiente, as leis de licenciamento ambiental precisam
de atualizações constantes, à medida que a industrialização vai sofrendo o impacto de novas tecnologias e os próprios métodos de
aferição da poluição desenvolvem-se ao longo do tempo.
"As licenças são concedidas de
acordo com os requisitos existentes para a época. Isso não significa
que as indústrias não devam se
adaptar e que o poder público não
deva exigir a adequação, mesmo
que concedendo prazos."
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Resíduos invadem chácara em Bauru Índice
|