|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRIME ORGANIZADO
Alejandro Juvenal Júnior, 34, é acusado pela polícia de negociar as armas da facção criminosa
Polícia prende Júnior, irmão do líder do PCC
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Apontado pela Polícia Civil como o criminoso responsável pela
entrada no país de boa parte dos
carregamentos de armas e de drogas comercializadas pela facção
criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, 34,
foi preso, anteontem pela manhã,
quando deixava uma loja de materiais de construção, no Tatuapé
(zona leste de São Paulo).
Júnior é irmão de Marcos Willians Herbas Camacho, 38, o
Marcola, líder máximo do PCC, e,
em maio do ano passado, foi denunciado à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Tráfico
de Armas, da Câmara dos Deputados, como o responsável pelas
negociações de armas e drogas
feitas pela facção com traficantes
da Colômbia e da Bolívia.
Em novembro de 2001, com o
dinheiro que acumulou em roubos a banco e com parte do "caixa" do PCC, Júnior fugiu da prisão em que cumpria pena de quase 40 anos.
A Folha apurou que, ao ser preso por cinco policiais civis, Júnior
pediu para não ser "escrachado",
ou seja, não queria ser apresentado à imprensa, ato rotineiramente adotado pelo Denarc (departamento de narcóticos), órgão que o
prendeu. O pedido foi acatado.
No período em que estava na sede do Denarc, no Butantã (zona
oeste), foi tratado com muita
atenção: na sala em que ficou, a
dos investigadores do 1º Nape
(Núcleo de Apoio e Proteção às
Escolas), no 3º andar do prédio,
havia pizza, guaraná e até uma TV
a cabo ligada o tempo todo.
"Você vai se declarar inimigo de
um cara desses? Não tem jeito. Eu
tenho família. Por isso, nunca vou
jogar para cima dele coisas que ele
não fez", disse o policial que, desde a manhã de terça-feira, seguia
Júnior pelas ruas do Tatuapé,
bairro onde ele morou antes de
ser preso pela primeira vez.
Ao ser abordado na loja de materiais para construção, Júnior estava com uma perua EcoSport,
com placas de Fortaleza (CE), e
com um cartão bancário e uma
carteira de habilitação em nome
de Paulo Cesar de Albuquerque
Souza. A polícia irá tentar descobrir se ele tem imóveis, carros e
empresas registradas com esse
nome no Estado. Atualmente, Júnior vivia em Fortaleza, onde disse revender carros. "Ele é bandido
bom, criminoso de respeito, não
mantém nada em seu nome, sabe
como jogar", disse outro policial.
Sem posição definida dentro do
organograma do PCC, Júnior
sempre foi respeitado pelos demais criminosos de todo o país
por ser irmão de Marcola e, pelo
parentesco, conseguia realizar, segundo a polícia, transações criminosas internacionais.
À CPI do Tráfico de Armas, o
delegado Ruy Ferraz Fontes, do
Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado), declarou que Júnior trazia armas para São Paulo no meio dos
carregamentos de drogas.
Ainda segundo as investigações
de Fontes, destacado pelo governo paulista especialmente para
cuidar do PCC, Júnior mantinha
contato com os mesmos traficantes colombianos e bolivianos que
vendiam cocaína ao traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar.
Júnior e Marcola -que, por ser
vaidoso, também é chamado de
Playboy pelos outros integrantes
do PCC- são filhos de um imigrante boliviano que veio para o
Brasil trabalhar com próteses
dentárias. Criados no Cambuci
(região central), perderam a mãe
quando Júnior completou seis
anos. Eles têm uma meio-irmã
por parte de pai, que desapareceu,
mas não a conhecem.
A diretoria do Denarc não permitiu que a reportagem tivesse
acesso a Júnior, para que ele apresentasse sua versão sobre as acusações feitas pela polícia. O advogado dele, João Antônio Bruno,
falou, por meio de um policial do
Denarc, que iria se pronunciar depois sobre as acusações, mas isso
não aconteceu até a conclusão
desta edição.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Saiba mais: Ladrão de banco escapou na maior fuga do Carandiru Índice
|