São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008 |
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MOACYR SCLIAR O hacker e a literatura
"Juiz solta piratas virtuais, mas exige
que leiam obras clássicas. Para conceder liberdade provisória a três jovens detidos sob a acusação de praticar crimes pela internet, um juiz federal do Rio Grande do Norte determinou uma condição
inédita: que os rapazes leiam e resumam, a cada três meses, dois clássicos da literatura. As primeiras obras escolhidas pelo juiz Mário Jambo, 49, foram "A hora e a vez de Augusto Matraga", conto de Guimarães Rosa (1908-1967), e "Vidas Secas", de Graciliano Ramos (1892-1953).
Jambo, que há três anos atua como juiz federal, disse que a Justiça precisa sair
da "mesmice".
QUANDO O JUIZ pronunciou a
sentença, a primeira reação
dele foi de revolta. Preferível
a cadeia, disse para os pais e para o
advogado. De nada adiantaram os
argumentos deles, segundo os quais
a decisão do magistrado tinha sido a
melhor possível e, mais, um grande
avanço na tradição judiciária; ele
odiava leitura, odiava livros. Se pudesse, faria como os nazistas, que
em Berlim queimaram milhares de
volumes. Só que não se restringiria
apenas a certos autores; queimaria
todos os livros possíveis e imagináveis. Talvez deixasse de fora apenas
as listas telefônicas.
Mas não havia alternativa e de repente lá estava ele lendo Graciliano
e Guimarães Rosa.
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha Texto Anterior: Audiência: TVs transmitem simulação durante todo o domingo Próximo Texto: Consumo: Leitora reclama da dificuldade para conseguir radioterapia Índice |
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