São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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Residenciais fechados viram território livre para os jovens

DA REPORTAGEM LOCAL

"Aqui dentro, o medo maior é da irresponsabilidade dos jovens", diz uma moradora do condomínio Aldeia da Serra. Foi nesse residencial que, no dia 5 de maio, três adolescentes morreram afogadas, depois de o carro em que passeavam, um Fiat Palio insufilmado, quatro portas, cair em uma lagoa. O motorista do veículo acidentado era o estudante M.A.P.B., de apenas 15 anos.
No banco dianteiro, ao lado do motorista, ia outro adolescente, de 14 anos. Atrás, três garotas: Camila Friedrich Lauria, 15, a americana Clare Francis Faricy, 15, e a argentina Zaida Schilman, 14. Todos os passageiros e o motorista eram alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Pueri Domus de Aldeia da Serra.
A tragédia mobilizou a comunidade do condomínio. A capela de Santo Antonio, réplica de uma igreja setecentista, logo na entrada do residencial, não teve espaço para os adolescentes, suas famílias e professores, cerca de 350 pessoas, que foram se solidarizar com os parentes das meninas mortas. Na curva que margeia o lago em que o Fiat Palio afundou, os moradores ainda na semana passada seguiam colocando flores brancas e acendendo velas.
"A tragédia calou tão fundo no lugar por um motivo simples: todos sabem que um acidente do mesmo tipo poderia ter acontecido envolvendo muitas famílias do condomínio", disse uma jovem presente na missa.
Menores de idade dirigindo são comuns nos residenciais e suas imediações. Eles vão à escola, ao curso de inglês, à academia de ginástica, estabelecimentos próximos aos residenciais, mas do lado de fora das muralhas dos condomínios, conforme a reportagem da Folha testemunhou.
Como os seguranças dos condomínios começaram a "dedurar" para a polícia a infração ao Código de Trânsito, a saída de muitos adolescentes e suas famílias foi colocar insufilm nos vidros dos veículos, para evitar a identificação do condutor.
A legislação americana, que permite a adolescentes dirigir acompanhados desde os 15 anos, é o argumento preferido dos pais que autorizam os filhos a pegar o carro da família.
Os seguranças têm dificuldade para conter a juventude dourada dos condomínios fechados. Uma turma de adolescentes conta -animada- sua forma de vingança contra o sistema de "deduragem": "A gente monta o dispositivo", diz um dos garotos, 17, com a condição de não ser identificado.
O "dispositivo" consiste em uma armadilha que usa fios de náilon, o galho de uma árvore e um saco com excrementos de cachorros. Quando o carro da segurança arrebenta o fio de náilon, o saco despenca sobre o pára-brisa: "é um nojo sensacional", relata um dos meninos.
"É nossa forma de ensiná-los", diz outro membro da turma, para quem "os seguranças são importantes para proteger os moradores dos miseráveis das favelas vizinhas."


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