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Residenciais fechados viram território livre para os jovens
DA REPORTAGEM LOCAL
"Aqui dentro, o medo maior é
da irresponsabilidade dos jovens", diz uma moradora do
condomínio Aldeia da Serra.
Foi nesse residencial que, no
dia 5 de maio, três adolescentes
morreram afogadas, depois de
o carro em que passeavam, um
Fiat Palio insufilmado, quatro
portas, cair em uma lagoa. O
motorista do veículo acidentado era o estudante M.A.P.B., de
apenas 15 anos.
No banco dianteiro, ao lado
do motorista, ia outro adolescente, de 14 anos. Atrás, três garotas: Camila Friedrich Lauria,
15, a americana Clare Francis
Faricy, 15, e a argentina Zaida
Schilman, 14. Todos os passageiros e o motorista eram alunos do 1º ano do Ensino Médio
do Colégio Pueri Domus de Aldeia da Serra.
A tragédia mobilizou a comunidade do condomínio. A capela de Santo Antonio, réplica de
uma igreja setecentista, logo na
entrada do residencial, não teve espaço para os adolescentes,
suas famílias e professores, cerca de 350 pessoas, que foram se
solidarizar com os parentes das
meninas mortas. Na curva que
margeia o lago em que o Fiat
Palio afundou, os moradores
ainda na semana passada seguiam colocando flores brancas
e acendendo velas.
"A tragédia calou tão fundo
no lugar por um motivo simples: todos sabem que um acidente do mesmo tipo poderia
ter acontecido envolvendo
muitas famílias do condomínio", disse uma jovem presente
na missa.
Menores de idade dirigindo
são comuns nos residenciais e
suas imediações. Eles vão à escola, ao curso de inglês, à academia de ginástica, estabelecimentos próximos aos residenciais, mas do lado de fora das
muralhas dos condomínios,
conforme a reportagem da Folha testemunhou.
Como os seguranças dos condomínios começaram a "dedurar" para a polícia a infração ao
Código de Trânsito, a saída de
muitos adolescentes e suas famílias foi colocar insufilm nos
vidros dos veículos, para evitar
a identificação do condutor.
A legislação americana, que
permite a adolescentes dirigir
acompanhados desde os 15
anos, é o argumento preferido
dos pais que autorizam os filhos a pegar o carro da família.
Os seguranças têm dificuldade para conter a juventude
dourada dos condomínios fechados. Uma turma de adolescentes conta -animada- sua
forma de vingança contra o sistema de "deduragem": "A gente
monta o dispositivo", diz um
dos garotos, 17, com a condição
de não ser identificado.
O "dispositivo" consiste em
uma armadilha que usa fios de
náilon, o galho de uma árvore e
um saco com excrementos de
cachorros. Quando o carro da
segurança arrebenta o fio de
náilon, o saco despenca sobre o
pára-brisa: "é um nojo sensacional", relata um dos meninos.
"É nossa forma de ensiná-los", diz outro membro da turma, para quem "os seguranças
são importantes para proteger
os moradores dos miseráveis
das favelas vizinhas."
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