São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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"Filantrópica", Scuderie mineira serve sopa em favela de Belo Horizonte

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA

É sábado no sopé da pedreira Prado Lopes, uma das favelas mais violentas de Belo Horizonte. Em uma casa das imediações, moradores da região compram roupas usadas a preços módicos e tomam, de graça, o "sopão" de legumes preparado por voluntários.
A cena, que poderia ocorrer em qualquer uma das 700 entidades filantrópicas cadastradas na cidade, tem lugar na filial mineira da SDLC (Scuderie Detetive Le Cocq) -organização parapolicial acusada de agir como um esquadrão da morte.
Na entrada da casa, o símbolo da Le Cocq -uma caveira sobreposta a duas tíbias cruzadas, com as iniciais E.M.- recepcionava os visitantes pelo menos até o ano passado. "Mudei porque estava dando muito problema", afirma o inspetor aposentado José Maria de Paula, 60, o Cachimbinho, presidente da entidade em Minas há mais de 20 anos.
Entre os problemas citados por Paula, estão as acusações de ligação com o crime organizado. Por isso, Paula disse ter mudado o nome da entidade para Associação Filantrópica Milton Le Cocq -o detetive carioca assassinado na década de 60 que deu nome à SDLC.
Contudo, pelo registro do cartório, a representação mineira da Le Cocq, fundada em 1969, está ativa. O símbolo fúnebre da entidade estampa a ata de fundação e o regimento interno da filial, que já apontava a "filantropia e o atendimento social" como seus fins.
A Le Cocq mineira nunca teve ligação comprovada com o crime, mas não está livre de suspeitas. Em 2003, ela foi citada em um processo que terminou com a condenação de dez policiais, civis e militares, pelos crimes de extorsão, corrupção passiva, facilitação e associação para o tráfico.


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