São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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Aposentado tem acervo de mais de 5.000 gravações raras de áudio

Sem qualquer apoio financeiro, coleção corre risco de se perder com o tempo

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

O áudio de um dos discursos de Che Guevara, a voz do "pai" da lâmpada elétrica, Thomas Edison, e uma das raras entrevistas de João Gilberto não estão no acervo do Centro Cultural São Paulo ou do Museu da Imagem e do Som da capital paulista, mas sim no arquivo de um colecionador e dono de uma banquinha na praça Benedito Calixto, onde é realizada aos sábados a conhecida feira de antiguidades.
Jorge Caleiro, aposentado de 68 anos, também poeta e memorialista, mantém um museu da voz informal que é consultado toda vez que surgem encomendas de eventuais clientes, como a jornalista Marília Gabriela e as atrizes Bruna Lombardi e Marieta Severo.
Em sua casa na Chácara Santo Antônio (zona sul), com quase nenhum trabalho de catalogação, Caleiro relata ter, "em uma estimativa bem imprecisa", 5.000 itens entre fitas cassetes e discos de vinil.
Como não há nenhum esquema especial de conservação, Caleiro admite o risco de que, com o tempo, parte do material se perca. "Seria preciso ter oportunidade de conseguir um apoio financeiro do governo ou de patrocinadores para conservar o material", afirma.
Entre outros artigos do acervo, ele destaca um testemunho da cangaceira Ciça, em que conta o momento da morte de Maria Bonita a tiros de metralhadora na caverna de Angicos (SE), e uma rara edição de vinil em que o poeta Vinicius de Moraes declama versos em Lisboa.

Força das circunstâncias
Sua coleção começou quando morava em São Carlos, no interior paulista, e ganhou fôlego na época em que estava empregado num banco do centro da cidade. Na região, Caleiro costumava passar pelos sebos, onde se perdia entre os vinis.
Ao sair do banco, em meados de 1980, viu-se mal financeiramente e buscou saída na comercialização de itens de seu acervo pelos quais não tinha tanta afeição ou dos quais possuía mais de uma cópia.
O negócio mais tarde iria se mostrar certeiro. Caleiro começou na feira do Bixiga em 1987 e logo passou para a praça Benedito Calixto, aprendendo, na marra, a ter critério na avaliação de discos oferecidos e a negociar com clientes e vendedores -alguns freqüentadores da Benedito afirmam que ele é "um pouco careiro".
Um dos serviços mais solicitados é o trabalho de pesquisa, que pode chegar a R$ 200 por semana. "Já me pediram para fazer um trabalho extenso em cima do Ary Barroso. Não só a parte musical, mas também entrevistas", diz.
O colecionador realiza ainda um trabalho de documentação, a exemplo de quando entrevistou o cantor e pintor Manezinho Araujo (1913-1993), conhecido como o "rei da embolada", embaixador do gênero na região Sudeste e pioneiro na gravação de jingles no Brasil.


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