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Aposentado tem acervo de mais de 5.000 gravações raras de áudio
Sem qualquer apoio financeiro, coleção corre risco de se perder com o tempo
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
O áudio de um dos discursos
de Che Guevara, a voz do "pai"
da lâmpada elétrica, Thomas
Edison, e uma das raras entrevistas de João Gilberto não estão no acervo do Centro Cultural São Paulo ou do Museu da
Imagem e do Som da capital
paulista, mas sim no arquivo de
um colecionador e dono de
uma banquinha na praça Benedito Calixto, onde é realizada
aos sábados a conhecida feira
de antiguidades.
Jorge Caleiro, aposentado de
68 anos, também poeta e memorialista, mantém um museu
da voz informal que é consultado toda vez que surgem encomendas de eventuais clientes,
como a jornalista Marília Gabriela e as atrizes Bruna Lombardi e Marieta Severo.
Em sua casa na Chácara Santo Antônio (zona sul), com quase nenhum trabalho de catalogação, Caleiro relata ter, "em
uma estimativa bem imprecisa", 5.000 itens entre fitas cassetes e discos de vinil.
Como não há nenhum esquema especial de conservação,
Caleiro admite o risco de que,
com o tempo, parte do material
se perca. "Seria preciso ter
oportunidade de conseguir um
apoio financeiro do governo ou
de patrocinadores para conservar o material", afirma.
Entre outros artigos do acervo, ele destaca um testemunho
da cangaceira Ciça, em que
conta o momento da morte de
Maria Bonita a tiros de metralhadora na caverna de Angicos
(SE), e uma rara edição de vinil
em que o poeta Vinicius de Moraes declama versos em Lisboa.
Força das circunstâncias
Sua coleção começou quando
morava em São Carlos, no interior paulista, e ganhou fôlego
na época em que estava empregado num banco do centro da
cidade. Na região, Caleiro costumava passar pelos sebos, onde se perdia entre os vinis.
Ao sair do banco, em meados
de 1980, viu-se mal financeiramente e buscou saída na comercialização de itens de seu
acervo pelos quais não tinha
tanta afeição ou dos quais possuía mais de uma cópia.
O negócio mais tarde iria se
mostrar certeiro. Caleiro começou na feira do Bixiga em
1987 e logo passou para a praça
Benedito Calixto, aprendendo,
na marra, a ter critério na avaliação de discos oferecidos e a
negociar com clientes e vendedores -alguns freqüentadores
da Benedito afirmam que ele é
"um pouco careiro".
Um dos serviços mais solicitados é o trabalho de pesquisa,
que pode chegar a R$ 200 por
semana. "Já me pediram para
fazer um trabalho extenso em
cima do Ary Barroso. Não só a
parte musical, mas também entrevistas", diz.
O colecionador realiza ainda
um trabalho de documentação,
a exemplo de quando entrevistou o cantor e pintor Manezinho Araujo (1913-1993), conhecido como o "rei da embolada",
embaixador do gênero na região Sudeste e pioneiro na gravação de jingles no Brasil.
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