São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010

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Sem-teto faz maloca debaixo da Câmara

Em moradia improvisada no prédio dos vereadores, desabrigados usam a praça da Bandeira como "quintal"

Os sem-teto afirmam que só recebem ajuda de vigias, faxineiros e porteiros; prefeitura diz que presta assistência

DO "AGORA"

Debaixo do prédio da Câmara Municipal de São Paulo, onde os vereadores votam programas sobre habitação, trabalho e direitos humanos, nove sem-teto se espremem em uma maloca que montaram com trapos, cobertores, papelão e madeira.
A moradia improvisada aproveita a parede externa e a marquise do prédio legislativo, além das escadarias da praça da Bandeira, na Bela Vista (região central de SP).
Os moradores, de cidades do interior de São Paulo, do Rio de Janeiro e da Bahia, chegaram até a pintar, com tinta verde, em uma das paredes da escadaria, as palavras "maloca da Bandeira" -o nome dado à moradia, que existe, segundo os sem-teto, de forma itinerante, há pelo menos 12 anos.
Os moradores dizem que se cansaram de encontrar portas de albergues fechadas. "Prefiro passar a noite onde sei que estão as minhas coisas e com quem conheço", afirmou um deles, um jovem de 22 anos.

QUINTAL
A praça das Bandeiras é o quintal da maloca. Há fogueiras na área. Varais, com roupas molhadas, cruzam as árvores. Por toda parte ficam espalhados restos de material reciclável e garrafas pet ou de bebidas alcoólicas.
Os sem-teto dizem que recebem dinheiro e comida de vigias, faxineiros e porteiros da Câmara. Dos vereadores, somente Agnaldo Timóteo (PR), quando chega ao estacionamento da Casa, ainda deixa uma gorjeta.
"O Agnaldo Timóteo, às vezes, dá R$ 50 para a gente. Para o resto, somos invisíveis", conta outro morador.
"Perdi meu pai e minha mãe. Minha filha morreu de câncer. Sou formado em educação física, mas não tenho mais projeto de vida. Moro aqui há nove meses. A polícia só leva nossos cobertores."

ASSISTÊNCIA
A Secretaria Municipal da Assistência Social informou que seus agentes fazem abordagens rotineiras à população que vive no centro e que ontem membros do Programa Atenção Urbana encontraram cinco moradores -quatro homens e uma mulher- em situação de rua nas imediações da Câmara.
Os homens aceitaram ir para o albergue Estação Vivência, no Pari (região central de SP) e a mulher, segundo a prefeitura, se recusou a receber qualquer auxílio.
A presidência da Câmara informa que a Casa não tem responsabilidade sobre a área externa, apenas a prefeitura. O vereador Agnaldo Timóteo (PR) admitiu que ajuda os sem-teto porque, como é artista, é mais abordado por eles. (MATEUS PARREIRAS e WILLIAM CARDOSO)


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