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Sem-teto faz maloca debaixo da Câmara
Em moradia improvisada no prédio dos vereadores, desabrigados usam a praça da Bandeira como "quintal"
Os sem-teto afirmam que só recebem ajuda
de vigias, faxineiros e porteiros; prefeitura diz que presta assistência
DO "AGORA"
Debaixo do prédio da Câmara Municipal de São Paulo, onde os vereadores votam
programas sobre habitação,
trabalho e direitos humanos,
nove sem-teto se espremem
em uma maloca que montaram com trapos, cobertores,
papelão e madeira.
A moradia improvisada
aproveita a parede externa e
a marquise do prédio legislativo, além das escadarias da
praça da Bandeira, na Bela
Vista (região central de SP).
Os moradores, de cidades
do interior de São Paulo, do
Rio de Janeiro e da Bahia,
chegaram até a pintar, com
tinta verde, em uma das paredes da escadaria, as palavras "maloca da Bandeira"
-o nome dado à moradia,
que existe, segundo os sem-teto, de forma itinerante, há
pelo menos 12 anos.
Os moradores dizem que
se cansaram de encontrar
portas de albergues fechadas. "Prefiro passar a noite
onde sei que estão as minhas
coisas e com quem conheço", afirmou um deles, um
jovem de 22 anos.
QUINTAL
A praça das Bandeiras é o
quintal da maloca. Há fogueiras na área. Varais, com
roupas molhadas, cruzam as
árvores. Por toda parte ficam
espalhados restos de material reciclável e garrafas pet
ou de bebidas alcoólicas.
Os sem-teto dizem que recebem dinheiro e comida de
vigias, faxineiros e porteiros
da Câmara. Dos vereadores,
somente Agnaldo Timóteo
(PR), quando chega ao estacionamento da Casa, ainda
deixa uma gorjeta.
"O Agnaldo Timóteo, às
vezes, dá R$ 50 para a gente.
Para o resto, somos invisíveis", conta outro morador.
"Perdi meu pai e minha
mãe. Minha filha morreu de
câncer. Sou formado em educação física, mas não tenho
mais projeto de vida. Moro
aqui há nove meses. A polícia
só leva nossos cobertores."
ASSISTÊNCIA
A Secretaria Municipal da
Assistência Social informou
que seus agentes fazem abordagens rotineiras à população que vive no centro e que
ontem membros do Programa Atenção Urbana encontraram cinco moradores
-quatro homens e uma mulher- em situação de rua nas
imediações da Câmara.
Os homens aceitaram ir
para o albergue Estação Vivência, no Pari (região central de SP) e a mulher, segundo a prefeitura, se recusou a
receber qualquer auxílio.
A presidência da Câmara
informa que a Casa não tem
responsabilidade sobre a
área externa, apenas a prefeitura. O vereador Agnaldo Timóteo (PR) admitiu que ajuda os sem-teto porque, como
é artista, é mais abordado por
eles.
(MATEUS PARREIRAS e WILLIAM CARDOSO)
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