São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 2002

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VIOLÊNCIA

Tiroteio vitima PM, microempresário e suposto traficante na favela Nova Holanda, zona norte; dois policiais ficam feridos

Polícia x tráfico mata três pessoas no Rio

Folha Imagem
A favela Nova Holanda, no complexo da Maré, foi ocupada pela PM depois da morte de três pessoas durante confronto entre policiais e traficantes na madrugada de ontem


TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um soldado da PM (Policia Militar), um microempresário e um suposto traficante morreram, na madrugada de ontem, durante trocas de tiros entre policiais e traficantes na favela Nova Holanda (complexo da Maré, zona norte do Rio). Outros dois policiais militares ficaram feridos.
Os vestígios da madrugada violenta eram visíveis de manhã: nas ruas da favela havia cápsulas de fuzil. No início da manhã de ontem, moradores da Nova Holanda fizeram um protesto contra a morte do microempresário Alexandre de Oliveira Mattos.
Mattos, 28, era despachante no Aeroporto Internacional e sócio de uma firma de importação e exportação. Os moradores da Nova Holanda disseram que ele foi morto por policiais militares.
Também acusaram a polícia de ter levado o cordão de ouro, o par de tênis e a carteira de Mattos, baleado na porta de casa.
Segundo policiais, o microempresário foi morto pelos traficantes. O comandante geral da PM, coronel Francisco Braz, disse que será instaurada uma sindicância para apurar se houve participação de policiais na morte de Mattos.
Exaltados, os manifestantes jogaram pedras contra carros da polícia que passavam de manhã perto da favela.
De uma passarela, atiraram caixotes nas pistas da avenida Brasil, que liga as zonas norte e oeste. Depois, tentaram fechar a avenida, mas foram impedidos por policiais do Batalhão de Choque.
Carlos Henrique Ribeiro dos Santos, 22, foi preso pela polícia sob a acusação de ter cometido desacato à autoridade, lesão corporal contra um policial militar e dano qualificado (por apedrejar carros da polícia).
Por causa do clima de insegurança, cerca de 120 policiais de batalhões da área e de forças especiais ocuparam a Nova Holanda e outras cinco favelas do complexo: Parque União, Baixa do Sapateiro, Nova Maré, Parque Maré e Parque Rubem Vaz. Segundo a Polícia Militar, a ocupação será, a princípio, de 24 horas.
Segundo o comandante do 22º BPM (Batalhão de Polícia Militar), coronel Carlos Carrijo, o tumulto na Nova Holanda começou por volta de 1h, quando uma patrulha que fazia ronda foi atacada a tiros por traficantes. Os policiais se refugiaram no local onde está sendo construído um batalhão da PM e pediram reforços.
No tiroteio, o soldado Leonardo Leite Goulart foi atingido na barriga e morreu a caminho do Hospital Geral de Bonsucesso (zona norte). O capitão Otto Cardoso Filho foi baleado no olho esquerdo e ficou cego. Ele não corre risco de vida. O cabo Cícero José Valério da Silva foi atingido por um tiro de raspão no pescoço.
Pouco depois das 3h, chegaram à favela equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais), do Batalhão de Choque e do Getam (Grupamento Tático-Móvel).
Novo tiroteio começou às 4h30. Um suposto traficante, não identificado até as 19h, foi morto. Com ele, a polícia informou ter apreendido um fuzil FAL, com emblema do Exército, um revólver e munição. As armas foram levada para a 21ª DP (Delegacia de Polícia).
A polícia informou que continuará hoje as busca aos traficantes que mataram o PM.
Na madrugada de ontem, cinco homens chegaram a ser detidos -um deles trazia fotos de homens armados-, mas foram liberados por falta de provas.

Encontro cancelado
Por causa do tiroteio, a candidata ao governo do Estado do Rio, Rosinha Garotinho (PSB), cancelou encontro que teria na manhã de ontem com líderes comunitários do complexo da Maré.
Rosinha já estava indo para a favela Nova Holanda quando recebeu a ligação de um dos líderes pedindo que não comparecesse, pois havia perigo e um protesto estava sendo planejado.



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